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‘Ladeira da Doca’, em Belém, atrai skatistas e vira rampa de skate aos domingos

A descida da avenida Visconde de Souza Franco, entre as ruas João Balbi e Boaventura da Silva, no bairro do Umarizal, em Belém, se transforma em rampa esportiva para praticantes do skate downhill aos domingos e feriados

Gabriel Pires

Unindo esporte e diversão, a “Ladeira da Doca”, como é chamada a descida da avenida Visconde de Souza Franco, entre as ruas João Balbi e Boaventura da Silva, no bairro do Umarizal, em Belém, se transforma em rampa esportiva para praticantes do skate downhill — ou de ladeira. Se aventurando com as performances radicais, os amantes do skate driblam o tráfego intenso de veículos na área e a pista vira palco para a prática da modalidade. Apesar dos desafios, isso não é um empecilho. O grupo já se reúne no local desde meados de novembro, sempre aos domingos e feriados.

A tradição de se reunir para andar de skate já dura mais de 10 anos e começou quando um grupo de skatistas começou a praticar, por diversão, na rampa de um condomínio da capital. Isso bem antes da Ladeira da Doca ser o ponto de encontro, como lembra um dos skatistas, Luiz Mauro Tavares, 53 anos, que é profissional de TI, mas, aos domingos, reserva parte da manhã para andar de skate. Ele lembra que a paixão pelo esporte surgiu na adolescência. Sem qualquer tipo de competição no grupo, ou até mesmo rivalidade, Luiz enfatiza que o objetivo é endossar o espírito de união e diversão.

“Um grupo de amigos descobriu o skate de ladeira e começou a andar no [condomínio] Água Cristal. O pessoal se confraternizava e, também, havia alguns campeonatos. Depois de um tempo, o conjunto, por necessidade deles, eu acredito, fechou a cancela para entrar e nos impossibilitou de andar no local. Nós viemos para a Ladeira da Doca porque tinha um pessoal que já andava anteriormente, já conhecia e acabamos indo também porque fica perto para todo mundo. Até reivindicamos esse ponto para que se torne uma área de lazer”, conta Luiz.

Também apaixonado por surfar, Mauro diz que andar de skate também o ajuda a praticar surf — outra modalidade que tanto gosta. “No meu caso, eu uso o skate como base para o surf. A gente até brinca que o skate é um surf no asfalto. E a paixão pelo skate começou na minha adolescência, eu andava no CAN. Tinham vários amigos que andavam de skate e patins. Como eu vi esses amigos andando de novo, reacendeu essa paixão. Tenho amigos desde a década de 80. Com isso, eu comecei a comprar vários skates”, relata.

Mas não é somente a Ladeira da Doca — que já foi palco de campeonatos em décadas passadas — que vira espaço para os skatistas. Mauro conta, também, que outro lugar para praticar é a rampa do Mangueirão, além de outros espaços adaptados para a prática do esporte na cidade, como na avenida Tamandaré. No entanto, hoje, o maior desafio é o trânsito: “A maioria que anda aqui já vem há muito tempo. Sempre fica uma pessoa olhando o trânsito e avisando sobre a chegada dos carros. Todos usam equipamentos de segurança”, alega, ao lembrar da importância de que o poder público possa ajudá-los fechando a via para a prática do esporte com maior segurança.

Thiago Gomes / O Liberal

Novas gerações

Com uma aceitação social do skate ao longo dos anos, o doutorando Roberto Lisboa, 59 anos, considera que a prática da modalidade na Doca pode ser um incentivo para crianças e adolescentes, trazendo à nova geração essa paixão pelo esporte. “A partir do momento em que a gente começou a andar na Doca, muitos pais param, estacionam os seus carros e ficam olhando. As crianças pedem para eles pararem, ficam observando. Eles vêm atrás de escolinha para aprender”, afirma Roberto.

“Isso aqui se tornou um lugar alegre, tem um valor simbólico para a gente, skatistas. Aqui foi realizado o primeiro campeonato de skate do Pará. Cabe a nós, agora, propagarmos e continuarmos dando vida ao skate na Doca, para que as pessoas também possam praticar. A responsabilidade é grande, porque a gente quer ensinar as novas gerações. E trabalhar com a nova geração requer cuidado, consentimento dos pais e segurança, principalmente. É por isso que a gente quer mais espaços e que estes nos tragam segurança”, completa Roberto.

Roberto recorda que o fascínio pelo skate começou quando ele ainda era criança, por volta dos 11 anos. Mais de 30 anos depois, a paixão pelas manobras radicais ainda toma conta dele, que considera a prática uma forma, também, de ter qualidade de vida, já que promove o exercício físico. “São as pessoas mais velhas que praticam que mantêm a chama do esporte acesa. Essa questão da Doca, eu corri atrás, chamei todo mundo. Tudo isso para a chama não morrer, para que a modalidade não morra”, aponta Roberto.

Como forma de incentivar a nova geração, o instrutor Edilson Dias, de 54 anos, conhecido como “Gatinho” — que coleciona títulos em premiações nacionais —, promove aulas gratuitas de skate para crianças e jovens. “A escolinha de skate funciona na Doca aos domingos, com aulas agendadas. Nós precisamos de um espaço ao poder público para que a gente possa fortalecer as categorias de base, as crianças. A nova geração é a geração dos games, uma geração virtual. Uma atividade física está longe para eles. E o longboard está aqui. Tudo gratuito para eles”, afirma.

Campeonatos

A cultura do skate na região também é movimentada pelos torneios e campeonatos que são realizados no estado. Entre as disputas, o Circuito Paraense de Ladeira, conforme pontua o presidente da Federação Paraense de Skate, o engenheiro químico Mauro Marinho, 55. “O skate paraense esteve parado por uma faixa de dez anos. Quando eu voltei para o cenário do skate, em 2015, eu vi a necessidade de ter um Circuito Paraense de Ladeira. Foi aí que eu consegui montar com os amigos o circuito em 2017, 2018 e 2019”, relata

“No ano passado, nós conseguimos fazer duas etapas. E ainda conseguimos trazer uma etapa do brasileiro para cá, em Tucuruí. O Pará, a nível nacional, é a segunda potência do skate de ladeira. Ele reforça, ainda, que os campeonatos são importantes para “movimentar a modalidade e incentivar a nova geração”. “Somos a segunda potência do país, com quase dez campeões brasileiros de longboard entre 2015 e 2023”, destaca Mauro, evidenciando que a Ladeira da Doca é um espaço ideal para treinamento dos skatistas.

Espaços na capital

Procurada para esclarecer acerca dos espaços existentes na capital para a prática de skate, a Secretaria Municipal de Esporte, Juventude e Lazer de Belém (Sejel) informou, em nota, que a capital paraense possui espaços para a prática do skate espalhados por vários bairros como na orla de Icoaraci, skatepark na praça do Marex, na praça Dorothy Stang, na Sacramenta, outro próximo ao Terminal Rodoviário da UFPA no Guamá, na orla de Mosqueiro, e o mais recente no Complexo Esportivo Iracema de Oliveira, na avenida Tamandaré.

“A Prefeitura construiu o Complexo Esportivo Iracema de Oliveira, no início da avenida Tamandaré, na Cidade Velha, onde antigamente era um lixão a céu aberto. O espaço possui quadra poliesportiva, anfiteatro e um amplo e adequado skatepark para a modalidade street. Além disso, a gestão municipal também reformou o skatepark na praça Dorothy Stang, localizada próximo ao viaduto Daniel Berg, no bairro da Sacramenta”, diz a nota.

Já a Secretaria Municipal de Urbanismo de Belém (Seurb), responsável pelas obras e reformas dos espaços, esclareceu que, atualmente, está em construção um novo local para o skate na nova avenida Romulo Maiorana. “Sobre o fechamento da Avenida Doca de Souza Franco para prática esportiva, a Sejel explica que não recebeu nenhuma demanda sobre o assunto, mas está aberta a conversar com os praticantes do esporte para analisar o pedido. A Prefeitura de Belém ressalta que qualquer interdição de vias públicas precisa ser planejada para que não haja prejuízos à população”.

“A Prefeitura de Belém informa ainda que já realizou três edições do Projeto Avenida Cultural que fechou a avenida Presidente Vargas, da Boulevard Castilhos França até a rua Osvaldo Cruz, para realização de apresentações culturais e práticas esportivas, incluindo o skate, aos domingos. A prefeitura reforça também que já está planejando novas ações para o segmento na capital”, finaliza o comunicado da prefeitura.

Já a Secretaria de Estado de Esporte e Lazer (Seel) informou, em nota, que disponibiliza as rampas do Novo Mangueirão para a prática de skate longboard (skate de ladeira). “Em 2024, a Associação de Skatelongboard do Pará (ASLP) comprometeu-se em apresentar à Seel uma proposta de um projeto de escola de skate de ladeira, que terá as rampas do Novo Mangueirão como espaço para as aulas”, diz o comunicado. A Seel detalha, ainda, que “o fechamento de vias urbanas para a prática esportiva é de responsabilidade da Prefeitura. No entanto, a Seel reitera que disponibiliza as rampas do Novo Mangueirão, afim de que os atletas possam ter um espaço mais seguro para os treinamentos”.

Skate de ladeira

O skate downhill, ou downhill slide, é uma modalidade do esporte que surgiu por volta de 1965 com o nome do californiano Clifford Coleman, que é um dos inventores. A modalidade se diferencia pela prática praticada em ladeiras, visando executar manobras e fazer slides descendo essas inclinações. A velocidade é um ponto importante nesse estilo, mas outro aspecto marcante são as manobras de slide (derrapagem) durante a descida. A modalidade é praticada pelos skates longboard — em formatos de prancha maiores, com rodas mais macias e adaptados para performances com velocidades mais altas.

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