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Empresárias no comando

Cresce número de lares comandados por mulheres, mas elas têm salário menor e baixas linhas de crédito

Elisa Vaz / Redação Integrada
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Nos últimos anos, a mulher tem tomado posição de destaque dentro de casa e no mercado de trabalho. Um estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), mostrou que o contingente de lares em que elas tomam as principais decisões saltou de 14,1 milhões em 2001 para 28,9 milhões em 2015, o que representa um avanço de 105%. Mesmo assim, a renda ainda é baixa - cerca de 76% recebem até um salário mínimo. Do restante, 14% ganham entre um e dois salários, 7% de dois a cinco e 3% recebem cinco ou mais remunerações mínimas.

Ainda de acordo com os dados, quase 91% das empreendedoras paraenses tocam sozinhas os seus negócios, sem a participação de sócios. Para se ter uma ideia, apenas 38 mil das 413 mil empresárias formalizadas no Pará dividem a gestão. Outro indicador importante é a desvantagem no acesso de crédito e linhas de financiamento. Segundo o Instituto, as mulheres empresárias acessam um valor médio de empréstimos de, aproximadamente, R$ 13 mil a menos que a média liberada aos homens. Apesar disso, elas pagam taxas de juros 3,5 pontos percentuais acima do sexo masculino. Nesse aspecto, nem os índices de inadimplência mais baixos, verificados entre as pagadoras do sexo feminino, foram suficientes para gerar uma redução dos juros. Enquanto 3,7% das mulheres são inadimplentes, os homens apresentam um indicador de 4,2%.

Na avaliação da economista Guaraciaba Sarmento, ainda existe um longo caminho a ser percorrido. Para ela, os números mostram uma transformação no cenário socioeconômico das famílias brasileiras, avanços que se dão, principalmente, por conta da superação de algumas barreiras, como os níveis de escolaridade, que são mais altos entre as mulheres, além de maior participação no mercado de trabalho. "O homem sempre foi o responsável por ser o provedor dentro de casa. O crescimento de mulheres líderes mostra que a nossa sociedade tem se transformado. As mulheres agora buscam com mais competitividade posições de destaque. Isso reduz certas desigualdades", opinou. 

Rendimento ainda é menor

Estudos do IBGE também mostraram que, do total de donos de negócio no território paraense, apenas 31% são mulheres. Segundo a análise, as mulheres empreendedoras são mais jovens e têm nível de escolaridade 16% superior ao dos homens. Entretanto, elas continuam ganhando 22% menos que os empresários, situação que se repete desde 2015. Em 2018, os donos de negócio do sexo masculino tiveram um rendimento mensal médio de R$ 2.344, enquanto que o rendimento das mulheres ficou em R$ 1.831. Com o objetivo de diminuir essas desigualdades, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) vem atuando para aumentar a capacitação das mulheres no Estado. No ano passado, por exemplo, 61,27% dos atendimentos realizados foram feitos a empreendedoras.

"Ter as mulheres como protagonistas de negócios no nosso Estado é uma dádiva, muito relevante para o nosso mercado. Nós trabalhamos na inserção de pessoas no ambiente do trabalho, acompanhando desde a abertura do negócio até gestão de empresas no geral. Quando segmentamos isso para as mulheres, direcionamos para algumas áreas que têm mais o interesse das mulheres. A capacitação é algo fundamental para que a empresa seja bem gerenciada, e cada vez mais tenhamos bons resultados técnicos nas firmas qualificadas", disse o diretor superintendente do Sebrae no Pará, Rubens Magno.

História de sucesso

Em comemoração ao Dia das Mães deste ano, a reportagem foi em busca de histórias inspiradoras de mulheres que conseguem sustentar lares com filhos, e sem a ajuda de companheiros. Uma delas é a autônoma Maurina Melo, de 47 anos. Mãe de dois filhos, ela se separou do marido há 15 anos e precisou reconstruir seu lar após o divórcio. Com o dinheiro da casa vendida do casal, Maurina usou sua parte para comprar um terreno e, aos poucos, construiu sua nova casa - onde mora atualmente. Após 12 anos de casamento, com dependência financeira do marido, ela se viu sem dinheiro e sem perspectiva de trabalho, mas foi em busca do sustento da família.

"Quando me divorciei, meus dois filhos eram pequenos e eu nunca tinha trabalhado na vida, meu esposo me sustentava. Mas eu vivia uma vida difícil com ele, que me violentava e machucava. Precisei de muita coragem, mas decidi me separar e procurar um emprego. Estudei, me formei em Pedagogia e comecei a dar aula. Com minha renda, fui construindo a minha casa, reformando o que ainda faltava e também construí alguns kitnets para alugar - hoje são quatro locais. Ele nunca ajudou em nada, tudo foi com meu dinheiro", contou Maurina.

Tempos depois, o contrato do emprego chegou ao fim e a mãe precisou procurar novas fontes de renda. Teve, então, a ideia de montar uma cozinha para vender comidas. "Fiquei sem emprego de novo. Com as minhas reservas, comprei um fogão novo e um freezer. Comecei vendendo cinco marmitas por dia, com muita dificuldade e eu mesma cozinhando. Hoje, administro o negócio e tenho duas funcionárias. O objetivo, agora, é aumentar o empreendimento, alcançando novos clientes e contratando mais pessoas para a cozinha. Por isso, ela investe nos carpádios diferentes a cada dia.

Na opinião de Maurina, as mulheres precisam buscar a independência financeira. "Acho muito importante as mulheres estarem inseridas no mercado de trabalho, criar seus filhos e liderar a casa sem depender de ninguém e sem viver em situação de desrespeito por necessidade financeira. Também não devemos ter preconceito e nem vergonha de ser mãe solteira. Sou digna de compartilhar com meus filhos meu trabalho, meu sucesso e tudo que construí. Eles que me deram força", destacou. Hoje, conciliando a renda da cozinha e dos aluguéis, Maurina é orgulhosa dos filhos.

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Economia
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