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Bioeconomia paraense cresce com avanços da ciência

Sementes são convertidas em gemas orgânicas por processo industrial desenvolvido pela Embrapa

Victor Furtado
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Um dos principais avanços das biojoias paraenses foram as pesquisas em beneficiamento das sementes. O principal trabalho atualmente é da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Amazônia Oriental). Lá, sementes que poderiam ser descartadas ou nem sequer teriam valor comercial, se tornam gemas orgânicas.

Um dos próximos passos é descobrir novos materiais e processos específicos para cada matéria-prima. A pesquisadora Noemi Vianna, do Laboratório de Sementes Florestais, é quem conduz alguns dos trabalhos pioneiros nessa área.

A ideia de começar a trabalhar no beneficiamento de matérias-primas e biojoias começou há 18 anos. Foi quando a pesquisadora ganhou um colar feito em materiais naturais. Ela usou e então guardou numa caixinha. Numa outra ocasião, em que foi pegar a peça, viu um monte de bichinhos dentro da caixa. Era a peça que havia propiciado a reprodução de vários organismos. Então, como cientista, pensou no que poderia ser feito.

Para a região amazônica, o principal obstáculo para biojoias é a umidade, que varia entre 80% e 98%, em condições regulares. Como os materiais são naturais, existe um universo em biodiversidade que pode se aproveitar de resíduos e da água para se reproduzir. Principalmente fungos. Um bom tratamento das biojoias evita, inclusive, problemas de saúde.

Muitos designers e artesãos fazem a secagem dos materiais antes da construção das peças. Só que essa secagem, ao sol, não é suficiente. Numa semente, há várias camadas com água. E o tingimento costuma ter água. A umidade nunca sai por completo.

Uma semente de açaí costuma ser composta de 28% de água. Para ser totalmente isenta de atividade orgânica, precisa ficar, pelo menos, em 7%. Com as técnicas da pesquisa de Noemi, saem com 5% ou menos. E isso garante uma durabilidade que já passou de 10 anos. E continua na contagem de resistência.

Tecnologia

Muitos artesãos e designers de biojoias já sabem que podem contar com a estrutura da Embrapa para esse trabalho. Os materiais passam por secagem numa estufa e depois recebem tratamento com luz ultravioleta. Só que o ideal, para o desenvolvimento dessa indústria da bioeconomia criativa seria haver mais espaços com essa tecnologia. Noemi Vianna sugeriu o Parque de Ciência e Tecnologia do Guamá.

Açaí e outros tipos de sementes, após o beneficiamento adequado, podem ser submetidos a diversos processos de corte, molde, pintura e serem agregados com a outros materiais. Isso inclui metais, elementos sintéticos e até materiais recicláveis, cuja classe ecojoia começa a ganhar popularidade.

Inovações

Uma das matérias-primas mais valiosas, atualmente, são as sementes de jarina. São consideradas o "marfim vegetal", pois as cores são parecidas com o marfim normal. Mas há um desafio preocupante para essa espécie.

A reprodução das jarinas, mesmo assistida, é bem difícil. A ocorrência do vegetal é no Acre e no Amazonas, em condições muito específicas de geografia e clima. Mas a população dessas áreas, acostumada a usar, sem qualquer receio, peças com esse material, nem enxerga o risco de extinção. Uma das preocupações do mercado de biojoias é que os materiais usados nunca sejam recursos esgotáveis.

Na busca por novos materiais, já foram identificados alguns componentes que reagem bem aos processos de beneficiamento. E são, esteticamente, bem avaliados: açaí branco, angelim pedra, babaçu, bacaba, breu sucuruba, fava arara tucupi, flamboyant, inajá, jutaí-mirim, morototó, muruci, paxiúba, patauá, tento, tucumã e uxi. Mas nem toda semente ou casca cabe nesse processo. A castanha-do-pará e a seringueira são algumas espécies que, por exemplo, ainda não possui um processo de beneficiamento adequado.
"Precisamos de investimento em ciência e tecnologia, para descobrir novas espécies de materiais e novos processos.

A cadeia produtiva precisa ser organizada, para eliminar a figura de atravessadores. E montar estrutura. Em Santarém, há pessoas que deixaram a pecuária para se dedicar ao plantio de cumaru. E há outras espécies, como pan cravo — de Altamira, muito semelhante ao cravinho da Índia — e o pau-rosa, base dos perfumes da Channel. A floresta em pé é riqueza que ainda não conhecemos e sabemos explorar. É oportunidade", conclui Noemi.

Confira alguns insumos de biojoias e suas origens

Açaí
Encontrada em grande quantidade na Amazônia, é uma das espécies mais utilizadas na fabricação de biojoias.

Babaçu
Encontrado no Maranhão, Piauí e Tocantins e possui alto valor industrial e comercial.

Buriti
Proveniente de diversas regiões, como Maranhão, Pará, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Tocantins e Minas Gerais, é chamado pelos indígenas como “Árvore da vida”.

Tucumã
Fruto original dos estados do Acre, Amazonas, Pará e Rondônia. Nesse caso, a semente chega a ser tão resistente quanto um metal.

Jarina
Encontradas na Amazônia, as sementes da jarina amadurecidas tornam-se duras, brancas e opacas como marfim.

Capim dourado
Pode ser encontrado em todo o cerrado brasileiro, principalmente na região do Jalapão, Tocantins. A palha possui uma cor dourada brilhante que, quando seca, pode ser trabalhada para a produção da biojoia.

Juta
Fibra têxtil vegetal, proveniente de climas úmidos e tropicais, encontrada na região amazônica.

Palha da bananeira
É possível extrair cinco tipos de fibras, mas apenas um tipo pode ser tingido. A bananeira é encontrada sobretudo nas regiões Nordeste e Sudeste ou em regiões úmidas e quentes.

Coco
As fibras provêm do caroço e podem ser encontradas em locais de clima quente e úmido.

Bambu
Possui mais de mil espécies, encontradas em sua forma nativa, em praticamente todos os estados do país.

Perfil dos consumidores de biojoias:

- 3 em cada 10 brasileiros podem ser considerados consumidores conscientes e potenciais consumidores de biojoias;
- Consumidores das classes C, D e E são os mais propensos a atitudes conscientes e práticas ambientais positivas;
- Jovens entre 18 e 29 anos são os que representam maior número de consumidores conscientes.

Principais consumidores de produtos do Brasil:

Bijuterias: Estados Unidos (US$ 3.491)
Folheados de metais preciosos: Alemanha (US$ 18.866)
Joalheria/ourivesaria metais preciosos: Estados Unidos (US$ 12.958)
Obras e artefatos de pedras: Estados Unidos (US$ 4.490)
Pedras preciosas em bruto: China (US$ 11.952)
Pedras lapidadas: Estados Unidos (US$ 12.115)

Fontes: Relatórios de Inteligência Sebrae 2014 e 2016

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