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Conheça a paraense que participa da pesquisa para a vacina contra a covid-19

Nascida em Belém, a única doutora em Pesquisa Clínica em Doenças Infecciosas no Pará, Cleonice Justino, afirma que esforço conjunto de pesquisadores fará a diferença

Cleide Magalhães

Desde o início da pandemia da covid-19, que atinge milhares de pessoas no mundo e chegou no Pará oficialmente em 18 de março deste ano, começou a corrida de vários países para a descoberta de vacina que possa combater o novo coronavírus (Síndrome Respiratória Aguda Grave - Sars-Cov-2).  Segundo levantamento do G1 nacional, o Brasil tem, ao menos, 11 projetos de candidatas à vacina contra a covid-19. Todos estão sendo desenvolvidos em universidades e instituições de pesquisa públicas do país.

Uma das pesquisadoras envolvidas para capacitar, possibilitar e receber futuras pesquisas da fase II ou III como candidatas à vacina contra a doença causada pelo novo coronavírus é paraense e nascida na capital, Belém. Trata-se da doutora em Pesquisa Clínica em Doenças Infecciosas Cleonice Justino. Ela é também médica pesquisadora em Saúde Pública e professora do curso de Medicina da Universidade Federal do Pará. E está envolvida na pesquisa da Aliança Covax, da qual o Brasil faz parte, liderada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), um instrumento para garantir acesso a vacinas contra covid-19, especialmente nos países em desenvolvimento.

"É preciso desmistificar a ideia de que só o Sul e Sudeste produzem pesquisa de qualidade" - Cleonice Justino, doutora em Pesquisa Clínica em Doenças Infecciosas.

Alguns fatores peculiares e importantes a levaram a integrar uma equipe de pesquisadores internacionais para descoberta da vacina contra a covid-19. O fato dela ser a única médica no estado do Pará com doutorado em Pesquisa Clínica em Doenças Infecciosas pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro.

Além disso, por quase dez anos, foi coordenadora da área médica nos ensaios clínicos de fases II, III e IV da vacina contra rotavírus ocorridos no Instituto Evandro Chagas (IEC), na época sob a liderança do doutor Alexandre Linhares, médico virologista paraense de renome mundial. “Essa vacina é oferecida desde 2006 no Programa Nacional de Imunizações e a experiência acumulada nesses estudos, naturalmente, motivou a identificação de Belém como centro de pesquisa em potencial”, destaca a doutora.

A doutora Cleonice Justino explica que a Aliança Covax recebe incentivos de instituições como a Fundação Bill e Melinda Gates, que por sua vez propicia a execução de ações de qualificação e aperfeiçoamento de centros de pesquisa com capacidade para condução de estudos de larga escala na América Latina, fortemente atingida pela pandemia. No Brasil, quatro centros de pesquisa foram contemplados, sendo Belém o único centro da Região Norte.

"É muito cruel pensarmos que no século XXI, quando doenças como a varíola e a poliomielite foram erradicadas graças a ação de vacina em várias partes do mundo, ainda encontremos resistência com imunização" - Cleonice Justino, doutora em Pesquisa Clínica em Doenças Infecciosas.

A PESQUISA

O projeto iniciou em setembro deste ano e tem previsão de término em janeiro de 2021, quando as equipes e os centros de pesquisa terão concluído a capacitação e ampliação de suas estruturas físicas para futuro recebimento de protocolos de pesquisa com vacinas candidatas na América Latina.

A pesquisadora informa que o Brasil tem vacinas candidatas em fases II e III promissoras quanto à eficácia e segurança. Entretanto, ela pondera que “é preciso aguardar a conclusão de todas as etapas desse processo e identificar aquela que melhor se adeque ao perfil da população local”.

CAPACITAÇÃO

Na visão dela, uma das formas de propiciar resultados confiáveis em menor espaço de tempo é ampliar o número de centros e de participantes de pesquisa em todo o mundo. “Quanto maior o número de participantes em um estudo, maior a confiabilidade dos resultados”, enfatiza a doutora.

No momento, a doutora em Pesquisa Clínica em Doenças Infecciosas coordena uma equipe no IEC, que recebe treinamentos voltados às normas que regem a pesquisa clínica, mundialmente. “A finalidade é que os pesquisadores envolvidos possam estar capacitados para a realização de ensaios clínicos com vacinas candidatas contra a covid-19, dentro do mais elevado rigor científico, garantindo, assim, a qualidade e confiabilidade dos dados obtidos, passíveis de auditorias e inspeções por órgãos regulatórios”, explica.

Os órgãos regulatórios são o FDA (agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos), EMEA (Agência Europeia de Avaliação dos Medicamentos) e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do Ministério da Saúde.

“É preciso desmistificar a ideia de que só o Sul e Sudeste produzem pesquisa de qualidade. Temos contribuído com a formação crescente de mestres e doutores no Pará”, defende a doutora.

AVANÇOS

Ao refletir sobre os principais avanços e melhorias da pesquisa no Brasil, a doutora Cleonice Justino, considera que o País conta com saúde pública predominante e boa produção em ciência. Porém, precisa melhorar as chances de financiamento e diminuir a burocracia. “Nossa pesquisa costuma ser respeitada em todo o mundo, mas ainda lutamos com dificuldades importantes para obtenção de financiamento e com entraves burocráticos, que precisam ser melhor organizados e atrativos, para nos aproximar, ainda mais, da ciência que é desenvolvida nos países economicamente mais fortes”, avalia.

Em relação ao Pará, ela ressalta que o Estado tem recebido incentivos no campo da pesquisa e a necessidade de desmistificar que a pesquisa desenvolvida não apresenta qualidade. “Temos um centro de excelência, boas universidades e pesquisadores que não desistem de seu compromisso com a ciência. É preciso desmistificar a ideia de que só o Sul e Sudeste produzem pesquisa de qualidade. Temos contribuído com a formação crescente de mestres e doutores no Estado, a fim de fortalecer a importância da pesquisa da Amazônia para o mundo”, frisa a doutora Cleonice Justino.

Para ela, é fundamental o fortalecimento dos Programas de Imunização e o esclarecimento à sociedade sobre a importância das vacinas frente aos movimentos antivacinas que existem pelo mundo afora inclusive no Brasil. “É muito cruel pensarmos que no século XXI, quando doenças como a varíola e a poliomielite foram erradicadas graças a ação de vacina em várias partes do mundo, ainda encontremos resistência com imunização. Importante ressaltar que vacinas reduzem a gravidade das doenças e salvam muitas vidas. No Brasil, temos um dos melhores programas de imunização do mundo e precisamos lutar para fortalecê-lo e protegê-lo cada vez mais”, defende.

“Um esforço conjunto de pesquisadores ao redor do mundo todo, e não somente um pesquisador, é o que fará a diferença, e todos estão trabalhando arduamente”, afirma a professora-doutora Cleonice Justino

ESFORÇO MUNDIAL

A doutora em Pesquisa Clínica em Doenças Infecciosas afirma que pesquisadores do mundo todo trabalham de forma incessante para obter uma ou mais vacinas contra covid-19, que apresente resultados robustos de eficácia, segurança e imunogenicidade.

“O rigor profissional, ético e regulatório que envolve todas as etapas desse tipo de pesquisa é elevadíssimo. A chegada de uma ou mais vacinas, embora seja de extrema importância, pode não ser o fim da pandemia. Pois ainda teremos pela frente o enorme desafio da produção e distribuição, com prioridade para os grupos mais afetados pela doença. Assim como em várias doenças infectocontagiosas cuja gravidade, e mesmo o adoecimento, pode ser prevenido por meio de vacinas, não resta dúvida de que o esforço mundial para a obtenção de vacinas que possam auxiliar no combate à pandemia deve ser encorajado”, afirma Justino.

A professora-doutora Cleonice Justino reforça que o mundo está diante de uma doença nova, causada por um vírus com potencial enorme de transmissibilidade, que ainda apresenta muitos aprendizados e somente a atuação conjunta global fará a diferença frente à pandemia da covid-19.  

“Costumo dizer que, desde que a ciência existe, o pesquisador é o primeiro a chegar e o último a sair. Um esforço conjunto de pesquisadores ao redor do mundo todo, e não somente um pesquisador, é o que fará a diferença, e todos estão trabalhando arduamente. A saúde avançou ao longo dos séculos apoiada nos passos firmes e serenos da ciência, não podemos nos afastar disso. Sigamos fortes e unidos nesse esforço global”, solicita a doutora e paraense Cleonice Justino. 

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