Gente grande desde pequenina e à frente de seu tempo

Lorena Filgueiras

Giovanna Lancellotti é adulta desde mais menina. Uma alma antiga, será? Ou cônscia, desde criança, de seu papel no mundo? Pouco importa a pergunta, já que a resposta será a mesma: uma mulher sempre à frente de seu tempo, lidando com as responsabilidades de maneira adulta e consciente – foi assim, quando foi emancipada aos quinze anos; continua sendo assim em sua maneira de ver o mundo e no modo de enxergar sua participação na sociedade. Aos 26 anos, com uma década de experiência profissional nas costas, Gio, como é carinhosamente chamada por amigos e familiares, está com tudo! São projetos no cinema, na TV, no streaming e na internet – onde, somente em uma rede social, acumula mais de 8 milhões de seguidores. Com uma vida tão corrida e uma agenda profissional ainda mais concorrida, nossa entrevistada especial deste domingo, encontrou uma brecha (embora no dia deste papo, suas 24 horas não tivessem peso de 50 horas) e foi muito carinhosa conosco. Falamos de carreira, principalmente, de likes, de empoderamento feminino, espiritualidade e sobre otimismo. Ufa! Com vocês, Giovanna.

Troppo + Mulher: Você é super jovem e já carrega uma bagagem incrível, transitando de maneira bem legal entre Teatro, cinema e TV – você acaba de gravar uma adaptação da Zibia para o cinema e declarou que estava justamente lendo um livro dela. Como é tua relação com a espiritualidade? Acreditas mesmo que nada é por acaso?
Giovanna Lancellotti: Eu estou muito feliz com esse momento da minha carreira, no qual estou podendo realizar diversos projetos que carregam uma história que acredito. Eu sempre fui ligada à espiritualidade e leio diversos livros a respeito – é algo que faz com que eu pare, respire e analise melhor tanto as situações como eu mesma; aquela autorreflexão que é necessária fazermos para poder entender quem somos. A Zíbia é uma autora que eu já li uns dez livros dela, inclusive a adaptação que fizemos, o que foi ótimo porque tive pouco tempo para a preparação da personagem, já que estava em viagem pela Europa e voltei ao Brasil basicamente para gravar. Quando recebi o convite para fazer o filme, achei que foi um sinal, porque, para mim, coincidências não existem. Eu acredito total que nada é por acaso, que tudo acontece por um motivo. É nessa crença que encontramos conforto de saber que se algo aconteceu, é porque tinha que acontecer. O filme fala muito disso, aliás. É uma história que conforta e acalma. A Marina, minha personagem, é uma mulher que carrega uma culpa muito grande por conta de erros do passado e, por isso, ela para de viver o presente e fica presa em uma autopunição constante. Através da mediunidade que ela desenvolve e de sonhos, ela vai entendendo que é necessário ter calma e confiar, lidar com os erros e seguir em frente. 

image Legenda (André Nicolau)

T+M: Você debutou na TV já conquistando prêmio de revelação por sua atuação em “Insensato coração”. Como ‘funciona’ tua preparação para um personagem? O que ou quem te inspira?
GL: Por mais que a minha entrega aos trabalhos que faço seja completa, a preparação varia muito de personagem para personagem, assim como as obras e profissionais que me inspiram. De forma geral, eu sempre pesquiso projetos similares para estudar, seja por meio de documentários, filmes, séries ou livros. Na maioria das vezes, a produção também oferece um workshop, por exemplo, que compõe a nossa pesquisa. Para o longa “Nada É Por Acaso”, a minha preparação, antes de rodar o filme, foi reler o livro e absorver um pouco as características da personagem e logo comecei a gravar. Porém, durante as gravações, que aconteceram em Curitiba, eu passei a ir em diversos centros espíritas, a conversar com várias pessoas a respeito e fui criando uma base mais consistente. Já para esse filme que estou gravando atualmente, “Ricos de Amor”, da Netflix, consegui ter uma preparação antes, que foi breve, mas que fez com que eu criasse laços com o elenco de forma que, na hora de gravar, ficou mais fácil. A Netflix ofereceu uma preparação bem intensa e focada, ajudou muito!

T+M: Bom, pegando carona no que te inspira, como foi que descobriste tua vocação par atuar? Como foi teu começo de carreira?
GL: Eu sempre amei o Teatro e animais, tanto que quando [era] criança falava que queria ser veterinária. Até achei que isso de fato ia acontecer, mas aos 15 anos decidi sair de São João da Boa Vista, interior de São Paulo, e fui rumo à capital para estudar Teatro. Não foi fácil, principalmente porque era muito nova e já tive que morar sozinha logo de cara. Para isso eu tive que ser emancipada muito cedo, porque fazia bastante teste para publicidade e minha mãe tinha que estar sempre comigo. Como ela continuou a morar no interior, era complicado me acompanhar em todas as gravações. Não mudou em nada a minha vida, mas desde nova tive muitas responsabilidades e isso muda sua percepção. Antes de iniciar na Televisão, fiz bastante peça de teatro, videoclipes e publicidade. Eu tentei alguns testes para as novelas na época, mas foi só em “Insensato Coração” que consegui meu primeiro papel na TV. Depois disso fui me aperfeiçoando como atriz e tendo oportunidades incríveis que hoje fizeram com que eu pudesse viver da minha arte. 

T+M: Como tem sido tua rotina profissional? O que a gente pode esperar de novidades suas para este segundo semestre?
GL: A minha rotina, quando estou trabalhando, é bem complicada, principalmente quando as gravações são em outros estados ou cidades. Eu basicamente passo os meus dias gravando e estudando as cenas, buscando novas referências e decorando as falas. Quando tenho folga aproveito para fazer tudo o que preciso: encontrar com os amigos, a família, ir ao médico... Eu costumo dizer que, quando tenho essas brechas, o meu dia não tem 24 horas, ele tem 50 (risos). Eu tenho o filme “Incompatível” para estrear logo mais, e os longas que gravei este ano, devem estrear ano que vem. Mas é difícil dizer porque depende de muita coisa. Estou na série “Shippados” também, que já está disponível na GloboPlay e é uma comédia muito bacana! Fala sobre traumas da infância, desilusões amorosas e dramas familiares com muito humor. 

T+M: Você tem mais de 8 milhões de seguidores em só uma de suas redes sociais. Como viu a ocultação das curtidas? Aliás, como é tua relação com as redes sociais? Como filtras comentários e lidas com haters?
GL: Eu achei muito boa essa atualização do Instagram, pois entramos em um looping que não nos permitia mais aproveitar a rede social e criou um ambiente de ansiedade por trás de cada publicação, tanto sua quanto a alheia. É claro que [para] quem monetiza [ganha dinheiro por meio de posts pagos] através da plataforma é um incômodo, não podemos ser hipócritas, mas acho que agora isso nos deixou mais livres para compartilhar o que bem entendemos, sem a pressão de ter que bombar a publicação. Todo mundo teve que se adaptar quando o advento das redes sociais se tornou um negócio. Agora é só se adaptar novamente para continuar mostrando o seu trabalho. Não é o fim do mundo. A minha relação com as redes sempre foi muito boa, procuro ter um perfil bem-humorado e divertido, que reflete muito quem eu sou. Os comentários negativos e que quer disseminar ódio, eu procuro nem focar. Não quero que sejam somente flores, porque a vida não é assim, mas o que não é construtivo, nem olho. 

image Legenda (André Nicolau)

T+M: A gente também vive tempos difíceis politicamente falando e que acabam reverberando na vida simples, comum. Em tempos em que temos incentivado e valorizado a luta das mulheres por igualdade, como buscas exercitar isso e estimular outras mulheres?
GL: Eu acho fundamental falar a respeito da opressão que ainda vivemos, vocalizar os nossos direitos e apontar o que precisa ser melhorado. E isso pode ser feito, tanto através das redes sociais, como no boca-a-boca, ajudando aquela amiga que precisa, olhando para o próximo e agindo. As situações de opressão, objetificação estão no nosso dia a dia, é só olhar para o lado. Não é algo fácil. A desconstrução é diária, a todo o instante, mas precisa ser feita. Eu tenho em mente, e acho importante todas nós mulheres termos noção disso, que cada passo que dou e que já dei, só foi possível tanto por conta das nossas ancestrais, que lutaram para que hoje a gente pudesse ter nossa independência, quanto pela minha vontade de ser livre. E eu luto por todas. Luto pela mulher que não segue o movimento e pela mulher que segue, porque uma hora essa disruptura vem pra todo mundo e as que ainda terão esse momento, vão precisar de nós para dar suporte. 

T+M: Falando nisso, já tiveste que lidar com alguma situação incômoda de assédio? Se sim, como foi viver isso e se livrar desse estigma?
GL: Nós somos vítimas do machismo diariamente, tanto no trabalho quanto na vida em si. Eu não sou a regra da exceção e tenho as minhas experiências, assim como já presenciei também. É triste e revoltante, mas são nessas situações que sinto que temos que dar cada vez mais voz para que no futuro não se repita. 

T+M: Depois de ler a Zibia, o que está na tua cabeceira? O que tens ouvido, que recomendaria? Como curtes teu tempo livre?
GL: Estou lendo o livro "O PODER DO SUBCONSCIENTE" no momento e estou amando! Acho que temos que realmente "domar" nossa mente com pensamentos positivos e otimistas. Isso reverbera na nossa vida, nossa energia, e no que o universo manda de volta pra gente. A forma como aproveito o tempo livre varia muito. Às vezes quero ficar mais em casa, assistir um filme, comer uma pipoca e não fazer nada. Já em outros momentos procuro sair e ir ao cinema, teatro, shows, ir dançar... Acho também que depende do ritmo de trabalho que estou. Fora isso, eu respeito muito o que o meu corpo me diz, o que estou sentindo, então se uma galera esteja indo para um lugar e eu não estou a fim, não forço nada e fico reclusa.

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