Henrique Montagne, com mostra "Invertido", apresenta o universo do artista queer da Amazônia

Artista queer abre exposição individual na próxima quinta-feira (16), na Casa das Artes, em Belém e é destaque da arte contemporânea no Norte do Brasil

Victor Sampaio

De acordo com o dicionário, invertido significa "virado ao contrário, oposto ao que é natural, deslocado". O termo usado para discriminar pessoas LGBTIQA+ denomina a mostra de Henrique Montagne, que estreia na quinta-feira (16), em Belém, Pará. Na mostra, o artista paraense apresenta seu universo queer, embasado na cultura pop como ferramenta de sobrevivência e construção identitária, desde a infância, passando pela adolescência até a fase adulta vividas na periferia da Amazônia, e a partir da memória particular faz um dispositivo para narrar a trajetória coletiva de corpos LGBTQIA+ na virada para o século 21.

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A mostra é composta por diversas linguagens, como desenho, pintura, vídeo e colagem. O trabalho do artista foi contemplado pelo Prêmio Branco de Melo, da Fundação Cultural do Pará, por meio do Governo do Estado via Secretaria de Cultura do Estado do Pará, com apoio da Maxcolor e Amazonique, e realização da Kuya.

Na exposição, Montagne transforma a imagem em um gatilho estético e político contra a normatividade "moral" do patriarcado - o mesmo que reuniu ciências, religiões e filosofias para listar "desviados", "pervertidos" e "invertidos". Nas obras, o "quebra-cabeça" que constitui a psiqué queer tem como peças os Ursinhos Carinhosos, Castelo Rá-tim-bum, filmes como Homem-Aranha e bonecos Max Steel que se beijam.

Segundo o pesquisador e professor do Instituto de Ciências da Arte da UFPA, Afonso Medeiros, "Henrique revisita os clichês sobre a masculinidade corrosiva enquanto, paradoxalmente, agencia essa mesma masculinidade como fetiche para certas camadas das chamadas sexualidades dissidentes. Inverte (ou perverte), na suposta inocência disneyficada da infância, os índices da injúria sobre gays e queers, instalando sua poética (e seus chifres profanos) num fio de navalha estendido (e tensionado) entre o kitsch e o pop, entre o 'bom' e o 'mau' gosto - pra fora e acima da manada, como diria Caetano". Afonso assina os textos críticos da mostra ao lado de Álvaro Seixas, doutor em Linguagens Visuais e professor da Escola de Belas Artes da UFRJ.

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Montagne, um dos destaques da cena contemporânea da Amazônia, integrou este mês uma exposição coletiva de arte queer em Portugal, e foi indicado, em 2022, ao prêmio PIPA, um dos mais importantes do Brasil. A primeira exposição individual de Henrique, "Suaves Brutalidades", ocorreu em 2021. Desde então, as obras do artista já circularam por salões, prêmios e exposições no Brasil e no exterior, como o Thessaloniki Queer Arts Festival (Grécia, 2021) e Do Write [Right] To Me (EUA, 2021).

Segundo Henrique, a proposta da mostra Invertido surgiu de forma espontânea quando ele abriu a primeira mostra individual, Suaves Brutalidades, em 2021. "Eu já tinha pronto a série "Carreiras", desenhos de figuras masculinas que estão vestidas com trajes ligados a boas carreiras no mundo masculino padrão e normativo. Eu sabia que queria trabalhar com o início de tudo, queria explorar a raiz do problema, questões que estão associadas às nossas construções como sujeitos queer, gays e pertencentes a comunidade LGBTQIA +", declara o artista.

Depois do difícil processo de conceber Suaves Brutalidades, e com a censura e o cancelamento da exposição pelo antigo patrocinador, até ser acolhido e exibido na Casa das Onze Janelas, Montagne teve que ter um momento para parar, refletir e se tranquilizar. "Minha saúde mental estava totalmente destruída, eu sabia que havia pessoas que acreditavam no meu trabalho, que gostavam de mim como pessoa, mas tanto as que gostavam, quanto as que não gostavam, não percebiam minha fragilidade no momento", declara Henrique.

O artista foi para o Rio de Janeiro e na capital carioca começou a trabalhar em uma nova exposição. "O Rio me trouxe amadurecimento, paz e um renovo para a vida, tive a oportunidade de ter um pequeno atelier no apartamento no qual morava. Era um espacinho onde eu podia concentrar as coisas, me dedicar ao trabalho com arte, e quando eu me vi, eu estava escrevendo uma exposição", disse o artista.

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Segundo Montagne, faltava algo mais sincero na nova exposição. "Sempre trago sinceridade pra tudo que eu produzo, não gosto de nada pré-moldado ou formulado. Foi quando eu voltei pro Círio em outubro de 2022, pagar minha promessa, reencontrar minha mãe. Revisitei meu quarto e atelier antigos, e reencontrei vários desenhos que havia deixado em uma pasta, lá estava a série Carreiras", disse Henrique.

De acordo com Montagne, a série Carreiras foi uma oportunidade de buscar algo guardado com carinho, agora de forma mais objetiva, madura e leve. "Daí fui fazendo a Invertido de forma mais leve, vivendo o processo, amando, estacionando, oscilando, refletindo e entendendo tudo o que eu vivi até chegar hoje, a trabalhar com muito esforço nas artes visuais", finaliza o artista. 

(Victor Sampaio, estagiário sob supervisão da editora web de OLiberal.com, Mirelly Pires)

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