Criminosos da Rocinha cobram até R$ 100 mil por mês para esconder bandidos, diz jornal
Estimativa das autoridades é de que os criminosos da favela estejam faturando até R$ 12 milhões mensais, sendo mais com extorsões do que com a venda de drogas
Criminosos de Goiás, Ceará, Espírito Santo e Amazonas usam a Favela da Rocinha para se esconderem da polícia. Eles pagam taxas que chegam a R$ 100 mil por mês aos traficantes locais. O dado é um levantamento feito pelo jornal “O Globo” junto de investigadores da Polícia Civil, que estimam que os criminosos da favela estejam faturando até R$ 12 milhões mensais, sendo mais com extorsões do que com a venda de drogas.
Ao periódico, fontes relataram que a taxa de “hospedagem” imposta aos bandidos de fora do Rio varia entre R$ 50 mil e R$ 100 mil e seria cobrada por Delson Manoel, conhecido como Salomão, um dos chefes do Complexo do Alemão, favela também dominada pelo Comando Vermelho.
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Em 2023, as autoridades policiais identificaram que os traficantes Anastácio Paiva Pereira, conhecido como “Paizão”, “Doze” ou “Paulinho Maluco”, de 33 anos, do Ceará, e Kaio César Alves Ferreira, que tem como apelidos “Barney”, “Tio K” e “Heisenberg”, também de 33, de Goiás, estavam escondidos na Rocinha.
A Subsecretaria de Inteligência da Polícia Militar informou ao O Globo que Pereira comanda o tráfico de drogas no sertão do Ceará, nos municípios de Santa Quitéria, Hidrolândia, Varjota, Reriutaba, Ipu, Ipueira e Guaraciaba do Norte. Já “Tio K” é acusado de chefiar uma quadrilha responsável por traficar drogas e cometer assassinatos de integrantes de grupos rivais em Goiânia.
A polícia levantou que essa dupla estaria controlando suas bases e o tráfico de drogas diretamente da Rocinha (em alguns casos, de outros esconderijos da facção criminosa na Zona Sul do Rio). A investigação policial também apontou que os traficantes da Rocinha, além das cobranças ilegais, estariam assumindo bares, restaurantes, lojas de roupas, locais de festas e salões de beleza dentro do morro.
Ainda conforme a reportagem do Globo, para garantir a propina exigida pelos criminosos, houve o aumento no preço de determinados produtos. Um botijão de gás custa R$ 140 na Rocinha. O mesmo item é vendido até R$ 30 reais mais barato em certas localidades da Zona Norte e Sul do Rio. O sinal clandestino de televisão a cabo, conhecido como “gatonet”, recebido por 70% das casas, sai a R$ 100 mensais por família. E os planos mais baratos de internet custam R$ 99. De acordo com o Censo 2022, do IBGE, na Rocinha moram 67.199 pessoas, 2,8% abaixo da população registrada em 2010.
A matéria fala que o medo de vingança impede que moradores façam denúncias. Só no ano passado, 11 registros de extorsão foram feitos na área da 11ª DP, na Rocinha. Desde 2014, quando começou a série história, foram 38 casos na região.
A estimativa da polícia é de que o faturamento da quadrilha na favela varie entre R$ 10 milhões e R$ 12 milhões por mês, incluindo a venda de armas e a “hospedagem” de bandidos de outros estados, além das demais atividades ilegais. Desse total, de R$ 2 milhões a R$ 3 milhões seriam com venda de drogas.
Atualmente, John Wallace da Silva Viana, o "Johny Bravo", do Comando Vermelho, lidera a Rocinha. Ele, conforme a reportagem, é o braço direito de Rogério Avelino da Silva, o "Rogério 157", chefe do Vidigal e da Rocinha, que está cumprindo pena em presídio federal. Outro homem considerado poderoso e temido na favela é conhecido como Goiabada. O traficante Antônio Francisco Bonfim Lopes, o "Nem", da facção Amigo dos Amigos (ADA), que controlava a Rocinha antes de Rogério 157, está preso desde 2011 e não tem mais poder algum na comunidade.
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