Centenas de pessoas se reúnem para homenagear São Benedito

O tema deste ano foi "Se sou devoto de São Benedito, devo ser discípulo e missionário de Cristo".

Dilson Pimentel

Com o tempo parcialmente nublado, aproximadamente 100 mil pessoas participaram, na tarde desta quinta-feira (26), da procissão em homenagem a São Benedito, cuja imagem foi conduzida, em um andor, pelo centro histórico do município de Bragança, no nordeste paraense, distante 220 quilômetros de Belém. São Benedito, cujo dia é celebrado hoje, é o santo protetor dos escravos e padroeiro da cidade. A programação, que faz parte da "221ª Festividade do Glorioso São Benedito de Bragança", começou dia 18 deste mês e terminou hoje. O tema deste ano foi "Se sou devoto de São Benedito, devo ser discípulo e missionário de Cristo". A realização é da Diocese de Bragança do Pará, da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário e da Irmandade da Marujada de São Benedito de Bragança.

Centenas de pessoas se reúnem para homenagear São Benedito

A festividade de São Benedito é uma manifestação cultural e religiosa. A programação religiosa é formada por missas, novenas, ladainhas, procissão fluvial e terrestre, e a programação cultural conta com rituais de apresentações da Marujada, shows católicos de bandas e cantores regionais. Os primeiros rituais da festividade ocorrem entre os meses de abril e maio, por meio das esmolações, que é o conjunto de atos religiosos realizados por três comitivas de esmoladores. Eles percorrem as regiões dos campos, colônias e praias, circunvizinhas a Bragança e outros municípios, angariando esmolas e ofertas para a festividade. A festividade tem início no dia 18 de dezembro, às 5 horas, com a alvorada, e vai até o dia 26 de dezembro com a procissão.

Coordenador da festividade, Dário Benedito Rodrigues falou sobre essa que é uma das mais populares festas religiosas do Pará. "Em se tratando da festividade e da Marujada, a sua importância é a de celebrar a devoção a São Benedito já há mais de dois séculos e fazer reverência à cultura local que tem, na Marujada, sua principal manifestação cultural, reforçada pelo aspecto religioso. Essa festa é a tradução da alma bragantina e seu ponto mais importante", disse. Dário acrescentou: "Nossa expectativa também é a de vivenciar mais aprofundada a nossa cultura local, tendo na festividade a sua celebração anual e tendo, na Marujada, um dos elementos mais importantes desse culto/devoção a São Benedito, tão recheado de bens culturais. É o Natal colorido de Marujada dos bragantinos".

Para Dário Benedito Rodrigues, a festividade é a principal manifestação cultural, religiosa e folclórica de Bragança. Segundo ele, é uma festa que congrega a família bragantina e a família regional (os moradores daquela região). "Bragança vira o epicentro da festividade, junto com a Marujada, que é a sua principal amostra cultural. A festa tem essa simbiose entre o cultural e o religioso, e envolve uma série de outros eventos: cavalhada, muita dança, reza, canto, ladainhas, esmolação e os leilões. E a parte indumentária, que é a característica da Marujada", afirmou. "Dia 26 de dezembro (hoje) é o Natal do bragantino. É o Natal com São Benedito. Só faz sentido se tiver São Benedito", contou. "Temos, em Bragança, a maior festa de São Benedito realizada pela Igreja Católica. Começa em março e termina em dezembro. O volume de pessoas movimenta a economia do Nordeste do Pará e da nossa região do Caeté. Movimenta os bragantinos que estão aqui e no exterior", disse.

Também historiador e professor da Universidade Federal do Pará, Dário Benedito disse que a festa de São Benedito tem como sua principal manifestação a Marujada de Bragança. "A Marujada acontece o ano todo. Mas, nos dias 25 e 26 de dezembro, ela se avoluma, se agiganta. A Marujada dança, faz toda a execução coreográfica, seus rituais, e participa fervorosamente com a indumentária, a parte característica cultural mais importante da festividade. E todo mundo faz parte. Vem com roupa de marujo e presta sua homenagem. São devotos, promesseiros. E a defesa dessa boa tradição desses costumes vem pela ligação de fé e identificação com São Benedito", afirmou.

Centenas de pessoas se reúnem para homenagear São Benedito

Às 7 horas desta quinta-feira, houve missa solene da Festividade do Glorioso São Benedito, presidida por Dom Jesus Maria Cizaurre Berdonces, bispo diocesano de Bragança do Pará, que ocorreu no Largo de São Benedito, com novena a São Benedito (9º dia), sob a responsabilidade da equipe de liturgia da festividade. A Marujada se veste com traje em vermelho e branco, em homenagem a São Benedito. Às 9 horas, ocorreu a arrumação e decoração da imagem do Glorioso São Benedito do Andor, pela equipe responsável. Às 10 horas, leilão da festividade, no salão Beneditino. Às 12 horas, almoço oferecido pelo juiz da Festividade, Raimundo do Socorro Ferreira de Souza, na sede Casa do Leão (Lions Clube de Bragança), na avenida Nazeazeno Ferreira. Às 15h30, louvação a São Benedito, na Igreja de São Benedito, com as Comissões de Esmolações.

E, a partir das 16 horas, começou a procissão solene com a imagem do Glorioso São Benedito do Andor. A caminhada da fé percorreu o seguinte itinerário: Largo de São Benedito, avenida Visconde do Rio Branco, travessa Senador José Pinheiro, avenida Visconde de Sousa Franco, Praça da República, alameda Leandro Ribeiro, travessa Coronel Antônio Pedro, Praça da Bandeira, avenida Nazeazeno Ferreira, travessa Dom Pedro I e rua Pinheiro Júnior retornando ao Largo de São Benedito, onde houve missa campal, sob a responsabilidade da equipe de liturgia da festividade. Ponto alto da festividade, a procissão, com quase três quilômetros de extensão, percorreu as ruas do centro histórico de Bragança, onde foi feriado nesta quinta-feira, e durou mais ou menos duas horas e meia. Após a missa, houve a apresentação da Marujada, no Teatro Museu da Marujada. A partir das 21 horas, programação cultural, com Toni Soares, sob a responsabilidade da Secretaria Municipal de Cultura, Desportos e Turismo. E, à meia-noite, encerramento da Festividade com a Marujada no entorno da Igreja de São Benedito. A festividade teve início no final do século XVIII, quando escravos negros organizaram uma irmandade em louvor ao santo preto. O governador Helder Barbalho acompanhou a procissão.

Fiéis falam do santo padroeiro 

Francisca das Chagas Barbosa Souza, 62 anos, nasceu em Bragança, mas mora em Castanhal. Acompanha a festividade desde 14 anos de idade. "Foi uma graça alcançada. Tive um problema de saúde que não tinha médico nenhum que descobrisse. Não dormia, não comia, parecia uma depressão, mas na época ninguém falava em depressão. Eu tinha uns 12 anos. E minha mãe fez um voto com São Benedito. Se eu ficasse boa, eu ia sair de maruja enquanto tivesse saúde. E comecei com 14 anos. Fui embora pra Castanhal em 1984, mas todos os anos eu venho", contou. "Minha mãe já partiu. Mas continuo com aquele compromisso com Deus, com o glorioso São Benedito e com ela", afirmou. "Ele representa muita fé, é muito poderoso. Sei que ele não é Deus, mas tem mais poder de interceder junto a Deus que eu", acrescentou.
Joana Correia Braga tem 61 anos e acompanha a festividade há 30. "Eu quase morro. Foi no parto do derradeiro filho. Eu estava sem esperança de vida. E tive essa benção de São Benedito", disse ela, mãe de 11 filhos. "Minha promessa é acompanhar a procissão", afirmou. "São Benedito é tudo na minha vida. E, enquanto for viva, quero que ele represente muito mais ", completou.

O vigilante noturno Antonio Maria Rufino tem 54 anos e acompanha a festa há 35. "Ele é o protetor de nossa cidade e de nós também. Já tive muitas graças alcançadas. Saúde, família", disse. "Minha filha (Gilmara, hoje com 26 anos) passou uma porção de tempo na cama, com as pernas travadas. Ela tinha 17 anos na época. Fizemos a promessa e ela ficou boa", disse ele, acompanhado do neto, Rômulo Gustavo, de 7 anos e vestido de marujo.

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