Pré-candidatura de ex-presidente do Paysandu à Prefeitura de Belém levanta debates

Ex-presidente do Paysandu e atual gestor do Carajás, Luiz Omar Pinheiro usou uma rede social para anunciar que é pré-candidato a prefeito de Belém. Não é o primeiro e nem será o último caso em que um dirigente do futebol observa que a sua popularidade, oriunda do meio esportivo, pode alçá-lo a voos maiores. 

Para citar exemplos mais emblemáticos, o craque do tetracampeonato mundial da Seleção Brasileira, Romário, é senador do Rio de Janeiro. E um paralelo comparativo ao caso de Luiz Omar é o atual prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil. Ambos têm estilos parecidos: destacaram-se como gestores falastrões (não no sentido negativo da palavra), de reações sinceras e que utilizam as redes sociais para dialogar com torcedor/eleitor. No caso de Alexandre Kalil, ele criou vários bordões e hastags, entre elas, o é #édogalo. Kalil foi o dirigente responsável pela histórica campanha do Atlético-MG na Libertadores edição de 2013, em que Ronaldinho Gaúcho estrelou a vitoriosa jornada. 

"As ligações de política e futebol acontecem há muito tempo. Tivemos uma ditadura chilena, com o Augusto Pinochet, utilizando o clube Colo-Colo e o estádio nacional como palco para algumas de suas atrocidades. Tivemos casos da chamada bancada da bola, envolvendo figuras como o Eurico Miranda, que foi presidente do Vasco e deputado federal. Jogadores que migraram para a política, como Robgol, do Paysandu", disse o doutor em Ciência Política pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), o jornalista Rodolfo Marques. 

Ex-presidente e ex-artilheiro do Paysandu, Vandick Lima, também foi vereador de Belém. Os casos se somam...    

Linha tênue 

Mas, a questão emergente é a seguinte: em que momento um profissional, com relativo sucesso num clube de futebol, passa a se considerar um bom candidato a um cargo eletivo? "É uma linha muito tênue; depende muito do sucesso do apelo individual", defende Rodolfo Marques, que fez ressalvas. "Gerenciar um clube é diferente do que gerenciar uma cidade, por exemplo. Um clube é uma instituição privada com interesse público. Na gestão municipal, você gerencia recursos públicos", alega.  

Este ano, Luiz Omar se autointitulou o 'sheik' do Pará em função de investir recursos no Carajás. No momento, a equipe é a lanterna do Parazão, com apenas dois pontos. O Carajás subiu este ano de divisão, porém, e é considerado um clube emergente. No comando do Paysandu, Luiz Omar conquistou os títulos do Campeonato Paraense das temporadas 2009 e 2010. Seu maior feito foi o acesso à Série B em uma campanha de 2012. 

Ainda segundo o estudioso da área, o desafio de um profissional do futebol em se transformar gestor público envolve a percepção da transição da política de futebol para gestão pública. "Tem que ser pensada com muito cuidado. Há a questão do nível de percepção por parte do eleitor. Será que o eleitor vai perceber em qualquer integrante da bancada da política dos clubes que ele pode ser um gestor público? É claro que a opinião pública se baseia em carisma e identificação. Carisma muitos têm, mas o grau de identificação ou responsabilização precisa ser avaliado", recomenda Rodolfo. "O Eurico Miranda, que foi ex-presidente do Vasco, dizia que era deputado do Vasco da Gama. A imagem do Luiz Omar, embora esteja ligada ao Carajás, está ligada ao fato de ter sido presidente do Paysandu,. Esse tipo de análise precisa ser considerada: será que os torcedores do Remo dariam essa confiança? O natural é ter um grau de reserva", disse.