A riqueza dourada do Pará

Ele tem o poder de fazer os nossos olhos brilharem. Desperta paixões, causa encantamento, deixa os sonhos mais reluzentes. Valioso, há muitos séculos tornou-se adorno nas orelhas, nos dedos humanos. Enriquece letras de músicas, valoriza objetos de arte, aguça a curiosidade do paladar na alta gastronomia; consagrou-se como elogio na língua portuguesa e, em outros tempos, chegou a deixar as pessoas “cegas” por ganância. Se você tem acompanhado esta coleção, já percebeu que não é de hoje que o Brasil é reconhecidamente um país rico em minérios. Neste fascículo, falaremos do, talvez, mais nobre e mais cobiçado deles: o ouro.

O ouro (cujo nome vem do latim “aurum”, “brilhante”) é o elemento químico de número atômico 79 da tabela periódica (símbolo Au). É o metal mais maleável e dúctil (propriedade que indica o grau de deformação que um material - nesse caso, o minério - pode atingir) da natureza. Tem como propriedades, ainda, ser resistente à corrosão e um bom condutor de calor. O ouro e suas ligas metálicas (misturas feitas com outros minérios), como sabemos, são bastante empregados no ramo da joalheria, em objetos de ornamentação de ambientes, na fabricação de moedas e como padrão monetário (lastro financeiro) em muitos países. 

Na vida do ourives Marcelo Monteiro, por exemplo, o ouro virou ofício e se consolidou como uma tradição de família que auxilia a sustentar gerações. Trabalhando no ramo de confecção de jóias há 43 anos, Marcelo aprendeu com o pai a arte de esculpir o metal e transformá-lo em peças desejadas e com grande apelo comercial. Hoje, mesmo com todas as mudanças do mercado e diante de um momento desafiador como a pandemia, o ourives soube se reinventar e segue colhendo os frutos dourados dessa relação com o minério. “O valor agregado do ouro, sem dúvida alguma, é um diferencial marcante. Além disso, culturalmente, representa status e poder na sociedade. Peças em ouro têm a característica de não sofrerem alterações depreciativas pela ação do tempo como, por exemplo, perda de valor agregado no mercado. [Oferecer] joias com preços mais atrativos foi uma estratégia vital para quem se propôs a continuar no mercado. Com isso, os produtos tiveram que ter custos menores para maior rotatividade do produto.”, afirma Marcelo. 

Possuindo múltiplos usos, o que você talvez não saiba é que, na indústria, o ouro atua como catalisador (acelerador de reações químicas) e condutor de eletricidade. Por isso, é usado na fabricação de componentes de produtos do setor eletrônico como placas de computadores, telefones celulares, aparelhos de TV e câmeras, por exemplo. Sim, existe ouro no mecanismo do celular que você utiliza no dia a dia. 

De um dourado reluzente atrativo e reconhecido por todos, é um dos minérios mais antigos e preciosos do mundo, descoberto pelo homem, segundo registros históricos há, pelo menos, 2.600 anos a.C. Tem papel importantíssimo na história socioeconômica mundial. Alguns dos registros mais conhecidos do uso do ouro vêm do Egito, quando o minério era utilizado para enfeitar e valorizar tumbas e artefatos. Para se ter ideia da durabilidade e da relevância desse minério no Egito antigo, em fevereiro deste ano, foi encontrada por uma equipe de arqueólogos da Universidade de Santo Domingo (República Dominicana), na escavação do templo de Taposiris Magna, a oeste da cidade de Alexandria, uma múmia que possuía um artefato em formato de folha de ouro no lugar onde deveria estar a língua humana. O amuleto, nesse caso, segundo os pesquisadores, faria parte de rituais fúnebres e serviria para estabelecer comunicação entre o cadáver e o deus Osíris, o “deus funerário”, deus do julgamento, segundo a mitologia egípcia. A múmia em questão pode ter vivido, de acordo com os estudiosos, durante a chamada dinastia Ptolemaica (304 a.C. a 30 a.C.) ou nos primeiros dias do domínio romano, em 30 a.C. 

No Brasil, o ouro foi o responsável por movimentar grande parte da economia durante o período colonial, entre meados do século XVII e o século XVIII. Com o declínio da economia açucareira por conta da forte concorrência que Portugal enfrentava diante da produção das colônias do Caribe, lideradas pela Holanda, foram retomadas as atividades de busca e extração de minérios, tendo como principal deles o ouro. Foi ele que impulsionou a atividade mineradora (bem diferente de como conhecemos agora), após ser encontrado em grandes extensões dos Estados de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. Na realidade, a grande “corrida” pelo ouro no país teve seu início logo após a descoberta do Brasil, uma vez que os colonizadores identificaram que, aqui, existiam solos repletos de minérios de grande valia.

Mais especificamente no Pará, segundo registros históricos, a primeira descoberta de ouro ocorreu na região do rio Tapajós, no ano de 1747. Entretanto, a atividade de extração teve seu início, efetivamente, a partir dos anos 1950, quando foi achado ouro aluvionar (encontrado onde há acúmulo de fragmentos de outras rochas que podem estar no fundo, nas margens ou no curso dos rios) no rio das Tropas, afluente da margem direita do rio Tapajós. De acordo com estudos publicados pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB), a Agência Nacional de Mineração (ANM) e o Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), as principais localidades onde há maior concentração do minério no Pará são as regiões de Carajás (município de Parauapebas) e Tapajós (municípios de Itaituba, Jacareacanga). “Na realidade, estes municípios refletem os terrenos geológicos no estado onde as condições geológicas foram mais favoráveis para a formação dos depósitos de ouro”, afirma o geólogo Régis Krás, professor de geologia da Faculdade de Geociências da Universidade Federal do Pará (UFPa). Foi somente a partir da descoberta de “Serra Pelada”, região localizada no Pará que foi considerada o maior garimpo a céu aberto do mundo nos anos 1980, que a produção aurífera brasileira se tornou expressiva saltando de cerca de 20 toneladas para mais de 100 toneladas anuais no final daquela década.

No Estado, os métodos de extração e beneficiamento do minério de ouro provenientes de minas em operação utilizam, principalmente, procedimentos que envolvem britagem, peneiramento, moagem e classificação. “Estas etapas, que conjuntamente constituem o que definimos como “preparação”, têm a intenção de diminuir o tamanho das partículas das rochas que contêm o ouro, ou seja, em uma grande quantidade de casos o ouro é muito fino ou, então, está dentro da estrutura de outros minerais e só pode ser recuperado por métodos especiais, chamados hidrometalúrgicos. Estes métodos fazem o ouro “boiar”, depois que ele é separado da rocha. Outro processo de extração do ouro, mais moderno, utiliza um método químico denominado cianetação, através do tratamento de “pilhas” de minério em locais preparados para o ataque químico. A lixiviação em pilhas de minério é o principal método de beneficiamento de minérios oxidados de ouro de baixo teor.”, como explica o geólogo. Além da mineração especializada e automatizada, ainda é possível encontrar na região garimpeiros que atuam na extração do minério utilizando, na maioria das vezes, técnicas rudimentares e nem sempre legalizadas. “Um dos aspectos mais marcantes envolvidos na exploração do ouro no Estado do Pará, bem como em outros estados mineradores do Brasil, é a diferença operacional entre a atividade garimpeira e a atividade industrial representada pelas empresas de mineração. Enquanto que o garimpeiro, isoladamente ou em grupos, utiliza técnicas rudimentares para a descoberta e posterior extração do ouro em igarapés e grotas, ou então através de poços e barrancos, as mineradoras utilizam métodos de pesquisa e tecnologia de ponta em seus projetos de pesquisa mineral. A partir de então, a empresa inicia seus estudos de viabilidade econômica para definir vários aspectos como tamanho do depósito mineral (tonelagem, teor de minério), vida útil da mina, método de beneficiamento, etc.)”, explica Régis Krás. 

Em 2019, o Brasil foi considerado o 19° produtor mundial de ouro, com uma produção anual de 90 toneladas, segundo a Agência Nacional de Mineração (ANM). No Pará, de acordo com os dados mais recentes publicados pelo Anuário Mineral do Estado, no ano de 2018, foram exportadas 2,7 toneladas do minério que geraram uma movimentação financeira de 104 milhões de dólares. Ainda em 2018, segundo o Anuário, a maior exportação de ouro do Pará ocorreu para os Emirados Árabes, a Bélgica, a Índia e a Itália. 

Para o ouro, o futuro segue brilhante, promissor. O minério tem se mostrado um importante aliado das pesquisas científicas mais recentes voltadas, principalmente, para o desenvolvimento da nanotecnologia. A aplicação do ouro, em porções nanométricas (menores que um milímetro, por exemplo) tem mostrado resultados bastante úteis na busca por soluções que visam a melhoria contínua da saúde humana e a sustentabilidade do planeta. Uma revolução microscópica, invisível  - e dourada - que, juntamente com outros minérios, está cada vez mais perto de nós e trará grandes impactos sociais, econômicos em todos os setores, para todo o mundo. 

 

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