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Conheça a história de Mosqueiro, a quase capital paraense

Mais do que um refúgio para quem busca tranquilidade e lazer, a 'Bucólica' guarda curiosidades e atrativos ainda pouco conhecidos dos visitantes

Victor Furtado
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Por pouco, no século XVII, Mosqueiro não se tornou a capital do Pará. O potencial turístico e a beleza do espaço sempre foram atrativos e justificativas. Mas a ideia nunca avançou tanto pelas dificuldades logísticas e ficou em Belém mesmo. Vários títulos foram dados, na tentativa de ocultar o nome que lembrava moscas: Ilha do Amor, Vila e Bucólica. Mas se alguém ainda pensa que Mosqueiro tem a ver com os insetos, bem, pode esquecer agora mesmo.

Há pelo menos duas possíveis origens para o nome da ilha de Mosqueiro. Uma delas é relacionada à pratica do moqueio de peixes. É uma técnica de conservação do pescado, que consiste em assá-lo envolto numa folha. Era costume dos índios da etnia Tupinambá. Essa origem é reconhecida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E é uma das mais aceitas, como aponta o historiador Diego Pereira, coordenador do curso de História da Unama.

Outra hipótese, levantada por Claudionor Wanzeller, é associada ao pirata/aventureiro/corsário espanhol Ruy Garcia de Moschera. Numa das viagens, chegou a Mosqueiro com o navio danificado após uma tempestade. Estabeleceu uma base na ilha e foi muito bem recebido pelos indígenas. Deu à base o próprio nome. Mas faltam bases mais sólidas para esse tese.

Há mapas antigos, do século XVII, que indicam uma "Ponta do Moschera", que era às proximidades da praia do Areão. Eventualmente, se tornou "Ponta do Musqueira". Antes, essa mesma área se chamou "Ponta da Pedreira" e "Ponta do Bitar". Mosqueiro, à época, teve o nome de Ilha de Santo Antônio.

A história de associar o nome Mosqueiro com moscas sempre resistiu ao tempo. Tanto que, na década de 1910, várias propostas apareceram para mudar o nome. Um movimento específico queria chamar a ilha de Guajarina. Uma alusão à baía do Guajará e ao cinema que foi inaugurado na vila, o Cine Guajarino. A proposta foi publicada no jornal A Folha do Norte, em 1917, num artigo que mencionava um empresário que dizia ter dificuldades em vender seus produtos com a identificação "Made in Mosqueiro". A explicação sobre a origem do nome já foi dada, mas certamente ainda haverá piadas com a ideia das moscas.

Só no período colonial, no século XVIII, como concordam alguns historiadores e geógrafos, é que a ocupação da ilha realmente começou. O núcleo original era o bairro do Carananduba, que antes era Conceição do Benfica. Lá foram instaladas as primeiras habitações. Entre elas, a fazenda Sant' Anna e a fazenda Conceição. Ambas no território que hoje compreende a praia do Paraíso, ressalta Diego Pereira.

Mosqueiro é um distrito de Belém, que fica a 70 quilômetros da sede da capital. Antes, só se chegava de barco. O cenário começou a mudar em 1970, com a construção da rodovia hoje chamada de PA-391, a estrada de Mosqueiro. Desde a construção da ponte Sebastião de Oliveira, em 1976, a ilha começou um processo de urbanização diferenciado.

O ápice do desenvolvimento, reforça o professor, foi mesmo no ciclo da borracha. Foi nessa época, de uma cultura muito religiosa, que foi se estabelecendo o Círio de Nossa Senhora do Ó, padroeira da ilha e uma das imagens de Maria mais diferentes. É a única versão da Virgem de Nazaré grávida. A festividade completou 150 anos, em 2018.

No início, a ocupação se deu de forma muito diversa. Alemães, ingleses, franceses e norte-americanos se estabeleceram na ilha. Por muito tempo, era um espaço muito exclusivo e difícil acesso. O perfil socioeconômico, explica Diego Pereira, foi muito diferente. Mas ao passo que o acesso foi sendo facilitado por vias terrestres, as classes sociais foram se misturando. Outras ocupações foram ocorrendo.

Em 1868, Mosqueiro ganhou o status de freguesia. Em 1985, se tornou uma vila e então oficializada como distrito de Belém. Até hoje se fala na possibilidade de emancipação. Há uma reclamação histórica de abandono por parte da prefeitura de Belém. E de falta de poder decisório e executivo da agência distrital. Não é diferente do que ocorre com Icoaraci.

Desde o início da ocupação, o potencial turístico de Mosqueiro era notado. São 23 praias de água doce (nem todas acessíveis) e belezas naturais, numa orla total de 17 quilômetros (nem todas com projetos urbanísticos específicos). Mais recentemente, foi descoberto o potencial para esportes aquáticos radicais. O turismo sempre foi o motor da economia da ilha. Ainda que poucas políticas promovam esse setor diretamente.

Muito do turismo da ilha é totalmente orgânico. As pessoas vão até lá por saber que se trata de um lugar natural, bonito e com uma gastronomia peculiar. As tapioquinhas, pasteis e peixes assados, para muita gente, são bons motivos para uma visita. Isso levou algumas pessoas a preferir morar lá. E já são cerca de 50 mil habitantes, registrados no Censo de 2010, do IBGE.

"Para o futuro, Mosqueiro precisa ter políticas de turismo melhoradas. Requer programações culturais, pois só costuma se falar mesmo em julho. Precisa de limpeza das praias e saneamento básico. É um desafio antigo, mas não se pode mais ter esgotos sendo jogados nas águas. Quem sabe, devido aos debates de emancipação, não será Mosqueiro a se enquadrar num projeto de Belém do futuro, mas sim a própria Mosqueiro do futuro?", conclui Diego Pereira.

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