Após críticas por carreatas, candidatos a prefeito de Belém mudam estratégia de campanha

Eleitores demonstraram sua insatisfação nas redes e a maioria dos postulantes decidiu suspender a manifestação

Keila Ferreira

Aos finais de semana, apoiadores de candidatos a prefeito ou vereador tomam as ruas da capital paraense em carreatas que percorrem vários bairros da cidade. Permitidos pela justiça, esses eventos ajudam a mobilizar os grupos políticos, divulgar o nome de quem está na disputa e chamam a atenção por onde passam. Porém, têm cada vez mais gerado estresse e reclamação. No último domingo, eleitores usaram suas redes sociais para denunciar os transtornos causados pelas carreatas, como engarrafamento, barulho provocado pelos fogos de artifício, buzina dos veículos e carros de som, sujeira em razão do material de propaganda distribuído, além das aglomerações, que representam risco em meio à pandemia do novo coronavírus. Tanta reclamação fez com que alguns candidatos repensassem a forma como esses eventos estão sendo conduzidos – uma vez que ao invés de contribuírem com a campanha, têm provocado rejeição de parte da população. 

"Não voto nesses que ficam insistindo", afirmou Bruna Lobato, feirante de 38 anos. Ela trabalha no bairro da Pedreira e afirma que as carreatas são um grande incômodo tanto para feirantes como consumidores. "O problema maior é o barulho e o trânsito", afirma. A diarista Yasmim Mendonça, de 25 anos, também reclama do caos no trânsito provocado por esses eventos, da sujeira e falta de respeito às recomendações de distanciamento social. "Se já incomoda aglomeração de pessoas em um bar, no caso de campanha também deveria ser proibido". O ambulante Marcos Campos, de 27 anos, acredita que o principal problema gerado pelas carreatas é o barulho. "Eles têm que mostrar o trabalho deles, mas incomoda porque são muitos fogos e tem muitos pássaros e cachorros. Eles também fazem uma bagunça no trânsito".

CANDIDATOS

Alguns moradores de Belém recorreram aos perfis dos próprios candidatos à Prefeitura, nas redes sociais, para demonstrar que desaprovam a forma como esses eventos vêm sendo conduzidos. 

Publicamente, Gustavo Sefer (Coligação “Frente Democrática Reconstruir Belém” – PSD / PP), foi o primeiro a se manifestar após as reclamações do último domingo. Ele publicou um vídeo em suas redes sociais falando sobre a sua primeira carreata realizada na cidade e afirmando que, em respeito à população, não vai mais realizar este tipo de manifestação até o final das eleições.

"A campanha política não pode atrapalhar o funcionamento de Belém. Eu sou um ser humano que erra, mas que procura aprender com os erros e corrigir. Pelo bem da cidade, pelo bem dessas pessoas, a partir de hoje sem mais carreatas. Mas a campanha segue a todo vapor", declarou. O LIBERAL procurou as assessorias de todos os candidatos para saber se alguma medida seria adotada, após a população reagir contra as manifestações.

Mario Couto (PRTB) também aboliu esses eventos de sua campanha. Em nota, ele argumenta que na nova política não há mais espaço para desrespeito e "gastos desenfreados com dinheiro público para promover espetáculo", e afirma que, em sua campanha, "toda e qualquer manifestação que importune ao próximo não tem vez". Por isso, o candidato afirma que vai manter apenas as caminhadas nos bairros, "ouvindo as pessoas e levando de maneira simples as nossas propostas".

A assessoria de Cássio Andrade, da Coligação “Inovar para mudar” – Solidariedade / Avante / Pros / PSB, ressaltou que a campanha é feita dentro do legalidade e como conta com pouco tempo de TV, de rádio e poucos recursos financeiros, tem buscado todas as formas de mobilização, para apresentar suas propostas. Em nota, pediu desculpas por qualquer transtorno que os eventos da campanha possam ter provocado e argumentou que, embora haja rigor no planejamento, o entusiasmo dos apoiadores e das adesões, às vezes, fazem com que a situação saia do controle. Por isso, tomou a decisão de realizar apenas mais uma carreata, próximo das eleições, "com redobrado controle de poluição sonora, obedecendo todas as regras da Justiça Eleitoral e da legislação ambiental do município".

A assessoria de Vavá Martins (Republicanos) observou que o candidato, como deputado federal, levanta a bandeira pelos idosos, proteção animal e as crianças de espectro autista. Nesse sentido, protocolou um projeto de Lei contra poluição sonora e os fogos de artifício. Em seus eventos, é proibido usar fogos de artifício ou fazer buzinaço. O volume da música de campanha também é controlado, além de se respeitar aos horários determinados pela lei. Segundo a equipe de Vavá, como tudo tem sido respeitado, a campanha vem recebendo bons feedbacks dos eleitores. 

Em nota, a assessoria do Delegado Federal Eguchi (Patriota) respondeu que não recebeu nenhuma reclamação de suas carreatas, porque não usa fogos de artifício e nem faz buzinaço, uma vez que o partido tem como lema a sustentabilidade. As medidas também buscam proteger os autistas, os pets e os Idosos. "Tomamos sempre o cuidado, quando fazemos as carreatas, de usar somente uma pista, para não causar obstrução no trânsito. Sempre andamos em baixa velocidade e não interrompemos o trânsito, quando fecham os sinais, porque aguardamos os demais carros se juntarem novamente. Usamos a sonorização dentro do aceitável, e até porque não temos dinheiro para contratar Carros/SOM de Médio ou Grande porte, afinal a nossa campanha é feita de doações", diz a nota, afirmando ainda que tomam o cuidado de baixar o som ao passar perto de hospitais, asilos ou outros logradouros que necessitem de silêncio.

Já a campanha de Edmilson Rodrigues, da Coligação “Belém de Novas Ideias” (PT / Rede / UP / PC do B / Psol / PDT), defende que qualquer tipo de tumulto deve ser evitado em nome do bom senso e do respeito às normas sanitárias. Nesse sentido, afirma que nas carreatas é adotado um formato mais limitado em termos da quantidade de veículos e roteiros mais curtos em diferentes pontos da cidade, seguindo em fila indiana, sem causar aglomeração ou congestionamento. "Não usamos fogos de artifício por compreender o incômodo causado a bebês, idosos e pessoas doentes ou com algum tipo de deficiência, além dos animais domésticos. Também determinamos o uso obrigatório de máscaras, evitar aglomeração e manter as mãos higienizadas com álcool em gel. Idêntica preocupação se estende a todas as atividades presenciais da campanha", ressaltou.

A coligação Juntos Por Belém (MDB / PTB / PSL / Pode / PSC / PL / DC), do candidato Priante, informou que não recebeu nenhuma reclamação formal sobre a carreata realizada no último domingo (18). A coligação ressaltou ainda que as carreatas são permitidas por lei e que se preocupa em seguir todos os protocolos.

Os demais candidatos não responderam.

AÇÕES 

Sobre a sujeira gerada nesses eventos políticos, a Secretaria Municipal de Saneamento (Sesan) informou que, aos domingos e feriados, equipes de plantão fazem a varrição dos principais corredores da cidade, como praças, vias de grande circulação e pontos turísticos. Durante a semana, o trabalho é feito conforme o calendário de limpeza. Em relação à poluição sonora, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma) esclareceu que, em virtude de não serem eventos fixos, não é possível monitorar, mas o Tribunal Regional Eleitoral deve notificar os partidos, visto que é o órgão que realiza a fiscalização da atuação durante a campanha. Quanto ao trânsito, a Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana de Belém (Semob) informou que, quando é protocolado informação da realização de carreata e ponto de concentração, orienta aos organizadores que optem por vias com pouco fluxo de veículos ou que possuam sentido único, para não interferir no direito de ir e vir das demais pessoas. O órgão também ressalta que independente do período, as regras de trânsito continuam valendo e, caso haja flagrante de infrações como avanço de sinal vermelho, circulação ou estacionamento sobre calçadas, faixa de pedestres e ciclofaixas, realiza os procedimentos previstos pela legislação.

O Ministério Público Eleitoral diz que, desde o início do ano, vem fiscalizando a regularidade e lisura do processo eleitoral em todo o Estado, zelando pela correta aplicação das leis eleitorais. Em abril de 2020, por exemplo, a Procuradoria Regional Eleitoral no Pará já havia recomendado a todos os Órgãos Partidários Estaduais dos Partidos Políticos no Estado do Pará, para que encaminhassem aos seus diretórios municipais orientações sobre os cuidados sanitários no período de campanha eleitoral (primeiro e segundo), medidas higiênico-sanitárias necessárias à prevenção do coronavírus, se atentando às particularidades locais consignadas pela Secretaria de Saúde Pública e pelo chefe do Poder Executivo Estadual.

No dia 20 de setembro, o MP Eleitoral emitiu ofício ao secretário de Saúde Pública do Pará (Sespa), solicitando a elaboração de parecer técnico para subsidiar esses órgãos na adoção e fiscalização de medidas voltadas a aplicação das regras e protocolos sanitários apropriados, no esforço de controle da covid-19 nas Eleições 2020 no Pará. O parecer com as orientações foi emitido pela Sespa no dia 2 de outubro. Nele consta, entre outras orientações, que deve ser mantido o distanciamento de 1,5 metros entre as pessoas em qualquer evento ou ato de propaganda eleitoral; o contato físico com abraços ou apertos de mão são desaconselhados; e os eventos devem ser realizados em espaços amplos e preferencialmente ao ar livre.

O MP Eleitoral observa que a população pode contribuir na fiscalização fazendo denúncia por meio do canal virtual do MP Eleitoral, que pode ser acessado pelo portal do MPPA. "O promotor eleitoral atua de acordo com as denúncias que chegam na Promotoria. Dependendo do caso, ele pode tomar medidas preventivas ou apurar e punir os responsáveis, caso a situação já tenha ocorrido".

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