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Presidente da FPF é acusado de comprar votos com bolas do Parazão e cestas básicas; ouça os áudios

Principais alvos são as ligas do interior, entidades municipais filiadas a FPF. O Liberal tem acesso a áudios de Adelcio Torres, que também atrasaria alvarás a filiados não comprometidos em conceder apoio

Nilson Cortinhas e Pedro Cruz
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Adelcio Magalhães Torres é presidente da Federação Paraense de Futebol desde 8 de janeiro de 2016. O primeiro mandato foi interino, por 150 dias, iniciado a partir do pedido de licença de Antônio Carlos Nunes de Lima - então mandatário máximo do futebol local - para assumir o comando da CBF. ‘Coronel Nunes’ passou 18 anos à frente da FPF, enquanto o sucessor busca a primeira reeleição.

A reportagem de O Liberal teve acesso a áudios e documentos que apontam para a prática de pequenas ajudas financeiras em troca de apoio na eleição, marcada para novembro deste ano. Bolas, jaquetas da CBF e até mesmo cestas básicas são moedas de troca pelo voto dos filiados. Os alvos são as Ligas Esportivas, entidades municipais vinculadas à Federação. 

DENÚNCIA

Vice-presidente da Liga Esportiva Municipal de Benevides, Redinaldo Pantoja afirmou a O Liberal que recebeu de Adelcio Torres a oferta de uma bola oficial do Campeonato Paraense em troca da formalização do apoio à chapa da situação.

“O nosso presidente [da Liga] solicitou a ajuda da Federação em prol de um atleta nosso que se machucou e precisava passar por cirurgia. Mas essa ajuda foi condicionada à questão do voto já para a presidência da FPF. Achei isso um absurdo”, contou Pantoja.

image Edmilson Alves e Redinaldo Pantoja da Liga Esportiva de Benevides (Sidney Oliveira/O Liberal)

“Eu não vejo condições do cara trocar um voto te oferecendo uma cesta básica e uma bola. Tenho que me posicionar contra. Não pode ser dessa forma. Eu vi, na fragilidade do presidente [da Liga], uma imposição”, reforçou.

ÁUDIOS

Em áudio obtido pela reportagem, Adelcio Torres sugere que a bola, que seria para uso dos clubes do Parazão, poderia ser rifada pela Liga para angariar fundos. “Posso te ajudar com uma bola do profissional do nosso Campeonato Paraense, original. Uma bola dessa é numa faixa de R$ 400 a R$ 500. Aí tu faz uma rifa. Pode ser? Pode mandar vir buscar aqui comigo”, oferece o presidente, para em seguida emendar.

“Tô contando contando contigo na minha eleição, hein cara? Eu estou com uma lista para você assinar, da tua liga. Pode ser?”, indaga.

Em outra gravação, o mandatário adianta mudanças na chapa. “Meus dois vices: Mário Ferreira Santana, o ‘Gugu’; e Raimundo Feliz”, explica.

Em uma das ocasiões, Torres oferece dinheiro para o presidente da Liga de Benevides. “Vai terça-feira comigo, de tarde, que a tua cesta básica, como ela já está com mais de um mês, eu doei para outra família também. Vou te dar dinheiro. Uma cesta básica lá é R$ 60, eu vou te dar R$ 100 para tu comprar uma pra ti. Aí tu compra o que tu queres”, encerra.

ALVARÁ

Para que possam exercer legalmente suas funções, as Ligas Municipais precisam da Licença de Funcionamento, uma espécie de alvará emitido pela FPF entre os meses de janeiro e fevereiro. O documento precisa ser renovado a cada ano e estaria sendo retido aos que ainda não declararam apoio à chapa da situação. 

“Estávamos desde fevereiro sem receber o nosso alvará. Isso quer dizer que o cara está condicionando um voto através de uma licença, do alvará de funcionamento. Ele condiciona o voto em troca de bola, cestas básicas. Isso não é certo, não é justo”, critica Redinaldo Pantoja.

image Licença Funcionamento Parazão Federação Paraense de Futebol Liga Esportiva de Benevides (Reprodução)

Edmilson Alves, que é secretário de finanças da Liga de Benevides, destaca que a assinatura de apoio à chapa do grupo de Adelcio Torres ocorre fora do prazo legal.

“Essa angariação de assinaturas para a aprovação da candidatura ainda não poderia estar acontecendo, só depois do edital de convocação para a eleição”, aponta.

A ELEIÇÃO

Clubes e ligas têm direito a voto da eleição para a presidência da Federação Paraense de Futebol. Para que uma chapa possa concorrer, precisa ter a assinatura de pelo menos 25% do universo de filiados.

“A assinatura dessa ‘lista de frequência’ é condicionante da eleição. Ela [lista] é justamente para você já ficar na mão deles, dizendo ‘esses aqui estão comigo’. Eles também têm que ter 25% de adesão à candidatura para poderem ser candidatos. Quando condiciona uma ajuda à assinatura desse documento, já é para ajudá-los a serem candidatos. Aí que entra a parte mais cruel”, reclama Alves.

O fato de assinar a lista de endosso à chapa não obriga o voto durante a eleição. No entanto, a prática de oferecer bolas e cestas básicas acaba por angariar a maioria dos filiados e inviabilizar a entrada de outras chapas no pleito.

“Não justifica dizer que eles vão ter o nosso voto, mas essa assinatura os condiciona a serem candidatos. Eles têm que ter pelo menos 25% das assinaturas para poder ser candidatos”, detalha Edmilson Alves.

FRAUDE

Se opositores podem ter a licença retida ou protelada, aliados recebem a liberação mesmo sem estar totalmente legalizado. Essa situação ocorreu com a própria Liga de Benevides, que, desde 2015, está em situação irregular com o fisco e ainda assim recebeu o alvará nos últimos anos.

Dois contadores consultados por O Liberal confirmaram que, como o CNPJ da Liga consta como ‘Baixado’ na Receita Federal, a entidade não poderia ter a Licença de Funcionamento registrada em cartório, como ocorreu, por exemplo, este ano. “Não há validade jurídica”, explicou um deles, que pediu para não ser identificado.

PRÁTICA RECORRENTE

O presidente da Associação das Ligas Desportivas do Pará (Alidesp), Ricardo Oliveira, afirma que a denúncia da Liga de Benevides não é exceção. Outras filiadas estão sem licença de funcionamento.

“Há algum tempo alguns outros presidentes vêm relatando isso a nós. Infelizmente, não sei se isso está condicionado à atual situação que estamos vivendo com relação às nossas licenças de funcionamento. Não sei se isso faz parte desse ‘modus operandi’, mas tudo indica que sim, uma vez que a FPF já deveria ter expedido a nossa licença de funcionamento em fevereiro, já estamos chegando a junho, acabou o Campeonato Paraense e nós, do interior, não podemos fazer o nosso campeonato oficial porque não temos a nossa licença”, argumentou Oliveira.

image Ricardo Oliveira presidente da Alidesp Associação das Ligas Desportivas do Estado do Pará (Sidney Oliveira/O Liberal)

“Essas denúncias têm chegado a gente sistematicamente, mais ainda esse ano, por ser ano eleitoral”, apontou.

DIFICULDADE DE DIÁLOGO

A Alidesp é o órgão representativo das ligas do interior. Atualmente possui 122 ligas associadas, mais até do que a contagem da FPF, que é de 94. O principal pleito da entidades desportivas municipais é de mais transparência e suporte da FPF.

“Uma liga que faz em média cinco campeonatos por ano, vez por outra receber um troféu para fazer seu campeonato… isso pode-se dizer que é nada. Quando uma Liga ganha alguma coisa da Federação? Em tempos de eleição. Isso não é algo de agora”, apontou Ricardo Oliveira.

O presidente da Associação conta que o diálogo com a Federação inexiste no momento.

“Em 2020 chegamos a ser recebidos algumas vezes [pela FPF], só que sabemos que somos ‘personas non gratas’. Infelizmente não nos recebem mais. Não sabemos o motivo e tudo leva a crer que é porque a gente está, de fato, politizando nossos presidentes e mostrando que não existe só uma bola, não existe só um troféu, que não existe só uma jaqueta da CBF para eles ficarem contemplando para os campeonatos deles”, finalizou.

OUTRO LADO

Adelcio Torres foi procurado pela reportagem durante a última sexta-feira, para um posicionamento a respeito da denúncia. Leia o posicionamento:

O Presidente Adelcio Torres não reconhece qualquer gravação seja pelo fato de não ter acesso a esta neste momento, seja em razão de sua produção ter sido realizada de forma unilateral, o que facilmente pode ter sido editada diante da sua utilização para fins escusos e eleitoreiros. De fato, o Presidente da Liga de Benevides o procurou de forma insistente querendo uma reunião particular pedindo ajuda de três cestas básicas diante da sua situação de necessidade, solidário o ajudou na ocasião como era possível. Registra-se, ainda, que é costume presidentes das ligas buscarem a Federação para solicitar bolas, troféus e medalhas para os seus campeonatos, o que aconteceu na ocasião e os mesmos foram atendidos com duas bolas do ano passado.  Salienta-se, ainda, que como é de praxe anualmente as ligas foram isentas de taxas para concessão das licenças, os quais passam por auditagem interna e estão sujeitas apenas as exigências estatutárias. Ademais,  a minha conduta a frente da Federação sempre foi pautada na transparência e na honestidade, passando as contas da instituição sempre por auditagem externa o que demonstra a minha postura a frente do futebol. Por fim, as eleições na Federação somente ocorrerão no final do segundo semestre, sendo a única preocupação da gestão neste momento a busca de patrocínio aos clubes e ligas municipais junto a empresas e a CBF.

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