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Leia a última crônica publicada por João Carlos Pereira no jornal O Liberal

A parte final do texto foi escrita a mão quando ele já estava na UTI e encaminhada para a filha digitar e encaminhar ao jornal

Ao Senhor, meu Pai, e a Nossa Senhora

João Carlos Pereira

Senhor,

O coronavírus é tão do mal, me levou, além das forças, do ânimo, da coragem, da saúde, parte das palavras que uso para rezar.

Quando a oxigenação diminui e os sentidos me faltam, aproveito a privação do sentir para me ligar mais intimimante com o Senhor e com Nossa Senhora de Nazaré.

Na hora incerta, penso não no Crucificado, mas no Amigo sentado na beira do poço de Jacob, sendo servido ela samaritana. Ou então quando repousava no barco submetido à violência das  ondas. Eu sou o barco sacudido pela maré da vida.

Meu Pai,

sempre me achei superior à pandemia e julgava que, por não andar de ônibus (embora, no domingo do Círio, tenha pegado carona em um), não me expor por aí (e o Ver-o-Peso, acaso, não é por aí? O Mercado de Carne também está livre de riscos?)

Pensei, meu Deus, que por me alimentar bem conseguiria driblar esse amaldiçoado.

A prepotência é algo de que o diabo gosta. Aliás, ele aprecia tudo que não presta e sabe posicionar seu exército em lugares aonde eu vou: o banco, a feira, o supermercado e até a um barzinho amigo para comer peixe frito.

Não estou me penalizando por haver tentado uma vidinha normal, ao lado de amigos a quem muito amo e que, felizmente, vão conseguindo driblar o maldito.

Senhor,

as lições de humildade e de consciência do nada que sou mostram que estou longe de ser o que achava que era e mais perto da minha pobre verdade.

Essa é minha prece, Senhor, que faço diante do teclado, numa hora de sossego, com Nossa Senhora direcionando meus dedos, porque não duvido de sua ação na minha vida, quando dEla mais preciso.

Meu Pai e minha Mãe

Nas ocasiões de maior aperto, consigo senti-La pousar, como uma pequena Ave-Maria repousando, docemente, sobre meu corpo fatigado e débil, preso a respirador artificial e submetido, constantemente, a aparelhos.

Obrigado, Senhor, pelos amigos que rezam por mim e que velam ao meu lado, sobretudo pela Mariana, minha filha, e Emilia, minha mulher, que deixaram brotar suas asas de anjo e não me deixam um segundo sequer.

Quero aproveitar a paz e pedir um pouquinho por quem precisa mais do que eu, porque, não tenho dúvida, há gente sofrendo infinitamente mais do que este seu pobre filho no limite da ingratidão e do medo. Mas agora pleno de confiança.

Obrigado, meu Pai e minha Mãe.

Bênça!

Amém!

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