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Saiba o que é TDAH e de que forma ele afeta a vida de uma pessoa

Transtorno de Déficit de Atenção e Hireratividade causa sintomas para toda a vida e precisa ser tratado

Elisa Vaz

Quase 6% das crianças e adolescentes e 2,5% dos adultos são afetados com o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), segundo o maior consenso internacional sobre o assunto, publicado no começo de fevereiro deste ano no periódico Neuroscience and Biobehavioral Reviews. Embora a condição seja comum, ainda há preconceito em relação ao diagnóstico, e muitas pessoas não levam a sério os pacientes que são afetados. Por isso, outubro é o mês da consciência sobre o TDAH, e busca gerar um debate e levar informações a respeito do transtorno para a sociedade.

Psicóloga, a professora da Universidade da Amazônia (Unama) do campus de Ananindeua Carla Guerra explica que o TDAH é um transtorno crônico, que inclui uma série de dificuldades comportamentais em diversas fases da vida, desde a infância até a vida adulta. Em geral, ele é percebido nos pacientes que ainda são crianças, mais comumente entre três e cinco anos, quando entram em idade escolar. Muitas vezes, segundo a psicóloga, a família precisa de uma recomendação dos professores ou da diretoria do colégio para observar os primeiros sintomas da condição.

“Os sinais mais comuns são a falta de atenção e a hiperatividade, mas podem aumentar se não forem tratados. Esse transtorno acompanha o indivíduo pelo resto de sua vida, mas não tem uma causa específica, e esses sintomas dependem de que fase da vida essa pessoa está, se é criança, adolescente ou adulto. Quem foi uma criança assim e não fez tratamento leva isso para a vida adulta, e o transtorno se modifica com a idade. Posteriormente, pode ser encontrado um acesso fácil ao uso de álcool e drogas, ansiedade, depressão e dificuldade de relacionamentos amorosos e de amizades. São muitas condições vivenciadas nessa inquietude”, diz.

Por exemplo, em quem tem menos idade, a desatenção pode ser percebida naquelas crianças ou adolescentes que estão sempre “no mundo da lua”, não ouvem, são desatentas. Os primeiros sinais são observados quando a criança não consegue realizar atividades consideradas simples e básicas para outras de mesma idade, ressalta Carla. Esse paciente, ainda não diagnosticado, pode não conseguir solucionar problemas ou passar muito tempo sentado com foco em determinada ação.

“Pais e responsáveis começam a perceber que a criança precisa de olhar clínico quando as atividades diárias não conseguem ser realizadas com sucesso, especialmente se for algo recorrente. Crianças com sono muito agitado, que não dormem tranquilamente, não conseguem se concentrar, têm muitos machucados e lesões por conta de hiperatividade, têm uma vontade incontrolável de subir em coisas até de forma arriscada e falam muito rápido podem ter o TDAH. E a hiperatividade pode ser observada mais em meninos do que em meninas, que têm mais dificuldade em compreender regras e limites”, opina a psicóloga.

Nos adultos, a desatenção é vista, principalmente, na falta de memória; são muito esquecidos e não conseguem produzir no trabalho porque não entendem instruções e demandas que recebem. Já em relação à hiperatividade, os pacientes são considerados egoístas, que só pensam em si mesmos, e podem ser ansiosos e impulsivos. Dependendo da fase da vida, o diagnóstico é feito por psicólogos e outros profissionais, como pediatras, pedagogos e psicopedagogos.

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Após essa descoberta, Carla Guerra explica que vem a etapa do prognóstico, para decidir como será o tratamento do transtorno. Ele pode ser realizado a partir dos medicamentos, no tratamento medicamentoso, receitado pelo pediatra, para crianças, ou neurologista e psiquiatra, no caso de adultos. Já o psicólogo atua no acompanhamento posterior a isso.

Na avaliação da especialista, tanto para crianças como para jovens, a família é essencial. “É possível, durante o tratamento, contar com o apoio familiar, que é muito importante. Nós trabalhamos pela terapia, para tratar esses comportamentos e as respostas emocionais sobre como os pacientes agem. No caso de crianças e adolescentes, podemos atuar com a psicoeducação, em que conseguimos intervir no ambiente e no comportamento da criança junto com os outros profissionais, como na escola, conversando com diretores e professores. É sempre um trabalho em conjunto. O acompanhamento profissional é importante desde que se sabe do transtorno, porque há estratégias para lidar com esses sintomas”. Ela diz que a atuação do psicólogo é fundamental também para controlar as oscilações de humor, a impaciência e o estresse, principalmente em adolescentes e adultos.

Quanto à conscientização, Carla ressalta que ainda é preciso evoluir muito, tanto em relação ao TDAH como outros transtornos, porque, ainda hoje, com o diagnóstico em mãos, muitos pais ou responsáveis não levam a condição a sério. A Unama de Ananindeua possui um plantão psicológico, em que os profissionais atendem a comunidade em geral.

Jovens com transtorno têm dificuldades na rotina

Como citado pela especialista, um dos efeitos do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é a baixa capacidade de concentração que esses pacientes enfrentam durante a vida. O publicitário Rodrigo Macedo, de 27 anos, teve o diagnóstico aos 23, em 2017, após ler uma matéria que falava sobre essa condição. Até então, ele não sabia da existência do quadro e passou muito tempo achando que era desatento por uma característica pessoal. Rodrigo até chegou a desistir de um curso por conta da dificuldade, mas só foi entender pelo que passou quando estudou sobre o TDAH.

“Quando eu li e vi que tinha muita coisa que eu passava, procurei uma psicóloga e um psiquiatra, e depois de me ouvir eles me confirmaram o TDAH. Ninguém da minha família tinha conhecimento sobre o transtorno, então ninguém nunca desconfiou. Eu sempre tive muita dificuldade, mas não era algo que parecesse um problema real. Era só o meu ‘jeito’. Eu tive sorte de receber todo suporte possível depois da descoberta, porque a minha família tem consciência sobre transtornos mentais há muitos anos”, conta.

Segundo o jovem, depois do diagnóstico, ele passou a entender melhor situações que aconteciam com ele e que antes não sabia por que aconteciam, como a irritação em ambientes muito barulhentos, a impulsividade e falta de atenção. Rodrigo começou a se tratar com medicamentos e lembra que os efeitos foram muito visíveis.

“Como o meu diagnóstico é recente, eu não tenho certeza de onde o TDAH me afeta, mas eu sei das dificuldades de concentração que eu tenho e a irritabilidade e impulsividade, principalmente quando estou em um ambiente com muita gente conversando ou fazendo barulho. Por exemplo, no momento, estou com dificuldade de responder essas perguntas porque tem muita gente falando aqui perto de mim”, comentou, sorrindo.

Para ele, conscientizar as pessoas sobre o transtorno é muito importante. Em sua experiência pessoal, Rodrigo diz que, se tivesse mais informação na época em que estava na escola, poderia ter tido um desempenho melhor ou mais facilidade nas relações interpessoais.

Já a estudante de direito e de psicologia Thécia Fonseca, de 26 anos, diz que os sinais do TDAH sempre foram muito perceptíveis em sua infância. Ela conta que era muito hiperativa e, como tem um irmão gêmeo, havia a constante comparação entre os dois: ele mais quieto e ela “elétrica”.

“Eu gostava muito de correr, coisa de criança, mas não ficava quieta na sala de aula, não me concentrava, sempre foi algo que me atrapalhou muito na vida. Também tinha dificuldade de participar de atividades em que a criança fica quieta, como ler livros e fazer atividades. Sempre gostei mais de ficar em movimento, pular, subir nos lugares. Minha mãe fala que eu tinha que sentar na frente porque se ficava atrás não prestava atenção na aula, isso desde a segunda série até a faculdade”, lembra a jovem.

Já na adolescência e fase adulta, Thécia começou a perceber mais a hiperatividade como patologia, e não como algo da infância. Além de não conseguir terminar as atividades que começava, ela se tornou impulsiva em várias áreas da vida: estudos, dia a dia e relações em geral. “Comecei a dar mais atenção a isso quando iniciei a terapia, há uns três anos. Percebi que tinha uma deficiência muito grande para controlar meus impulsos. Sempre que havia uma situação, eu não parava para pensar antes. Até para comer, eu nem refletia se realmente queria aquilo, só comia. Isso já gerou muitas explosões, e logo a reação passava e eu não ficava remoendo, não percebia o que poderia causar em outras pessoas”.

Outro sintoma é o esquecimento. Muitas vezes, Thécia diz que saiu do quarto para fazer algo na sala e, chegando no ambiente, já não lembrava o que ia fazer – chegava a realizar outras atividades, e só lembrava da necessidade inicial depois. A desatenção também sempre foi frequente. Quando a estudante começou a estagiar em um escritório, várias vezes esqueceu as instruções recebidas, e precisava gravar as demandas para conseguir desempenhá-las. Mas todos esses sintomas ficaram mais controlados depois que ela começou o tratamento do TDAH, em maio deste ano. Thécia toma remédios e faz acompanhamento psicológico e psiquiátrico.

“Acho que deve existir esse mês de conscientização e as pessoas devem estudar. É muito comum crianças não terem um olhar e um cuidado diferente, porque nem todos os professores dão atenção. E a terapia também é essencial, me ajudou muito. O primeiro passo é ter conhecimento do transtorno, depois entender como funciona e se adaptar”, opina a jovem.

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