Projeto documenta as casas de madeira de Serra Pelada e os vestígios da época do garimpo

Dupla mostra como estão as casas da vila criada durante a explosão de garimpeiros em Serra Pelada

Vito Gemaque
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Os vestígios do tempo deixados nas casas de madeira na região de Serra Pelada, no município de Curionópolis, sudeste do Pará, são o objeto de investigação da artista visual Cinira d’Alva e do fotógrafo Marcelo Barbalho. Os dois desenvolvem projeto que visa despertar uma outra memória de Serra Pelada, o garimpo que surgiu no início da década de 1980 e arrastou multidões para uma região próxima a Marabá, no interior do Pará. Pela fotografia os dois mostram o que da época do garimpo ainda sobrevive em Serra Pelada.

Ao visitar o local, observaram a existência de casas de madeira, boa parte delas abandonadas, caindo aos pedaços, mas algumas ainda ocupadas por garimpeiros, que exprimem a nostalgia de uma vida de aventura, todos os dias iluminada pela esperança da fortuna. O resultado é um conjunto de trinta fotografias, que podem ser vistas em uma página na rede social Instagram (@as_casas_de_madeira). O projeto, intitulado “As casas de madeira continuam de pé, ainda”, recebeu o Prêmio de Incentivo à Arte e à Cultura, da Fundação Cultural do Pará (FCP).

"A ideia de fotografar as casas de madeira de Serra Pelada é um desdobramento de um projeto de pesquisa que desenvolvo há dois anos na Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), onde trabalho como professor no curso de Jornalismo. Minha pesquisa parte do pressuposto de que existe algo de inquietante na produção fotográfica sobre Serra Pelada: a pequena presença (ou quase ausência) da vila que se formou próxima ao garimpo, com seus barracos de madeira e ruas cobertas de poeira. Considero que houve pouco interesse dos fotógrafos sobre o povoado que, apesar de exercer a função de centro comercial no processo de extração do ouro, foi praticamente ignorado pelos profissionais”, afirma Marcelo.

A artista visual e arquiteta, Cinira d’Alva destaca a relevância dos imóveis para o patrimônio histórico da região. “As casas, ou em alguns casos o que sobrou delas, são um arquivo a céu aberto, vestígios materiais da primeira ocupação de Serra Pelada. No entanto, parecem condenadas a sumirem, atropeladas pela ação do tempo ou pelas transformações urbanas. Daí a importância desse trabalho que visa, em alguma medida, chamar atenção para a necessidade de preservação das casas de madeira, que também apresentam um traço distintivo da arquitetura da Amazônia”, afirma.

A pesquisadora ressalta que o interesse pelas casas envolve o contexto complexo onde se insere essa arquitetura. “Eu nunca havia visto fotos da vila de Serra Pelada e imaginava os garimpeiros morando em algo como acampamentos ou conjuntos habitacionais oferecidos pelo governo militar, pois sabia da disciplina imposta aos garimpeiros durante a gestão do major Curió”, destaca.

Para ela, uma das características das casas é que elas não somente se adequam à paisagem como são feitas da mesma matéria-prima. "Quando ela cai, apodrece e volta a ser matéria. O impacto é mínimo, como a casa de um ribeirinho, a casa de um sertanejo, a casa de um seringueiro. É a casa de alguém que detém o conhecimento de fazer com o necessário, e isso, naturalmente, resulta em beleza”, assegura.

O professor Marcelo Barbalho que visitou duas vezes Serra Pelada registrou cerca de 100 casas de madeira. “Boa parte delas caindo aos pedaços”, relata. “Para mim as casas indicam um passado de luta, ação e aventura. Ao mesmo tempo são vestígios dessa epopeia. Elas transmitem melancolia, a ausência do homem, a saudade da ação”, reflete.

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