CONTINUE EM OLIBERAL.COM
X

Poeta Bruno de Menezes coloca Belém como referência do modernismo

Paraense morreu há 58 anos, mas sua obra e o mítico endereço – João Diogo, 26 – ainda são partida e chegada de ações estéticas e políticas contemporâneas

Edir Gaya - Especial para O Liberal
fonte

Belém é uma das capitais referenciais do Modernismo brasileiro”, afirma o poeta Paulo Nunes, professor doutor da Universidade da Amazônia (Unama) e estudioso da chamada lusografia, que envolve escritores africanos de Língua Portuguesa e os chamados afroparaenses, como Bruno de Menezes, cujo falecimento há 58 anos foi lembrado ontem, 2. “Para a maioria dos não nascidos aqui, somos a região do exótico, da solidão, da não inteligência”, diz Paulo Nunes, ao ressaltar o papel do “babalaô da nossa literatura” - como o escritor Dalcídio Jurandir se referia a Bruno de Menezes - para a modernização de Belém.

“Bruno e os Vândalos do Apocalipse, depois integrantes da Academia do Peixe Frito, abalaram o provincianismo da capital do Pará, a partir dos anos 20 do século passado, ação etílico-irreverente e propositiva que perdurou até os fins dos anos 50 do século passado”, diz o professor, que em 2016, junto com a também professora doutora Vânia Torres, da UFPA, iniciou uma pesquisa sobre o grupo que, segundo ele, “redesenhou a republicanidade no extremo Norte do Brasil, agrilhoado pelo cânone literário europeu”.

Ele lembra, por exemplo, o Bruno baudelairiano em “Bailado Lunar”, de 1923, livro em que a modernidade, ainda marcada pelo Romantismo, é um fato: “cinema, luz elétrica, a mulher inserida no explorador mercado capitalista de trabalho”. Depois, o livro que Paulo classifica como “uma hecatombe contra o racismo”: “Batuque”, inserido no volume de “Poesias”, de 1931.

“Nossos estudos apontam para uma ação política e estética em que a Academia do Peixe Frito proporcionou o protagonismo a pretos, cabocos, indígenas e migrantes, os deserdados da era da Borracha”, assinala Paulo Nunes.

Bruno, com Tó Teixeira, De Campos, Jaques Flores, Rodrigues Pinagé (e mais tarde, Dalcídio Jurandir, moço recémchegado do Marajó), fizeram das baixadas, subúrbios, trapiches, feiras, mercados e botequins, seus pontos de saída e chegada, observa o professor.

Paulo lembra os estudos de Alonso Rocha e Salomão Larêdo, que apontam a frequência do grupo aos cafés parisienses da cidade, mas acentua que eles gostavam mesmo era de aprender no meio dos canoeiros, feirantes e embarcadiços do Ver-O-Peso, conforme constatam os relatos das filhas de Bruno e de dona Francisquinha, Marília Menezes e Lenora Menezes Brito.

Ele observa que, ao esquadrinhar as baixadas de Belém, os peixefritanos inventaram uma nova fisionomia da cidade, que priorizava o Jurunas, o Guamá, o bairro de São João (atual Telégrafo), a Vila da Barca, a Campina e a Cidade Velha. “Seus passos de intelectuais pobres e de periferias estão marcados como pegadas lúdicas no mercado do Ver-O-Peso, no bar Águia de Ouro, na garagem náutica do Club do Remo, no bar Barbinha, e na Casa da João Diogo, 26, talvez o mais importante endereço do primeiro Modernismo paraense”.

JOÃO DIOGO, 26

O registro de parte significativa da movimentação modernista do endereço mítico está registrado no livro “Memorial de Bem-querências: um canto para a Cidade Velha de Bruno de Menezes” (Unama/Cria, 2020), de Marília Menezes, poeta e jornalista, hoje residente em Manaus. “Ali Marília registrou suas memórias com seus pais e irmãos”.

Paulo Nunes nota que toda cidade importante, como a capital do Pará, tem seus endereços literários. “Por isto celebrar a morte de um autor nunca foi tão importante, pois o Brasil atual que está formatado no poder é misógino, racista, eivado de todos os tipos de intolerâncias e preconceitos. Bruno, a Academia do Peixe Frito e parte de nosso Modernismo, ainda hoje, faz frente a este Brasil minúsculo”, assinala.

Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱
Cultura
.
Ícone cancelar

Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo!

Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é.

Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos.

Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado!

ÚLTIMAS EM CULTURA

MAIS LIDAS EM CULTURA