Aniversário de Belém: comunidades democratizam acesso à leitura com bibliotecas

Espaços promovem a leitura e proporcionam maior alcance à educação, em Belém

Natália Mello

A luta por acesso a direitos básicos a comunidades carentes, garantidos pela Constituição Federal, levou à criação do Gueto Hub e diversos outros grupos que atuam pela promoção da leitura e pelo acesso à educação, em Belém. Inaugurado no dia 29 de maio de 2021, o espaço conta com o trabalho de 15 voluntários, unidos por um só propósito: fazer do conhecimento um guarda-chuva de proteção às mazelas sociais aos quais são submetidos os moradores da periferia, deixados, historicamente, à margem de políticas públicas.

O jovem Jean Ferreira da Silva, de 28 anos, é um dos responsáveis pelo prédio, que fica na travessa Quintino Bocaiúva, quase na esquina com a avenida Roberto Camelier. O engenheiro cartográfico explica a necessidade dessa biblioteca estar sediada bem no centro da capital paraense. “Precisamos ocupar todos os lugares, mas ocupar/ consumir/ conhecer / ser o nosso território deve ser uma prioridade para o fortalecimento local, principalmente as periferias, que sofrem com a especulação imobiliária, que vai nos expulsando para periferias cada vez mais distantes do centro. Essa também é uma forma de retomar ou preservar espaços de constante agrupamento de vizinhança, o que ajuda na preservação da memória e da identidade coletiva”, pontua.

A iniciativa surgiu a partir da experiência de Jean, que, sem recursos, acessava livros por meio dos empréstimos ou comprando em sebos. Com esses espaços localizados no centro da cidade, distantes de onde ele morava, veio a ideia de criar um espaço no bairro onde ele vivia, no Jurunas. Em agosto de 2020, foi iniciada uma reforma para a inauguração do Gueto Hub, no outubro seguinte contemplado por um edital da ONG Nossas, do Periferia que Faz. Foi quando o sonho de inaugurar a biblioteca começou a ser possível, com a aquisição de móveis.

“Era a única coisa que não conseguíamos fabricar, pois o piso e a reforma foram todos feitos em madeira pelo meu pai, Gerson Willys, e sua equipe. Ele que idealizou o projeto da biblioteca, mas faleceu em março de 2022. Na época, o projeto tinha o apoio da minha família e mais dois amigos. Hoje, contamos com 15 voluntários, pois o Gueto Hub não tem fins lucrativos. Existe um café que é ocupado pelo Quintal das Baristas, o aluguel delas ajuda a pagar as despesas do lugar e a movimentá-lo”, detalha.

A casa onde funciona a biblioteca foi sede da Associação dos Moradores da Quintino, na década de 90. Ou seja, sempre foi usada de forma comunitária. Se antes o local era palco de reuniões que levariam às autoridades demandas por pavimentação e iluminação, hoje a luta passou a ser por cultura e arte. “Não sabemos qual será o futuro da casa daqui a algumas décadas, mas desejamos que sempre permaneça de forma coletiva.

image A Biblioteca Pública Municipal Avertano Rocha, além de um espaço de leitura, é patrimônio histórico de Belém (João Gomes / Comus / Arquivo)

Biblioteca pública acolhe leitores em distrito de Belém

A comunidade que vive em Icoaraci, distrito de Belém, conta também com uma biblioteca que atende moradores de diversos bairros periféricos da capital paraense, como Benguí, Tapanã e Tenoné. Aos 52 anos, o arquiteto e urbanista e também professor, Carlos Gonçalves, afirma que todos os órgãos públicos deveriam atuar de forma conjunta com a sociedade para que espaços de democratização do acesso à leitura funcionem e atendam à população.

É o caso da Biblioteca Pública Municipal Avertano Rocha (BPMAR), que ele atuou como diretor. De acordo com Carlos, desde de a década de 90, o espaço mantém relações muito sólidas com a comunidade, em especial com os movimentos culturais. Prova disso é a própria restauração do prédio onde funciona, possível mediante ação movida pela comunidade cultural junto ao Ministério Público do Estado do Pará.

Com a parceria, a biblioteca é sede de diversas programações culturais de fomento à leitura e de acesso à produção cultural, além de ser palco de construção coletiva das atividades culturais mensais, de apresentações de grupos e artistas e mobilizações sociais para defesa dos projetos que objetivam o crescimento institucional, a modernização dos ambientes, a ampliação das ações culturais e a melhoria dos serviços prestados à comunidade pela BPMAR.

Carlos integra a Associação Amigos da Biblioteca Avertano Rocha (AMAR). “Para além da participação social, é fundamental que as bibliotecas sejam abertas, democráticas, criativas e inclusivas, uma biblioteca do povo para o povo. A leitura dos livros leva à leitura do mundo que, por sua vez, leva a transformação da sociedade. Para tanto, esses espaços precisam alcançar todas as camadas sociais, emergencialmente, às comunidades da periferia das cidades. Nesse sentido, as bibliotecas precisam trazer as pessoas até ela e ir até às pessoas, onde quer que estejam. Daí, a necessidade da participação social e dos projetos de extensão como: Agentes de Leitura, Barco e Ônibus Biblioteca”, diz.

Ou seja, para Carlos, assim como o fortalecimento da rede municipal de bibliotecas com incentivo governamental sistemático às bibliotecas criadas e coordenadas pela população, “as Bibliotecas Públicas, passam a ser centros de referência, de trocas de experiência e de reprodução de práticas exitosas de fomento à leitura, incremento da produção literária e de acesso aos bens culturais”, finaliza.

 

Conheça algumas iniciativas de literatura nas periferias de Belém

Gueto Hub

O Gueto Hub possui uma galeria de arte, com exposições e visitas guiadas; biblioteca, com espaço de leitura, contação de histórias e empréstimo de livros; museu, que inclui pesquisa, produção audiovisual, exposição e acervo itinerante; coworking, onde há espaço de convivência, palestras, oficinas e sala de reunião, além de internet livre e tomadas disponíveis; e um café e quintal, com área verde de convivência e alimentação.

image Flávio Lauande e a geloteca 'Maria da Penha', no bairro do Mangueirão. (Cristino Martins- O Liberal)

Rede de Gelotecas Comunitárias Pará Ler

A iniciativa busca alcançar crianças em situação de vulnerabilidade, mudando o olhar delas e tornando os livros cada vez mais democráticos. O projeto começou a ser idealizado em 2019, mas foi apenas em agosto de 2020, no meio da pandemia da Covid-19, que a primeira geladeira reciclada foi inaugurada. Atualmente, são cerca de 20 delas customizadas em diversas cidades do Pará, como o município do Acará, chegando a atender mais de mil crianças são atendidas diariamente.

image A professora Marcela e as casinhas literárias (Reprodução: Redes Sociais)

Casinha Literária

Possibilitar que o maior número possível de pessoas tenha acesso a livros é um dos principais objetivos do projeto. Há quase um ano em ação em alguns pontos de Belém, a iniciativa realiza campanhas de arrecadação de livros pelas redes sociais e distribui entre as ‘minibibliotecas’. O intuito é democratizar a leitura e, por meio de uma rede solidária, levar educação a pessoas de todas as idades. Para realizar doações de livros, acesse as redes sociais da professora Marcela Castro. Pode ser encontrada na travessa Castelo Branco, no Comando Geral do Corpo de Bombeiros do Pará e, em Santa Izabel do Pará, a casinha de livros fica no Colégio Antônio Lemos. Além desses locais, brevemente o projeto será estendido e irá instalar outras três “minibibliotecas” em bairros da capital paraense.

 

Espaço Cultural Nossa Biblioteca

Localizado no bairro do Guamá, periferia de Belém, esse espaço concretiza a proposta da fundadora do estabelecimento, a missionária católica holandesa Madalena Westerweld, de facilitar o acesso de crianças, adolescentes e adultos à leitura. O resultado é comprovado pela história de vida: Minéia Neíta, que, aos 15 anos, foi uma das crianças atendidas no local. Hoje pedagoga, aos 45 anos, preside a instituição, que acumula 45 anos de trabalho e é apontada como uma das mais antigas bibliotecas comunitárias do país. Funciona na rua 25 de Junho, entre Barão de Igarapé Miri e 3 de Outubro e conta com 12 mil títulos catalogados, fora os muitos que serão fichados em breve.

 

Biblioteca Pública Avertano Rocha

Em funcionamento no Chalé Tavares Cardoso, a Biblioteca Pública Municipal de Icoaraci está localizada na Rua Siqueira Mendes, 607-705, no bairro do Cruzeiro. A Biblioteca atende, principalmente, à comunidade de Icoaraci, Caratateua, Benguí, Tapanã e Tenoné. Porém, pessoas de todos os bairros de Belém e visitantes de outros estados e países também frequentam o espaço.

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