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De fonte segura

Lorena Filgueiras

A jornalista Ana Paula Araújo é considerada uma das profissionais mais centradas e respeitadas do meio. Em função da pandemia, a âncora do Bom dia Brasil, jornalístico matinal da TV Globo, tem apresentado o programa sozinha. Dividindo-se entre as funções como profissional, mãe e cidadã, Ana Paula conseguiu um tempo para conversar conosco, na última quarta-feira, após a reunião de pauta do jornal. Em pauta, naturalmente, a pandemia; o papel fundamental do jornalismo ao combate às fake news, além de lembranças do primeiro Círio vivido ao vivo, saúde mental e esportes – uma paixão declarada de nossa convidada especial desta edição. 

Troppo + Mulher: Gostaria de começar pelo que é mais factual, que é este momento pandêmico e, embora muito desconcertante, histórico. Em qual momento te deste conta de quão grande era o problema? Como foi e tem sido lidar com esse “novo normal”, já que não paraste de trabalhar e nossa atividade é considerada essencial?
Ana Paula Araújo: Então, lembro que já no carnaval começamos a falar da Covid, embora fosse algo não muito presente aqui no Brasil. Foi quando começaram a surgir mais casos, especialmente em São Paulo. Lembro de ter ficado bem assustada e o isolamento chegou aqui. Quando afastaram as pessoas, consideradas do grupo de risco, do trabalho, foi quando me dei conta do tamanho da pandemia e da força com que ia chegar aqui no Brasil também.

Durante a pandemia, as pessoas, de alguma forma, começaram a se voltar muito mais para o jornalismo profissional e perceberam a importância do dele, porque tá todo mundo sofrendo com as fake news já tem um tempo.

T+M: A gente vem, enquanto sociedade, de um período, entre 2018 e 2019, de intensa criminalização da classe artística e também da Imprensa – e esse movimento tornou-se mais intenso nesta pandemia. Fiquei muito tocada com a entrevista que o [William] Bonner concedeu ao Pedro Bial em que relatou as agressões que ele sofreu como jornalista. Passaste por alguma situação parecida?
APA: Até que nem tanto, sabia? Não posso me queixar. Às vezes tem um ou outro comentário, especialmente em rede social... tem muita gente extremamente agressiva, mas não acho que seja a maioria. Eu acho que durante a pandemia, as pessoas, de alguma forma, começaram a se voltar muito mais para o jornalismo profissional e perceberam a importância do dele, porque tá todo mundo sofrendo com as fake news já tem um tempo e, agora, com respeito à saúde e às vidas de todo o mundo, eu noto que mais pessoas estão percebendo o valor do trabalho que a gente faz. Até porque fazemos parte dos serviços essenciais que são necessários que precisam se manter funcionando. Eu acho que esse é o momento também de resgate do jornalismo como fonte segura de informação para a população.

É hora de parar e perceber que o trabalho que a gente faz, é um trabalho de confiança, de pesquisa. Óbvio que a Imprensa pode errar, afinal, todos nós estamos sujeitos a erros, mas fazemos um trabalho sério.

T+M: O que dirias aos que ainda acham que os culpados pelas notícias são os jornalistas?
APA: As pessoas querem matar o mensageiro. Na verdade, eu ouço as pessoas reclamando que há muitas notícias ruins, mas é a verdade, né? É o que está acontecendo! A gente não pode esconder o que está acontecendo, não pode maquiar a notícia! Esse é o nosso grande trabalho! Ao mesmo tempo, noto que muita gente fica revoltada porque determinada notícia não foi dada, mas é porque, geralmente, é mentira... que circula nos grupos de WhatsApp, em rede social. É hora de parar e perceber que o trabalho que a gente faz, é um trabalho de confiança, de pesquisa. Óbvio que a Imprensa pode errar, afinal, todos nós estamos sujeitos a erros, mas fazemos um trabalho sério. Os veículos de comunicação que são da grande Imprensa, são sérios, com profissionais sérios. Para quem acha que a culpa da notícia é do jornalista, acho que tem que se informar mais. Até porque, muitas das notícias que a gente traz, às vezes, com uma melhora aqui ou ali, ou qualquer outra informação importante, acabam passando despercebidas [ao grande público], porque o momento é tão difícil e está todo mundo tão massacrado pelas notícias difíceis, pelas mortes e isolamento e acabam não percebendo que há notícias boas – e nós adoramos dá-las.

image Ana Paula Araújo (Globo/Renato Rocha Miranda)

Lembro de ter saído muito arrasada do jornal. Lembro exatamente deste dia. As imagens das covas de Manaus foram muito chocantes para mim e ficaram na minha cabeça.

T+M: Em abril vivemos, de maneira muito intensa, o pico da doença e, por conseguinte, as notícias mais dramáticas. Lembro de ter visto as covas abertas em Manaus e aquilo não me fez dormir por alguns dias. Assim, te pergunto como jornalista, sem poder filtrar o que chega até a ti, como cuidaste e tens cuidado do teu emocional, de tua saúde mental?
APA: Muito triste, né? Lembro de ter saído muito arrasada do jornal. Lembro exatamente deste dia. As imagens das covas de Manaus foram muito chocantes para mim e ficaram na minha cabeça. Não dá para desligar, quando saio do jornal. Continuo acompanhando, no restante do dia, as notícias; continuo sendo jornalista 24 horas por dia. Tenho momentos em que consigo dar uma leve desligada, mas não posso ficar completamente fora o dia inteiro. Quando posso, quando estou de folga, tento dar atenção a outras coisas, especialmente quando estou em casa. Aproveito para dar mais atenção à minha filha, ler um pouco mais e, enfim, tentar usar esse tempo, em que estamos confinados em casa, da melhor maneira possível. Acho que a gente precisa cuidar muito de nossa saúde mental. Passei por alguns momentos, em uma semana ou outra, de ficar bem triste, bem pra baixo, como todo mundo! Entendo que temos que reagir, tendo em mente que isso vai passar!

T+M: És mãe de uma menina, uma adolescente e como tem sido a rotina de vocês, se é que é possível falar em rotina? Como tem sido a gestão, na tua casa, deste momento?
APA: Eu sou uma privilegiada, porque tenho uma filha que pode ter aulas on-line, então continuo mantendo os horários de aula dela completamente iguais aos que ela tinha antes e, inclusive, algumas atividades extras que ela começou a fazer on-line, como, por exemplo, aula de Espanhol, de piano. Mas agora ela entrou de férias, então [ela cai na gargalhada] vamos ver como será. Depois eu te conto!

T+M: Estiveste em Belém para acompanhar o Cìrio, a convite da Fafá de Belém. Foi teu primeiro contato, como espectadora, com a festa. Como foi esse momento?
APA: Exatamente, foi primeiro contato e fiquei absolutamente impressionada! Com as pessoas, de ver como o Círio mobiliza a cidade inteira!

T+M: O que te tocou mais nesta experiência?
APA: A fé das pessoas. Eu fiquei vendo, lá de cima, do camarote, e via todas aquelas pessoas, se esforçando ao máximo, para estar ali, naquele corpo a corpo... todo mundo muito amontoado, num calor e passando um perrengue para continuar naquela procissão de fé, mas vi pessoas emocionadas, levando coisas para agradecer. Lembro de uma menina, que levava uns livros, para agradecer a aprovação no vestibular. Me impressionou muito a fé das pessoas e como ela é poderosa!

T+M: Sei que és triatleta e apaixonada por atividades físicas, embora tenhas assumido que não foste uma boa aluna dessa disciplina em teus tempos de escola...
APA: [ela ri] Eu era, de fato, uma boa aluna em todo o resto, mas em Educação Física eu era péssima realmente! [mais risos]

“Também acho que não é o momento de a gente se cobrar, sabe? Ler todos os livros, tem que fazer aquilo! Não, vai no seu ritmo, o que tiver vontade. Se respeite”

T+M: Como tens conseguido te exercitar neste momento, Ana Paula?
APA: Pois é, isso é uma coisa que está me fazendo muita falta, porque todos os meus treinos eram ao ar livre: correr na rua, nadar no mar e pedalar. Isso tá me fazendo muita falta! Às vezes eu até consigo fazer uns treinos dentro de casa, umas aulas on-line, mas passei um bom período sem fazer nada. Agora que estou voltando. Mas, até voltando um pouco à sua pergunta sobre como não enlouquecer na quarentena, eu também acho que não é o momento de a gente se cobrar, sabe? Ler todos os livros, tem que fazer aquilo! Não, vai no seu ritmo, o que tiver vontade. Se respeite. Haverá momentos em que você não vai querer fazer nada. Eu parei de treinar por um mês inteiro e procurei não me cobrar muito. Agora estou voltando, porque senti necessidade de voltar! 

T+M: Sairemos melhores deste momento? Qual tua visão de mundo pós-pandemia?
APA: Olha, sinceramente, eu não sei. Quero crer que nós sairemos melhores, mas um movimento, que tenho achado muito bacana nesta pandemia e que gostaria que continuasse, é o da solidariedade entre as pessoas. Temos visto que essa época tem sido muito cruel pra todos e muito mais cruel pra quem tem menos recurso. Observo essa grande mobilização de gente que tem pouco doando para quem não tem nada. O Brasil não tem muito essa cultura da doação, do comprometimento com o trabalho voluntário, com a solidariedade, mas gostaria que esse grande movimento de solidariedade se mantivesse.

T+M: Neste sentido, qual a notícia que anseias dar em breve?
APA: [ela ri] A vacina para o Coronavírus! 

Para conhecer mais: 
@appaaraujo         

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