Hortas e pequenas produções agrícolas garantem renda extra de até R$ 4 mil, na grande Belém
Produtores como Joefson da Silva apostam em estufas, vendas diretas e apoio técnico para superar atravessadores e conquistar renda digna com o cultivo de hortaliças
Há 15 anos, o produtor rural Joefson da Silva decidiu transformar a experiência com adubos orgânicos em um negócio próprio. Incentivado pelo então presidente da associação onde trabalhava com esterco aviário, ele deu início à sua própria horta de hortaliças. Desde então, Joefson viu sua produção se profissionalizar e se transformar em uma fonte de renda contínua para sua família. “Comecei a fazer empréstimos para montar estufas e construir uma horta suspensa, com mais qualidade na produção”, conta.
Hoje, ele fatura em média R$ 4 mil por mês, mas reconhece que poderia ganhar mais, caso não precisasse lidar com os atravessadores que encarecem o preço até o produto chegar ao consumidor final. “Já teve vezes que passou por até quatro atravessadores antes de chegar na mesa da pessoa”, relata. A realidade mudou um pouco com uma parceria recente: “Agora, tenho uma pessoa certa que pega toda minha produção e vende direto na feira da Cidade Nova 5. Ela já tem uma clientela fiel, de classe média e alta, e minhas hortaliças vão direto da horta pra banca dela”, explica, destacando a importância de comercializar com quem valoriza o trabalho do agricultor.
Mas Joefson revela que o dia a dia nessa empreitada está longe de ser simples. “Horta requer muito trabalho e atenção. É cansativo, mas o bom é saber que a gente tá colocando um alimento saudável na mesa da população e levando o sustento pra dentro de casa. Isso é gratificante”, afirma.
Mesmo assim, ele lamenta o pouco reconhecimento social: “Tem gente que não dá valor pra quem sua a camisa pra botar comida na mesa dos outros.”
Esse cenário é bem conhecido por quem acompanha de perto a rotina dos produtores. É o caso de Taciana Miranda, extensionista rural da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater). Atuando há 16 anos na região metropolitana de Belém — especialmente na ilha de Cotijuba —, ela explica que o papel da instituição é oferecer apoio técnico, orientação documental e facilitar o acesso dos agricultores a políticas públicas.
“Nosso foco é a assistência técnica e extensão rural. A gente não trabalha com fomento direto, mas dá suporte para que essas famílias consigam acessar créditos e programas institucionais, como o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar)”, explica Taciana.
Segundo ela, há uma crescente demanda por práticas sustentáveis e sistemas produtivos alternativos, impulsionada por debates como os que envolvem a COP30, que será sediada em Belém em 2025. “Há muito interesse da população em iniciativas como quintais produtivos, farmácias vivas e produção de bioinsumos. Isso aparece em feiras agroecológicas e feiras de troca, como a que ocorre mensalmente em Outeiro, organizada por mulheres agricultoras”, exemplifica.
Apesar do avanço, o caminho ainda é repleto de barreiras. Taciana destaca que o principal desafio enfrentado pelas famílias agricultoras é o acesso à informação e à assistência técnica. “Nosso público prioritário são agricultores já consolidados. Para acessar o Cadastro da Agricultura Familiar (CAF), por exemplo, é preciso pelo menos 12 meses de atuação e uma renda mínima comprovada”, explica. Além disso, a expansão da especulação imobiliária tem reduzido o espaço para quintais produtivos dentro do município de Belém, especialmente nas áreas periféricas.
A produção urbana e periurbana de alimentos, muitas vezes invisibilizada nas grandes cidades, tem papel central não só na geração de renda, mas também na segurança alimentar e nutricional da população. “Desde a pandemia, vemos uma necessidade maior de autonomia alimentar entre essas famílias. Cultivar o próprio alimento virou uma questão de sobrevivência e dignidade”, pontua Taciana.
Regiões como Tenoné, Outeiro e Icoaraci são apontadas como polos com vocação para a agricultura urbana e de base familiar, com tradição no cultivo de hortaliças e outras culturas adaptadas às condições locais. Em Cotijuba, por exemplo, muitos agricultores também atuam com turismo comunitário, o que ajuda a diversificar a renda sem abandonar a produção agrícola.
Para Joefson, a agricultura exige esforço constante. “Horta requer muito trabalho, tem que ter atenção com as verduras pra ter uma boa produção. Não é fácil, não. Mas o bom é saber que a gente tá botando um alimento saudável na mesa da população. E tudo que a gente produz vira renda, vai pra dentro da nossa casa. Isso é gratificante demais”, afirma.
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