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Baixa participação nas eleições ameaça legitimidade de regime teocrático no Irã

Para os analistas, fato indica um sinal de descontentamento com o atual governo

Agência Estado

Diante de centros eleitorais vazios, as autoridades iranianas estenderam das 17 horas de ontem para as 2 horas de hoje a votação no país, temendo que menos da metade dos eleitores fosse às urnas. O governo há muito usa o comparecimento para reforçar sua legitimidade, apontando para a forte participação dos eleitores como prova de que o Irã é uma democracia. A participação baixa seria, portanto, um sinal de descontentamento.

Até o início da noite de ontem, apenas 37% dos 59 milhões de eleitores haviam votado, segundo a agência Fars. O atual presidente, Hasan Rohani, foi reeleito no primeiro turno, em 2017, com 73% de participação. Em sua primeira eleição, em 2013, o comparecimento foi de 72%. Em 2009, quando Mahmoud Ahmadinejad venceu, 85% dos eleitores votaram.

Agora, o ultraconservador Ebrahim Raisi, aliado do líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei, é o grande favorito em um processo marcado pela desqualificação em massa de candidatos moderados e reformistas. As últimas pesquisas indicavam a vitória de Raisi, chefe do Judiciário, com mais de 60% dos votos. Os resultados serão conhecidos hoje, Caso ninguém atinja 50% dos votos, haverá segundo turno no dia 25.

A baixa participação, motivada por fatores que vão da pandemia à desilusão com a política, ocorreu mesmo após os apelos das autoridades para que os eleitores comparecessem às urnas. Para especialistas, o cenário preocupa e pode significar uma derrota para o regime teocrático que comanda o país.

Para o professor de política da Universidade de Teerã Sadegh Zibakalam, a baixa votação é um ponto de inflexão para o regime. "Se a maioria (dos eleitores) não participa das eleições, isso significa que a maioria não apoia mais a república islâmica", afirmou Zibakalam, em seminário do King's College London.

"Quer eu vote ou não, alguém será eleito", afirmou um lojista de Teerã, citado pela agência France Presse, dando o tom da apatia. "Eles organizam as eleições para a imprensa."

Embora o Irã nunca tenha sido uma verdadeira democracia, sempre houve um certo grau de escolha e competição nas eleições para presidente e Parlamento. No entanto, este ano, mais de 600 candidatos foram rejeitados pelo Conselho dos Guardiões, em uma seleção criticada por desqualificar várias figuras importantes associadas a facções centristas ou reformistas, incluindo Ali Larijani, ex-presidente do Parlamento e negociador nuclear. Dissidentes e alguns reformistas pediram um boicote à votação, dizendo que o veto a vários candidatos removeu qualquer competição genuína.

No entanto, a apatia dos eleitores também está relacionada à crise econômica, após três anos de sanções reinstauradas pelos EUA, quando abandonaram um acordo nuclear entre as potências mundiais e o Irã, e à campanha eleitoral restrita, em razão do aumento nos casos de coronavírus. O país registra mais de 82 mil mortos e mais de 3 milhões de casos.

O governo manifestou preocupação com o cenário. Na quarta-feira, o aiatolá Ali Khamenei fez um extenso discurso televisionado que alertava sobre uma conspiração estrangeira para minar a votação e tentou persuadir as pessoas a votarem, alertando sobre o "aumento da pressão" dos "inimigos" do Irã se os cidadãos não comparecessem às urnas.

Ele também reconheceu que muitos iranianos comuns, empobrecidos e castigados por anos de pesadas sanções americanas, podem não ver os benefícios da participação política. "Mas não votar por causa de reclamações (econômicas) não é correto", afirmou.

A professora de política do Oriente Médio na Universidade de Cambridge Roxane Farmanfarmaian afirmou ao jornal britânico The Guardian que o regime enfrenta uma crise de legitimidade. "Sempre soubemos que não são eleições livres em razão da seleção de candidatos, mas a seleção sempre refletiu os diferentes grupos do governo. Desta vez, não. Reflete o desejo de controlar a situação."

"Eu entendo aqueles que não votam", disse Mojtaba, iraniano que foi votar ontem com a mulher, Forough, e o filho de 5 anos. "Eles estão insatisfeitos porque a situação é difícil, mas vim defender o único voto que tenho."

Rohani reconheceu que gostaria de ver "mais gente" participando do processo eleitoral. "As eleições são importantes, aconteça o que acontecer. E, apesar dos problemas, temos de votar." O presidente deixará o poder em agosto com uma altíssima impopularidade.

Sua política de abertura ao Ocidente criou expectativas, mas decepcionou a população, especialmente depois de os EUA abandonarem o acordo nuclear e restabelecerem as sanções que afundaram a economia iraniana. O eleitorado reformista, que apoiou Rohani, o censurou por não fazer o suficiente para cumprir suas promessas de aumentar as liberdades individuais. 

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