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Entidade do setor florestal considera 'precipitada' a Operação Akuanduba, da Polícia Federal

“A gente precisa parar de criminalizar”, diz diretor da Unifloresta. São 35 os mandados de busca e apreensão cumpridos no Distrito Federal, São Paulo e Pará, em endereços ligados ao ministro Ricardo Salles e ao Ministério do Meio Ambiente

Dilson Pimentel
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Diretor jurídico da Associação da Cadeia Produtiva Florestal da Amazônia (Unifloresta), Murilo Araújo, classificou nesta quarta-feira (19) como “precipitada", a Operação Akuanduba, da Polícia Federal - que mobiliza hoje 160 policiais federais e cumpre 35 mandados de busca e apreensão no Distrito Federal, São Paulo e no Pará, em endereços ligados ao ministro Ricardo Salles e ao Ministério do Meio Ambiente. Para Araújo, a operação é "mais uma mácula" sobre o setor.

Segundo diz o representante da Unifloresta, a operação trata de "coisa que foi bem esclarecida, transparente, ninguém escondeu". Segundo diz ele, "não havia necessidade" de fazer "investigação, busca e apreensão". Para Araújo, "isso só demonstra que existe uma briga de poderes e que, nessa briga, o setor produtivo está pagando. Estão querendo derrubar um presidente, atingir os  seus ministros e estão usando o setor como bode expiatório”. As ordens de cumprimento de 35 mandados foram expedidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Murilo Araújo ainda acrescentou: “Precisamos combater a madeira ilegal, o desmatamento ilegal, a queimada ilegal. Mas não se pode fugir da sustentabilidade. A gente precisa parar de generalizar, de criminalizar, de criar máculas”. Ele também lamentou o afastamento dos servidores do Ibama, “que são altamente técnicos. Nunca nos deram qualquer tipo de abertura para diálogos que não tenham sido profissionais e técnicos. Todas as reuniões deles eram registradas”.

“Precisamos combater a madeira ilegal, o desmatamento ilegal, a queimada ilegal. Mas não se pode fugir da sustentabilidade. A gente precisa parar de generalizar, de criminalizar, de criar máculas”, diz Murilo Araújo, diretor jurídico da Unifloresta

Realidade do setor é desconhecida, diz Unifloresta


Segundo afirma o diretor jurídico da Unifloresta, a sociedade e as autoridades ainda estão mal informadas sobre a realidade no setor. “Ainda são muito influenciados pela imprensa. A imprensa, quando fala do desmatamento, da devastação, do aumento da camada de ozônio, fala do madeireiro. Na verdade, se camufla que quem é responsável por isso é uma sociedade que consome de maneira indiscriminada, que não entende que, quanto maior o consumo, mais desmatamento irá acontecer”.

Segundo afirma ainda Murilo Araújo, ao contrário do que se pensa, "o setor de base florestal tem o principal instrumento de combate ao desmatamento, às queimadas e a neutralização do CO 2: o plano de manejo florestal sustentável”.

Araújo ressalta que a operação da Polícia Federal, e a decisão do ministro do STF, Alexandre de Moraes, de afastar pessoas do Ibama, de fazer busca e apreensão em empresas, no ministro (do Meio Ambiente) e do presidente do Ibama, “é consequência dessa má informação, desse equívoco que as autoridades têm sobre o setor florestal”. 

image Segundo afirma Unifloresta, setor não pode ser criminalizado (Agência Pará)

Economia do setor é 'vítima de funcionários do Ibama'


Ao tratar das atividades de exportação, Murilo Rodrigues frisa que o setor de base florestal é "vítima de funcionários do Ibama" que foram desidiosos e deixaram de fazer ato de ofício. Ele explica que, antes, o Ibama tinha a Instrução Normativa número 15. As madeiras que estavam ameaçadas de extinção precisavam passar por um crivo, para ser exportadas.

Precisavam, portanto, de uma autorização especial para ser exportadas. “O órgão ambiental precisava fazer uma maior checagem para saber a origem dessa madeira. Veio a Instrução Normativa 15 e estendeu isso para todas as madeiras. Todas as madeiras que fossem exportadas no Brasil passavam por uma checagem. Além do processo que existia dentro do Brasil, de licenciamento, de guia florestal, de autorização da madeira geral, quando chegasse no porto, ele precisaria passar por uma nova reanálise dos órgãos ambientais”, explica Murilo Araújo.

O Ibama, no Pará, segundo diz a Unifloresta, tinha um posto nas docas. Mas o tirou e  o colocou na sede do órgão, que fica na travessa Lomas Valentina, em Belém. “No porto, todas as pessoas que exportavam tinham um local para protocolar esse pedido de exportação para ser avaliado. Era avaliado e autorizado”, afirma Araújo. Aí, a partir daquele momento, esse protocolo passou a ser feito na sede do Instituto.

“E os exportadores começaram a fazer os pedidos junto ao Ibama. Eles mandam a carga para o porto e fazem o pedido. Se o Ibama não avaliou, a carga automaticamente é exportada. Se tiver algum problema, o Ibama para e verifica o ontêiner. Se tiver errado, não exporta”, disse o diretor jurídico. 

Só que, depois que esse procedimento começou a ser feito na Superintendência, passou-se um ano e eles não deram uma autorização de exportação, afirma Araújo. “Em determinado período, entre 2019 e 2020, início de janeiro de 2021, no porto de Savannah (EUA), detectaram que algumas cargas não tinham essa autorização. Não estamos falando de madeira de origem ilegal. Estamos falando de um documento que não tinha sido emitido pelo Ibama. Essa matéria tem origem legal. No Brasil todo funcionava normalmente. Só no Pará os funcionários do Ibama foram omissos durante mais de um ano e não deram esse documento”.

A carga então foi apreendida e havia a ameaça de ser incinerada. O então superintendente do Ibama, tomou conhecimento desse fato.  E, devido ao grande acúmulo de madeiras que estavam sendo exportadas, o setor florestal procurou o superintendente, para saber a razão pela qual esse documento não havia sido emitido durante um ano.

“Surgiu ali um dilema: como resolver os problemas das cargas acumuladas para serem exportadas? O Pará começou a acordar para emitir essas autorizações e eram muitas cargas e não tinha gente suficiente. Esse foi o primeiro dilema”, diz Murilo Araújo.

O segundo dilema era como resolver o problema das cargas apreendidas naquele porto. “E o terceiro dilema: como ficariam as cargas que, durante todo esse tempo, tinham sido exportadas sem essa autorização (a Instrução Normativa número 15)”, disse.

image Toras de madeira apreendidas no Pará (Sefa)

Certidões de madeira legal


Segundo afirma o representante da Unifloresta, o setor florestal começou a dialogar com a Superintendência, e, para resolver os problemas daquelas apreensões, emitiu várias certidões dizendo que a madeira era legal.

"Mas isso não estava sendo suficiente. Aí, mandaram alguns funcionários fazerem análise dessas madeiras que estavam lá. Na análise, eles esconderam o problema deles por baixo do pano e disseram que a madeira foi (exportada) sem autorização. E e autuaram as madeireiras”, afirma Araújo.

Quanto às novas cargas que estavam ainda esperando autorização, o setor e os despachantes entraram em acordo com o Ibama para uma forma de verificação, que colocou mais pessoas para fazer esse trabalho, diz a Unifloresta. E começou a verificar. “E como é que ficavam as cargas depois de mais de um ano, dois anos que tinham sido exportadas. Esse assunto só poderia ser resolvido pelo Ibama de Brasília, o que foi feito pelas lideranças do setor. E o presidente do Ibama deu outra decisão: entendeu que já existia outra instrução normativa, a número 21, que criava o Documento de Origem Florestal (DOF), que era suficiente para fazer a exportação. Esse despacho dizia quem, quem exportou com o DOF desde 2014, estava acobertado. Mas isso gerou uma porção de sequelas, porque as ONGs começaram a dizer que facilitaram a exportação. “Tudo isso gerou um enorme desconforto para todo o setor, mas que foi resolvido com o despacho do presidente do Ibama”, afirma Murilo Araújo.

E, logo em seguida, se criou a Instrução Normativa 01, de 2020, que cria o Sistema Integrado de Comércio Exterior - Siscomex. "O Brasil não pode ficar preso a análise manuais quando se trata de exportação, porque isso vai contra toda uma lei internacional. A exportação é uma coisa automática. Contêineres não podem ficar parados, pois estão cheios. Gera consequência para outros produtos”, disse Araújo. “A madeira passa por uma espécie de higienização, uma química, para poder exportar”.

Ele acrescentou: “A inconformidade de algumas ONGs, das pessoas que não entenderam como funcionou, fez isso. E, agora, fizeram uma busca e apreensão como se o setor, ao procurar os seus direitos, estivesse fazendo advocacia, uma corrupção. Nada disso houve. Foram lideranças. E se no nosso país isso vira moda, os representantes do setor começarem a procurar as autoridades para poder lutar pelos seus direitos dos associados, virar crime? Começa a ter um verdadeiro mingau e um mingau azedo sobre essas questões”.

“A inconformidade de algumas ONGs, das pessoas que não entenderam como funcionou, fez isso. E, agora, fizeram uma busca e apreensão como se o setor, ao procurar os seus direitos, estivesse fazendo advocacia, uma corrupção. Nada disso houve. Foram lideranças. E se no nosso país isso vira moda, os representantes do setor começarem a procurar as autoridades para poder lutar pelos seus direitos dos associados, virar crime? Começa a ter um verdadeiro mingau e um mingau azedo sobre essas questões. Quem se mete com o setor florestal é criminoso?”

image Toras armazenadas em ação de fiscalização: "setor é criminoso?", questiona a Unifloresta (divulgação)

“Quem se mete com o setor florestal é criminoso? Essa é a avaliação que está se fazendo, porque isso foi abertamente feito, houve publicidade do setor florestal. O setor florestal está em uma situação em que existe uma discriminação política, uma discriminação da imprensa e uma discriminação internacional e não estão parando para ver que ele é solução. Estão batendo nele, estão desviando o foco de quem desmata, quem queima, e estão batendo no setor de base florestal", afirma Murilo Araújo.

O representante da Unifloresta diz ainda: "A Justiça decide, depois vem outra Justiça que muda. Depois, vem órgão ambiental que diz que tá ilegal. Ou seja, qual a segurança disso? Não existe segurança jurídica. Como é que vai se fazer investimento? Quer dizer que o  Brasil o investimento só é seguro aquilo que preserva, não é seguro o que é sustentável? A gente vive uma hipocrisia, porque a sobrevivência da humanidade depende da sustentabilidade A sociedade só vê a madeira derrubada, mas não vê que a madeira derrubada, de maneira legal, é a mesa dela, serve para o papel, serve para a construção”.

 

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