A cabanagem do cenário cultural encabeçada pela Psica Produções

Com a maior edição de seu festival batendo à portal, produtora paraense mostra potência da arte produzida nas periferias, assim como a necessidade em refletir sobre o futuro delas

Lucas Costa
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Movimento de guerrilha ou nova cabanagem, é fato que o Psica vem fazendo revolução no cenário cultural da capital paraense nos últimos anos. Com a maior edição de seu festival batendo à porta, o Psica Produções tem à frente os irmãos Gerson Junior e Jeft Dias, que tocam uma empresa com objetivos que vão além de fazer o som da noite.

Hoje também selo que gerencia a carreira de uma série de artistas majoritariamente negros de comunidades periféricas da Região Metropolitana de Belém, o Psica vai além do estúdio, mostrando a potência que há na música produzida por aqueles em quem os investimentos culturais chegam com bastante dificuldade.

Gerson conta que o Psica nasce de um cenário underground, onde o ‘faça você mesmo’ era regra. Com o crescimento do Festival Psica inicialmente, que tinha como mote trazer para o centro da cena os artistas negros e periféricos, os produtores viram a necessidade de profissionalização não apenas de artistas, mas de toda a cadeia produtiva que cerca este trabalho.

“Quando vimos que precisávamos de um formato maior, quando saímos desse patamar, vimos o quão importante era ter essa profissionalização, o quão importante era ter uma galera da perifa, uma galera que nunca teve acesso a isso: como produzir um evento um festival uma festa, como era importante chegar e capacitar todo mundo. Imagina se a gente tivesse cinco festivais do porte do Psica, do Se Rasgum em Belém, os holofotes que iriam virar para cá, as coisas que a gente conseguiria atrair”, reflete Gerson.

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A Psica Produções - que no próximo final de semana realiza a maior edição de seu festival de música, tendo como headliners nomes como Elza Soares, Chico César, Karol Conká e o Gigante Crocodilo Prime - também é um selo musical, que gerencia carreiras de artistas majoritariamente negros e vindos das periferias da Grande Belém. Entre esses nomes estão Daniel ADR, Arthur da Silva, Sumano, Kratos e Nic Dias.

“A gente acredita que esse fomento da cena vem da periferia. Periferia é o meio mais diverso, mais plural que a gente tem. Temos essa ideia de capacitar a periferia, pois a periferia tem que vir e tem que ser protagonista, e esse é nosso denominador comum”, defende Gerson.

Nic Dias - uma aposta para o rap nacional

image Nic Dias (Tuyuka Lara/Divulgação)

Em meio a esse trabalho, o Psica já vem colhendo alguns frutos. A rapper Nic Dias, atualmente a artista mais ouvida da produtora, conquistou recentemente uma grande projeção com o lançamento do seu primeiro EP, “1999”. Com destaque na Folha de São Paulo e participação em programas importantes para os artistas do rap brasileiro como o Brasil Grime Show, Nic também ganhou em dezembro o prêmio de Aposta 2022 do site Inverso Rap.

Com uma carreira que iniciou com pequenas participações em shows, em 2018, ela conta como a parceria com o Psica mudou o rumo da profissão. “Foi um divisor de águas para a minha carreira, porque passei a trabalhar profissionalmente, alcançando lugares que eu não iria conseguir fazer sozinha, porque é muita coisa para uma menina de 22 anos, que na época tinha 19. E o Psica trouxe esse recurso, assistência e essa base, que para mim, todo artista deveria ter”, diz. 

Mesmo com a grande projeção, Nic ainda não consegue trabalhar exclusivamente com música. Essa não é uma realidade apenas sua, mas de muitos artistas com uma base parecida. É no sentido de contrariar esta realidade, criando uma rede de profissionais que tornem cada vez mais rentável e autossuficiente a cena cultural das periferias, que entra o trabalho da Psica Produções. 

“A cena local do rap e hip hop ainda não se auto sustenta. A gente ainda não tem shows suficientes, por exemplo. Não tem recurso suficiente, estrutura para se manter só com shows, streaming e essas coisas. Então a gente acaba precisando fazer outros trabalhos, e como isso é difícil”, conta Nic.

O trabalho é conjunto, e envolve uma série de profissionais que são importantes para o trabalho dos artistas. Gerson conta que o primeiro passo é fazer com que estes artistas entendam a necessidade de envolver outros profissionais nos processos, como fotógrafos e assessores de imprensa, por exemplo. 

Mas toda essa revolução, que leva a uma projeção cada vez maior, só existe com investimento. O diretor do Psica destaca a dificuldade em adentrar outros eixos, que ajudam em projeção, mas necessitam de investimento para chegar até lá. 

“Todas essas questões de precisar muito de investimento a gente esbarra em outra parada: vivemos no Norte. E para adentrar esse eixo Sul e Sudeste, que dão uma projeção, tem que ter um investimento. Então é um ciclo vicioso; não tem investimento e não consegue entrar, mas para ter investimento precisa se destacar. Atualmente temos feito isso por meio de editais de captação, como Natura e Aldir Blanc, por exemplo”, explica.

Batekoo - visibilidade para pessoas negras que ultrapassa fronteiras

Uma narrativa parecida com a do Psica, que vem desde a insatisfação em não ver a comunidade negra representada na noite, e vai até a percepção da falta de profissionalização dessas pessoas, é da Batekoo - festa que nasceu em Salvador (BA). Mauricio Sacramento, o Fresh Prince da Bahia, diretor criativo e fundador da Batekoo, relembra que a festa nasce da vontade de criar um ambiente para pessoas pretas e LGBTQIA+ na noite da capital baiana.

Atualmente, a festa tem frentes que ultrapassam Salvador, chegando a São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte e mais. A Batekoo também é um selo, que tem atualmente nomes como Deize Tigrona; além de ter também um projeto educacional chamado Escola B, que capacita jovens negros de periferia.

“Um dos nossos maiores valores é trabalhar somente  com pessoas negras, não só na frente das câmeras, mas nos bastidores também. Então em algum momento a gente percebeu uma carência de pessoas pretas realizando diversas funções, e a gente precisava para realizar eventos e fazer os trabalhos que fazemos hoje. Foi por isso também que investimos na Escola B, para poder formar principalmente pessoas que às vezes a gente precisa contratar e a gente não encontrava com facilidade no mercado”, conta Maurício.

Fresh Prince da Bahia e Deize Tigrona são atrações do Festival Psica 2021, que abre seus shows musicais na sexta-feira, 17.

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