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Criador do São Paulo Fashion Week, Paulo Borges defende a cultura amazônica na moda

O estilista afirma que Mário de Andrade é uma inspiração quando o assunto é a cultura brasileira e seu reflexo na moda

Bruna Dias

Paulo Borges, o criador do São Paulo Fashion Week é uma das maiores referências brasileiras quando o assunto é moda. Mudando há décadas o conceito no setor, ele fez com que a moda se tornasse algo para além da vestimenta. Há anos, o estilista tem revolucionado o mercado e valorizado de forma poética todo o entorno que envolve o setor no Brasil.

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Em Belém, Paulo Borges chega para colocar em prática um projeto que envolve a essência do Pará e Amazônia: cores, cheiros e ritmos. Com ênfase na poesia da singularidade que tem a cultura local, ele defende um novo conceito de moda na Amazônia, inspirado na rotina local e com foco nas pessoas.

“Eu começo a ideia desse projeto em dois trechos de Mário de Andrade que é uma pessoa que ficou apaixonada por Belém. Ele narra Belém sob a ótica da alma das pessoas, que é uma coisa que só aqui ele encontrou. Essa opulência, efervescência, exuberância, alquimia que envolve cor, sabor, aromas, pessoas. Onde a pessoa é a grande responsável por essa alquimia, então é um pouco que eu quero trazer, é um pouco dos projetos que a gente já está tratando aqui pelos próximos anos. Essa riqueza única que Belém tem, porque isso é construir um conceito de moda, é construir um ecossistema a partir de tudo aquilo que existe. Você tem que tirar de dentro para que seja desejado no coletivo/externo”, disse Paulo Borges.

A referência a Mário de Andrade é ao livro “O turista aprendiz”, que relata as viagens de Mário de Andrade em 1927, quando o escritor passou por Belém, com roteiro iniciado e finalizado em São Paulo.

Há mais de quatro décadas trabalhando com moda, Paulo Borges é um visionário, com referências populares. Durante toda a sua trajetória ele pensa além de lugares comuns. Ao vivenciar pessoas, lugares e culturas, Paulo Borges aproveita para conhecer cada detalhe dos diversos povos mais a fundo e, com isso, ele produz um trabalho de valorização de lugares e dos seus povos.

“Hoje você tem muito mais protagonismo na moda. Mais visibilidade para os processos. Eu trabalho com moda há 42 anos, antes tinha uma visão muito eurocêntrica, não só da forma, mas como do meio. Com um país de economia fechada, hiperinflacionário, você não tinha para onde ir ou como fazer, isso tudo começou a mudar, o que impulsionou muito. Moda é economia e política. Quando o país começa a mexer nisso e a moda começa a se movimentar nesse sentido, ela cria uma dinâmica com um ecossistema que se desenvolve em cadeia”, pontua o profissional.

Com a evolução dos meios de consumo de moda, principalmente com o avanço tecnológico, na palma das mãos existem diversas possibilidades. Para Borges, o processo criativo entrou nesse universo e o consumo tornou-se mais exigente.

Quando falamos sobre Belém, Pará e Amazônia, Paulo Borges destaca que há anos vem desbravando cheiros, sabores e cores locais, assim como faz por diversos lugares que passa. “Eu penso que Belém conseguiu isso com a música e gastronomia, muito mais forte do que com a moda. Mas com a moda é o mesmo sentido. A gastronomia do Pará é uma das mais sofisticadas do mundo. A música, que é um encontro, uma mistura, também é uma das mais sofisticadas. E porque não a moda? Se tudo faz parte do mesmo tripé, é só uma questão de como você conecta as pessoas, os agentes, os atores, mas em um processo com foco de transformação, aí entra tudo, educação, formação, inclusão, sem isso, do todo para o todo, não existe mudança”, conta.

Mesmo com uma carreira sólida e com projetos de sucessos, Paulo Borges vê diversas possibilidades no meio da moda, principalmente no período pós-pandemia, que trouxe uma forma de consumo mais exigente e também de experimentos. Mas, o estilista também vê mudanças nas formas pré-definidas de moda. Paulo Borges acredita que o público está mais preocupado em consumir peças com responsabilidade. Além disso, ela destaca a atenção que as pessoas têm dado ao processo de confecção, desde o tecido, costura, distribuição, dentre outros

“Para mim a moda nunca está pronta, eu falo que é um processo. Vai fazer 30 anos de SPFW (São Paulo Fashion Week ). Acredito que para entendermos o que foi feito nesse tempo é preciso esperar mais 30 anos, para que as próximas gerações possam dizer se foi conquistada uma moda brasileira, feita no Brasil, com processo criativo brasileiro, com inspiração brasileira, conhecimento artesanal brasileiro. É algo bem amplo, não é só o designer final que importa. Acho que a concepção mudou muito e, sem dúvida nenhuma, eu criei um divisor de água nesse sentido, mas acredito que ainda é um processo. Para mim, é preciso termos pelo menos uma ou duas gerações pela frente para que isso seja avaliado”, sinaliza.

O reflexo desse pensamento que não é estático e que está sempre em evolução pode ser visto na consolidação dos anos de sucesso do São Paulo Fashion Week. “Quando eu comecei, tinha uma característica muito específica no mundo: havia poucas semanas de moda no mundo e em poucos lugares. Aí o SPFW surgiu furando a bolha. Eu já pensava há mais de 30 anos como penso hoje. Eu comecei a executar há 30 anos, mas já pensava há 36 anos, porque eu falava: 'não tem que ser assim' . A gente fala há muito tempo em unir os Brasis porque são muitas riquezas muito específicas. São muitas características que pouquíssimos países têm. São de natureza única”, conclui.

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