Produção de arroz no Pará só atende 30% da demanda local

Cultivo do grão irrigado no Estado começou há cerca de quatro anos no Marajó e ainda não é feito em larga escala

Elisa Vaz

Conhecido por ser o produto mais barato da alimentação básica, o arroz tem sofrido altas significativas após a pandemia, e comprar o produto de outros estados parece não ajudar o bolso do paraense. No entanto, o Pará só tem capacidade de atender, aproximadamente, 30% da demanda local pelo grão com a produção estadual, segundo a Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa). Isso porque a produção do arroz irrigado no Estado começou há cerca de quatro anos e ainda não é feita em larga escala. Em 2016, foram 16 mil hectares plantados, e agora já são 40 mil, o que representa um crescimento de 150% em quatro anos. São necessários 190 mil hectares plantados para suprir a demanda do consumo interno no Pará.

Conforme explica o diretor da Faepa e zootecnista Guilherme Minssen, como todos os produtos, o arroz tem safras, e sempre foi o mais barato da cesta básica alimentar. “O arroz que comemos no Pará sempre veio do Rio Grande do Sul, e atravessa 5 mil quilômetros, então tinha frete. Algum tempo atrás a Faepa estimulou produtores de arroz a trabalharem na região do Marajó. Essa safra já foi plantada e deve ser colhida rapidamente”, diz.

A partir dessa produção, segundo Minssen, já haveria uma grande queda nos preços do arroz vendido localmente. Mas, para que o produto consumido no Estado seja totalmente produzido localmente é preciso incentivo do governo local. “Ainda temos um longo caminho até chegarmos em uma produção 100% paraense, e precisamos de incentivo. Não apenas isenções, mas precisamos, principalmente, que o Estado trabalhe na logística, com insumos e transporte”, ressalta o diretor da Faepa, que ainda diz que, para o abastecimento local, é preciso contratar especialistas e comprar máquinas e equipamentos.

Uma das vantagens da produção no Marajó, para o zootecnista, é que a região tem áreas excepcionais para o plantio do arroz. Enquanto o Rio Grande do Sul é capaz de produzir uma safra, no Marajó é possível ter três safras no mesmo espaço. O período de seca dura seis meses e o de chuva mais seis. Como o produto é irrigado, a água é bombardeada e o ambiente se torna favorável ao bioma. Minssen garante que o cultivo fortalece a fauna e a flora, e que outra vantagem seria aumentar o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) na região, que é o menor do Estado, por meio da geração de emprego e renda.

Além da falta de pessoal e de recursos para aumentar a produção, outro gargalo é a baixa lucratividade ao produtor, e por isso poucos se interessam pela área. “Temos outras regiões produzindo, como Santarém, mas a remuneração ao agricultor é baixa, bem menor que a soja e o milho. O arroz dá pouco retorno, então se estimula muito menos”, explicou Guilherme.

Outra dificuldade é a competição com o mercado externo. De acordo com o diretor da Faepa, o arroz vendido pela Ásia é muito barato e a produção se dá em larga escala.

Produtores buscam investimentos

Em Cachoeira do Arari, cidade na região do Marajó que é considerada a 'capital paraense do grão', um dos produtores diz que falta investimento para que a produção cresça. Paulo Quartiero, que também é diretor da Faepa, já trabalha com a plantação há 10 anos e diz que é uma lavoura muito cara, técnica e exigente. "Trabalhamos todo esse tempo com muita dificuldade porque o preço do arroz estava muito baixo, praticamente pagamos para trabalhar, e houve uma melhoria que dá uma lucratividade maior, mas tivemos que construir toda a infraestrutura produtiva, isso envolve canais, estradas, é muito caro", comentou.

Carestia

Com a alta significativa no preço do arroz, quem sofre é o consumidor. Estudos divulgados pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostraram que o quilo do produto era vendido a uma média de R$ 2,62 em agosto de 2019, e no mês passado custou cerca de R$ 3,36. Isso representa um aumento de 28,24% no período.

Um dos fatores que explicam esse crescimento, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), é o preço do dólar, já que a valorização da moeda americana afeta diretamente as commodities, que são os produtos vendidos internacionalmente. Só nos últimos seis meses, o dólar subiu 40%, e esse número acaba sendo repassado para o mercado interno.

No entanto, ainda segundo o diretor da Faepa, o aceno do governo federal às importações do arroz vindo do Uruguai pode chegar em uma boa hora, porque vai conseguir abastecer alguns Estados e diminuir os preços.

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