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Vizinhos de bacia de rejeitos em Barcarena temem novo vazamento

Somente pista construída pela Imerys separa comunidade do parque da mineradora

Victor Furtado
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No bairro Industrial de Barcarena, algumas famílias moram a poucos metros de uma bacia de rejeitos da Imerys. A produtora de caulim é que se instalou onde outras pessoas já moravam. Perto demais do igarapé do Dendê. A única coisa que divide a área residencial da estrutura é uma pista, feita pela própria empresa. Uma via que tem causado transtornos, devido a uma obra recente. A vida na área tem sido repleta de transtornos há anos. Os moradores nem sabem mais a quem recorrer. É uma tragédia por dia, que vitima a população lentamente, afirmam. Mesmo sem que um rompimento total de barragem ocorra.

Dona Cleia Marinho, de 32 anos, mora de frente com a bacia da Imerys, no bairro Industrial. “Desde que ocorreu esse problema em Brumadinho, agora dormimos com um olho aberto e outro fechado. Com medo que aconteça mais uma desgraça. Já teve um vazamento, em 2007, que estragou nossa água. E às vezes, quando a gente acorda, de manhã, as plantas estão todas brancas, cobertas com um pó. Só pode vir de lá”, diz. Os problemas respiratórios são frequentes.

Após o vazamento de 2007, o rio Pará foi poluído, mas chegou aos igarapés do Dendê, Curuperé, São João e aos rios Mucurupi e Das Cobras, que foram gravemente afetados. Quem ainda consumiu a água suja, adoeceu de várias formas. Após muitos problemas, a empresa e a prefeitura chegaram a uma solução. Uma empresa chamada São Francisco criou uma rede de distribuição de água encanada.

Nesse vazamento histórico, mais de 350 mil litros de água misturada com caulim e outros rejeitos escaparam do terceiro tanque de contenção da Imerys. À época, representantes da empresa reconheceram que lidavam com “vazamentos controlados”, que seriam de “baixo impacto ambiental e facilmente contornáveis”. Mas os resultados atingiram ao menos 500 famílias dessas áreas. Ao menos 100 precisaram sair de suas casas, por ordem da Defesa Civil.

O Laboratório de Química Analítica e Ambiental da Universidade Federal do Pará (Laquanam/UFPA), no entanto, contestou essa versão de baixo risco do caulim. E informou que essas águas foram poluídas por anos, sequencialmente, com caulim. A empresa se instalou em Barcarena em 1996. O produto da indústria é uma argila branca, usada em papeis, cerâmicas e tintas.

Cleia afirma que a água encanada da São Francisco é de baixa qualidade. Ela mostrou à reportagem. De fato é: escura e ferrugenta. “Só serve para roupas, limpeza.. até para banho não é boa. Para consumir, não dá. É no garrafão de água mineral direto. A água dobrou de preço”, relata. Os filhos e ela já adoeceram por consumir a água da São Francisco. Lembra com saudade do poço que tinha, mas que teve de fechar por contaminação de caulim.

REFORMA

Outro problema tem tirado o sono dos moradores que moram de frente com a barragem da Imerys: a reforma da pista da empresa está destruindo as casas, afirmam. A casa de Cleia está trincada e cheia de rachaduras. Tudo desde que a obra começou, há cerca de cinco meses.

A obra, além de recompor o asfalto, está acrescentando uma nova vala e um tubo. Possivelmente, um novo sistema de drenagem da pista, em caso de chuva ou qualquer outro acidente. Para onde vai o tubo, quando ficar pronto, os residentes da área não sabem, mas desconfiam.

De todos os transtornos nas casas do moradores, nada se compara ao dano causado ao imóvel de Maria do Socorro Ribeiro, de 54 anos. Ela conta ser uma das primeiras moradoras do bairro Industrial, na avenida Brasil. A obra da empresa de caulim fez a casa dela desabar. Nos primeiros buracos abertos nas paredes, a empresa fez um “reparo” com uma tábua de compensado e disse que estava seguro. Dias depois, tudo desmoronou de vez. A casa parece ter sido atingida por um bombardeio.

“Os bombeiros condenaram minha casa. Mandaram eu sair. Precisava mesmo. Aí a empresa me deu um auxílio de R$ 250 de aluguel. O que eu vou alugar com isso? E ainda ficavam dizendo: olha, não chame a imprensa, a gente resolve. Isso que é a resolução? Essa empresa, em um dia, destruiu o que me custou 13 anos de trabalho na prefeitura para construir. Faz cinco meses que estou fora de casa”, desabafa Socorro.

IMERYS OPERA COM DUAS BACIAS

Em nota enviada à redação, a Imerys informa que as suas operações no Pará “possuem atualmente duas bacias em operação em Barcarena: a BC-03 e a BC-06. As bacias operam de acordo com a legislação vigente e com reportes rotineiros aos órgãos fiscalizadores”.

“Foram investidos nos últimos três anos R$ 35 milhões para garantir a operação segura das bacias. Medidas como o revestimento com geomembrana para o isolamento do solo, moderna estação meteorológica, estudos de estabilidade dos maciços com sondagens, análises geotécnicas e bacia de segurança fazem parte desses investimentos”. “Além destes investimentos, a Imerys também monitora os níveis das bacias por 24 horas, buscando sempre que os mesmos atendam a legislação e os padrões de segurança máxima do sistema”

“A empresa afirma que existe um plano de emergência e que as mesmas medidas de segurança e monitoramento são aplicadas às demais bacias desativadas”, informa a nota, ao complementar que as “bacias armazenam basicamente água e caulim”.

ALUNORTE MONITORA DEPÓSITOS

Em nota enviada à redação, a Alunorte informa que “possui dois depósitos de resíduos sólidos – DRS1 e DRS2 – com tecnologia de empilhamento a seco, o que resulta em um material que tem um percentual altamente sólido. Ambos não são classificados como barragens pela legislação brasileira. As áreas de depósito de resíduos sólidos da Alunorte possuem sistema de filtragem dos resíduos, o Filtro Prensa, coleta de água e gestão de efluentes com a tecnologia mais avançada do mundo para o descarte de resíduos sólidos de bauxita e são monitoradas por instrumentos geotécnicos que garantem sua segurança e estabilidade operacional, além de serem avaliadas em auditorias e inspeções internas e externas. O DRS 2 permanece sob embargo judicial.”

“A Alunorte conta com o Plano de Atendimento à Emergência e está desenvolvendo o Plano Emergencial de Apoio às Comunidades (PEAC). Entre as ações previstas: a empresa capacitou uma brigada de emergência ambiental comunitária em 2018, que tem como objetivo alertar e orientar as comunidades do entorno o mais rapidamente possível, com foco nos eventos decorrentes da operação da refinaria.”

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