'Capela Pombo' está com estrutura ameaçada, denunciam moradores

Construída na segunda metade do século XVIII, a igreja está fechada e encontra-se com danos em diversas partes estruturais.

Bruno Menezes | Especial para OLiberal

Um prédio que carrega séculos de história e cultura está com a sua estrutura ameaçada em Belém, conforme denúncias recebidas pelo Grupo Liberal. A Capela Bom Jesus dos Passos, conhecida também como Capela Pombo, se trata de uma das mais antigas construções religiosas da capital, no entanto, moradores e comerciantes reclamam da falta de manutenção e reparos do espaço religioso, que apresenta danos em diversas partes da sua edificação.

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Situada na Travessa Campos Sales, no bairro do Comércio, a Capela foi construída na segunda metade do século XVIII, a mando do português e senhor de escravos Ambrósio Henriques da Silva Pombo. O local religioso foi edificado dentro da propriedade do europeu, para que a família celebrasse missas privadas.

Mas o passado privativo e colonial da capela ficou para trás. Ao longo dos anos, o local se transformou num ponto de encontro de populares do centro de Belém, que se reuniam para fazer pedidos aos seus santos devotos. Atualmente, a proprietária da capela e do terreno onde ela se encontra é a Universidade Federal do Pará (UFPA), que adquiriu o prédio histórico dos antigos donos.

De acordo com o historiador paraense Wesley Kettle, a igreja é de extrema importância para a cultura e a história de Belém.

“Existem poucas edificações como essa, que chamamos de capela particular. Ela é importante porque marca um período em que existia uma grande situação econômica no grão Pará. Ela é um marco desse período e mostra a opulência da cidade na época”.

Patrimônio em risco

No entanto, toda essa riqueza histórica da Capela do Pombo pode estar ameaçada já que o local apresenta danos estruturais em diversos pontos do prédio. É o que denuncia o médico Luiz Sabaa, que frequentava a igreja quando criança.

“Nos fundos da capela o espaço está um completo matagal e dá para perceber que parte de uma estrutura foi danificada, devido os diversos pedaços de tijolos espalhados pela área”, conta Luiz.

Na parte de trás da capela é perceptível a falta de limpeza e manutenção, já que o mato crescido toma conta de boa parte do espaço. A frente da igreja apresenta paredes descascadas pichações e rachaduras.

Giorgio Dellizotti, 63 anos, é italiano e dono de uma loja que fica ao lado da capela. Ele conta que viu a igreja se deteriorar com o passar dos anos e não percebe nenhum tipo de trabalho para cuidar do prédio.

“Desde que foi comprado pela UFPA, a manutenção no local é ridícula. Eles vieram já umas duas ou três vezes com pedreiros, colocaram algo para sustentar o interno por medo de desabamento. Já caíram duas peças de cima e não acertou ninguém, Graças a Deus. É uma pena, porque é um monumento antigo, que faz parte da história de Belém”, critica o empresário, morador de Belém há 20 anos.

Outro denunciante que conhece bem a realidade da capela é Marcelo Heitor Neves. Proprietário de uma loja situada ao lado da igreja, ele afirma que já presenciou diversos incidentes de pedaços da igreja se soltando da estrutura.

“Ela está bem ameaçada de cair, a gente já escutou barulho da estrutura do telhado caindo, parte da parede. Alugaram um andaime uma época para reforçar a estrutura do telhado, mas depois tiraram e começou a cair bastante coisa da igreja”, relata o comerciante preocupado.

O que diz o Iphan?

Em resposta a OLiberal, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), prestou esclarecimentos sobre a atual conjuntura da Capela Pombo. De acordo com o instituto, a Capela é tombada pelo Iphan, ou seja, é reconhecida como parte do Patrimônio Cultural brasileiro, um reconhecimento do Estado de que este bem tem relevância nacional.

“A partir do tombamento, e como consequência dele, o Iphan passa a ter atribuição de acompanhamento da preservação do bem. Contudo, a responsabilidade pela gestão, conservação, limpeza e segurança, por exemplo, continua sendo dos proprietários, nesse caso a Universidade Federal do Pará (UFPA). Isso vale para qualquer bem tombado, seja de uso público ou privado. O tombamento também não interfere nas competências institucionais de outras esferas, como as prefeituras, governos estaduais e outras áreas do governo federal”, declara a nota.

Ainda segundo o Iphan, a Capela foi incluída na lista de projetos de restauro a serem executados pelo Novo PAC. “As tratativas para as obras estão em curso junto à UFPA, que deverá fazer a atualização do projeto executivo e orçamentário”, conclui em nota.

O que diz a UFPA?

Em nota, a UFPA informou que o prédio histórico da Capela do Senhor dos Passos, também conhecida como Capela Pombo em Belém, foi adquirida pela Universidade Federal do Pará em novembro de 2014. A partir deste ano deu-se início ao desenvolvimento do projeto de restauro e adaptação da capela com vistas à captação de recursos para sua execução, tendo sido elaborado pela equipe do Fórum Landi/Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFPA.

"Paralelamente, a Prefeitura Multicampi da UFPA desenvolveu e continua realizando ações de manutenção preventiva na edificação, incluindo a realização de obras de contenção, escoramento interno, retirada de vegetação da fachada e manutenção permanente do telhado e calhas, tendo realizado a última ação em novembro deste ano” diz a nota.

Ainda segundo a UFPA, o projeto de restauro elaborado já havia sido aprovado pelo Departamento do Patrimônio Histórico da Prefeitura Municipal de Belém - FUMBEL/PMB e pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Belém - SEMMA/PMB, e estava em análise pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN Pará e IPHAN Brasil.

A universidade também explicou que em agosto deste ano o projeto foi aprovado no rol de projetos a serem apoiados no estado do Pará com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), pelo Governo Federal, e encontra-se em processo de atualização do seu orçamento e especificações para que possa finalmente ser realizada a licitação e a obra.

"O projeto elaborado propõe que a antiga Capela se transforme em espaço a ser ocupado pela Escola de Música da UFPA (EMUFPA), para a realização de apresentações musicais de diferentes estilos, oficinas e projetos de extensão para um público diverso (moradores, trabalhadores do centro comercial e público em geral), além contribuir com a formação dos alunos da EMUFPA. Outros usos são possíveis e estão sendo debatidos no âmbito dos cursos da UFPA. A UFPA, por meio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Prefeitura Multicampi tem envidado esforços e feito investimentos sistemáticos para viabilizar a restauração da Capela Pombo, de modo a restituí-la como referência arquitetônica e histórica de nossa cidade, além de promover o fomento de ações culturais no Centro Histórico de Belém, como por meio da Escola de Música da UFPA. Neste momento, o aceno positivo de recursos do Governo Federal torna viável este objetivo”, conclui a nota.

Complexo Mercedários

Em outro deste ano, a UFPA, por meio de uma parceria com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), assinou um contrato de R$ 36,3 milhões para a restauração do Complexo dos Mercedários, em Belém. O projeto compreende obras de reforma no Polo Mercedários e na Igreja de Nossa Senhora das Mercês, com o objetivo de transformar estes espaços em centros culturais e históricos da capital.

 

 

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