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Pesquisador diz que retomada do lixão do Aurá traria problemas graves

Decisão da Justiça impediu o que André Farias qualifica de crime ambiental

João Thiago Dias
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Retomar as operações de destinação de resíduos no lixão do Aurá, em Ananideua, que está desativado desde 2015, seria uma decisão criminosa e irresponsável, pois ocasionaria uma série de impactos ambientais no solo, água, ar e até na saúde da população. A avaliação é do professor do Núcleo de Meio Ambiente (Numa) da Universidade Federal do Pará (UFPA), André Farias, que trabalha há mais de dez anos com pesquisas na área ambiental e coordena Grupo de Pesquisa Avaliação Ambiental de Grandes Projetos na Amazônia (GAAGPAM) da universidade.

Nesta semana, as Prefeituras de Belém e Ananindeua divulgaram que o Aurá seria uma alternativa para destinação de lixo se o aterro sanitário se Marituba encerrasse as atividades de recebimento, como estava previsto desde novembro do ano passado por conta de incapacidade técnica e falta de acordo financeiro com a empresa responsável pelo empreendimento. Mas o Tribunal de Justiça do Estado determinou que o aterro deve funcionar pelo próximos quatro meses, período calculado como razoável para definição de outras alternativas para o problema.

Para André Farias, esse plano emergencial configuraria um caos ambiental. "É inviável e criminoso porque existe a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que proíbe que essa operação volte para um lixão a céu aberto. Jamais poderia começar a funcionar sem estudo de impacto ambiental, licença de instalação e licença de operação", explicou o professor.

A Lei nº 12.305/10, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, contém instrumentos que visam o avanço do País no enfrentamento dos principais problemas ambientais, sociais e econômicos decorrentes do manejo inadequado dos resíduos sólidos.

Dentre algumas determinações, cria metas importantes que contribuem para a eliminação dos lixões e institui instrumentos de planejamento nos níveis nacional, estadual, microregional, intermunicipal e metropolitano e municipal; além de impor que os particulares elaborem seus Planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos.

"Sendo assim, voltar para o Aurá queimaria todas as etapas e causaria riscos para a natureza, que entende-se por solo, água, ar e homem. Também teríamos a grande proliferação de vetores de doença, como mosquistos, ratos, baratas. Eles circulam. Poderíamos ter epidemia de dengue, chikungunya, leptospirose, efeitos muito nocivos", alertou André Farias. 

A contaminação da água da cidade seria outro problema grave. "O Aurá fica próximo de cursos d´água. Toda a Região Metropolitana é entrecortada por recursos hídricos. O chorume, que é o produto da decomposição do resíduo, afetaria esses recursos sem parar. Risco iminente para os mananciais Bolonha e Água Preta, que ficam na mesma bacia hidrográfica".

Para o professor, o problema da destinação do lixo em Belém é reflexo de um sistema deficiente agravado pela falta de coleta seletiva. "Se no aterro sanitário já apresentou alguns problemas, imagina nem um lixão a céu aberto! Sem falar que a contaminação pelo ar seria grave, porque temos um regime de ventos na Amazônia que pode carregar partículas perigosas à saúde humana", ponderou.

Segundo o pesquisador, o ideal seria que o lixão do Aurá já estivesse passando por processo de recuperação, já que era utilizado com sobreposição de camadas e gerou gás metano. Esse gás precisa ser tratado. É uma área degradada com passivos ambientais. Deixando o lixo nas ruas ou utilizando o Aurá, estamos diante de um caos ambiental. A população não merece escolher entre uma situação ruim ou outra pior", criticou André. 

Ele esclarece que manter o aterro sanitário recebendo resíduos também não é o ideal. "Deveriam fechar o aterro, mas não utilizar o Aurá. É um problema que deveria ser resolvido de forma consorciada entre Prefeituras e Estado. Deveriam destinar para outra área, mas falta transparência para que nós, pesquisadores, tenhamos acesso às possibilidades de áreas que podem ser licenciadas. Além disso, é um erro deixar a questão do lixo dependendo do sistema de privatização de uma empresa", concluiu o pesquisador.

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