Desapegar e comprar: brechós reais e virtuais são nova tendência

Tarik Duarte
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Sabe aquela peça de roupa que todos temos guardada, mas raramente usamos? Uma camisa com uma lembrança especial ou um sapato que lembra uma boa história. Certamente já chegou aquele momento em nossa vida no qual a memória afetiva falou mais alto do que a necessidade e esta peça se torna um excedente no armário, não é? Mas e aí? O que fazer?

Em vez de gerar mais lixo ou esquecer a peça em casa, uma opção que vem ganhando cada vez mais adeptos é a de venda em brechós e bazares, tendência que vem crescendo no mercado paraense e que consiste em organizar eventos nos quais vendedores se reúnem no melhor estilo “Mercado de Pulgas” para vender itens já usados – mas ainda em boas condições de uso e consumo, não se restringindo apenas a peças de vestuário.

Também tem sido igualmente recorrente a criação de páginas em redes sociais (além de aplicativos) para pessoas desapegarem de objetos que não lhes fazem tanta falta, mas que podem compor a rotina de alguém que se interesse por uma determinada tendência (ou apenas que esteja querendo economizar ao renovar o guarda-roupa). Estes os brechós digitais, que nem sempre necessitam de um espaço físico existente, tornam-se mais acessíveis a todos. Muitos oferecem inclusive a entrega dos itens em domicílio.

Esta vem sendo a forma que muitas pessoas utilizam para deixar seus ambientes mais leves, reorganizando espaços e, ainda garantindo um dinheiro a mais no orçamento.
Esse foi o motivo que levou um grupo de amigas na capital paraense a criar o Bazar Das Manas, quando buscavam uma forma rápida de renda extra e hoje um dos bazares com grande procura dentro desse setor. Inicialmente 15 pessoas reuniram seus itens para a venda e, atualmente, já somam 50 colaboradoras.

Uma das organizadoras do projeto, a estudante Tais Oliveira, conta que o primeiro evento das amigas aconteceu em dezembro de 2017 com grande sucesso, por ter acontecido próximo ao Natal. Depois, elas resolveram manter o bazar de forma mensal, sempre anunciando em uma página na rede social Instagram o local da edição seguinte, com data e horário.

Os frequentadores solicitam novos encontros como também procuram saber o lugar escolhido para o próximo evento acontecer, já que ele roda Belém de forma itinerante, mas muitos acabam não esperando as datas chegarem e fazem suas compras direto com as organizadoras, visto que todas têm acesso à página e podem expor seus itens livremente, com produtos como sapatos, livros, acessórios, CDs, DVDs e até brinquedos. 

As amigas ainda afirmam que nos eventos mensais, elas também disponibilizam a venda de doces e comidas rápidas, oferecendo mais opção ao público e contribuindo na renda total do bazar, além de chamar atenção de quem passa pelo local ou busca algum achado entre os materiais em exposição.

A publicitária Natália Paixão é assumidamente uma frequentadora de eventos do tipo, pois vê essa circulação de peças com uma grande importância, gerando uma consciência maior em relação ao consumo por parte do  público, já que as peças que antes eram vistas como de segunda mão, assumem uma ressignificação e deixam de ser objetos descartáveis a partir de um olhar empreendedor mais cuidadoso.

A própria Natália brinca dizendo que já encontrou peças intactas e em excelente qualidade pagando cerca de 5 reais, levando muitas pessoas à surpresa ao contar que se tratava de uma roupa usada. A jovem afirma ter o hábito de olhar páginas online de brechós para encontrar roupas que lhe chamem atenção, dando inclusive dicas de looks em seu perfil no Instagram, sem fugir de uma forma confortável e responsável de montar um visual descolado e expressar personalidade pela forma com que podemos nos vestir, sem amarras de gênero e sim de uma forma subversiva e atual.

image Natália Paixão (Naiara Jinknss)

Ela afirma que o mercado de brechós em Belém tem ganhado mais destaque desde 2015 e a tendência é continuar nesta curva crescente. “O que tem surgido também é um maior número de pessoas que faz a curadoria de peças e itens que podem voltar ao mercado, e transforma o brechó em uma empresa. Eles até customizam itens, recriando valor e interesse do público”, diz.

A publicitária vê a importância de fazer esse mercado girar porque é uma forma das pessoas mudarem a própria cabeça para o jeito com que se usa a roupa, para ela não se tornar mais uma peça descartável em um determinado espaço de tempo. A própria já desapegou de itens que guardava e conta que bazares e os brechós são importantes para educar o consumidor quanto à forma desenfreada que a cultura nos faz adquirir bens.

“A gente começar a ver o que realmente precisa, não ver só como uma forma de desejo. Vender em um brechó vai além de apenas ganhar dinheiro, pois tem esse outro fator: o de saber conscientizar o teu consumidor. Não é porque a peça está barata que tu vais simplesmente comprar. Tem que entender a tua forma de consumir e entender que se tu não precisas comprar, logo não tem que comprar”, conclui.

Outro produto que é muito buscado em mercados alternativos são livros, muitas vezes por serem edições raras ou títulos que já não são mais publicados. Os chamados sebos, lugares de venda desses livros, também são muito populares entre estudantes, que buscam uma forma mais acessível de conhecer autores e ter contato com clássicos da literatura sem gastar muito, e amantes da leitura, que estão sempre em busca de novos olhares e novas histórias, prontas para serem lidas.

Por ter um amor pessoal em espalhar o conhecimento, a professora Isabelle Pantoja uniu o prazer à necessidade quando, em junho de 2018, criou seu sebo virtual chamado Girafales. Como um exercício de desapego para completar sua renda à época, ela decidiu reunir seus livros e vende-los por um preço abaixo do comum em lugares já conhecidos da cidade.

A ideia inicial, entretanto, era vender para amigos próximos, mandando mensagens com fotos dos títulos disponíveis, mas por serem muitos arquivos, um amigo acabou sugerindo que Isabelle criasse uma página virtual com os livros que pretendia vender, surgindo então a Girafales, em resultado ao seu amor por girafas e com inspiração da personagem homônima, do seriado mexicano dos anos 70 “Chaves”.

image Isabelle Pantoja (Naiara Jinknss)

“Eu já era frequentadora de sebo porque, apesar de gostar muito de uma edição cheirosinha, novinha, eu tentava encontrar coisas que não têm mais em lugar nenhum”, conta.
Em pouco tempo, Isabelle juntou a quantia que buscava, mas viu que o que tinha em mão ia muito além do dinheiro. Ela continuou querendo vender seus livros, mesmo logo após a leitura, dando sequência ao rumo que um livro pode ter, transformando a vida de muitos com uma única edição.

Um dos motivos foi ela buscar sempre reutilizar objetos em sua rotina, hábito fortalecido quando se aproximou da filosofia vegetariana, que abomina a exploração de outros animais para a vantagem de seres humanos.

“Depois que eu me tornei vegetariana, eu comecei a pesquisar sobre as imensas formas de exploração animal que existem e, que vão além de apenas consumir carne. Acabei abrindo os olhos para questões como roupas também, por exemplo. Comecei a querer pensar de onde vem o que eu compro”, revela Isabelle.

Então que tal ver seu ambiente com mais carinho? Muitas vezes um local minimalista pode trazer mais organização às ideias, além de uma maior paz de espírito. Organizar os livros, separar roupas, enfileirar discos pode mostrar que muitos dos nossos pertences, apesar de importantes, também nos prendem ao passado.

Por que não fazê-los seguir seus caminhos? Tocar outras vidas? Assim, mais do que a economia, a cultura e as boas experiências podem circular melhor, além de chegarem a mais pessoas, conhecidas ou não, gerando boas lembranças aos moradores da cidade.
Organize seu bazar, faça Belém mais consciente no consumo e no fim, independente do resultado, boas histórias certamente surgirão para toda a vida.

Para saber mais:
@bazardasmanasbelem
@nataliapaixao
@girafaleslivros

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