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Mercado abre portas para a diversidade, mas ainda discrimina

Socióloga comemora avanço dos grupos sociais excluídos dentro do mercado de trabalho, mas diz que é preciso pensar em uma inclusão real

Elisa Vaz

As transformações sociais têm feito com que, cada vez mais, os grupos tidos como minoritários sejam inseridos no mercado de trabalho. Um levantamento realizado pela Gupy, empresa de tecnologia para recursos humanos, mostra que, entre agosto e setembro deste ano, 67% das vagas de emprego publicadas na plataforma foram preenchidas por mulheres, pessoas não-brancas (incluindo negras, pardas, amarelas e indígenas), pessoas LGBTQIA+ e as que possuem alguma deficiência. Em relação ao volume de contratações no ano passado, houve um crescimento de 127,8%.

Na comparação com dois meses antes, em junho e julho, por grupo, o que teve a maior alta em agosto e setembro foi de indígenas (107,32%), seguido pelos amarelos (71,02%), pardos (52,68%), pretos (42,01%) e as pessoas LGBTQIA+ (27,63%). Já as mulheres e as pessoas com deficiência tiveram queda nas contratações nos dois últimos meses, em relação a junho e julho, respectivamente, de -17,73% e -0,25%.

Para a socióloga Rachel Abreu, que é doutora em antropologia e pesquisadora nas temáticas de gênero e diversidade, os números apresentados na pesquisa sobre as vagas de empregos são "extremamente importantes" e devem ser analisados dentro de vários recortes, e não apenas por uma única via. "Precisamos pensar no que o mercado está exigindo e o que ele quer alcançar. Como a sociedade brasileira que temos se ergue a partir da diversidade cultural, social, econômica, étnica, territorial, sexual e outras outras, a diferença está na formação do povo brasileiro, mas essas diferenças não são aceitas socialmente porque essa mesma sociedade se ergue em outros padrões, os considerados 'normais'. Temos uma diversidade que não é pensada a partir da riqueza e da soma, mas sim com um olhar depreciativo", comenta.

Por conta do apanhado histórico, a socióloga diz que é preciso entender por que essas contratações estão ocorrendo em altos índices. Um dos motivos, para ela, é que existe uma legislação que obriga que as empresas contratem um percentual das chamadas "minorias", dentro de uma política de responsabilidade social, econômica e ambiental que rege as relações de mercado. Segundo ela, essas contratações trazem uma identidade social muito forte para as empresas e esse comportamento será uma tendência daqui para frente.

"Claro que não podemos generalizar, temos que analisar todos os pontos. Muitas empresas contratam mulheres, pessoas LGBTQIA+, pessoas com deficiência, não-brancos desde sempre. Mas outras apenas seguem o comportamento mercadológico, e aí é necessário refletir: será que a inclusão dessa diferença está sendo feita realmente ou há a contratação, mas não a inclusão?", questiona. Rachel, porém, acredita que o mercado realmente esteja mudando e que práticas sociais diferenciadas estão surgindo. 

Embora as mulheres tenham sido menos contratadas do que em junho e julho, para cargos de liderança, elas tiveram uma participação maior no total de contratações, segundo a pesquisa. Houve um pico de contratações nos setores de varejo, tecnologia da informação, agronegócio e indústria no geral. A área de TI é a que tem a menor presença feminina, e as demais apresentaram um volume maior de contratações de homens na área de operação. Isso pode explicar a queda na contratação de mulheres. O levantamento aponta que elas representaram 33,73% das vagas de coordenação, 30,28% para as de gerência, 21,24% das contratações para vagas de supervisão e 17,07% para direção. 

Para a socióloga, as mulheres têm conquistado seu espaço no mercado em cargos de gestão e liderança, a partir do empoderamento e do protagonismo feminimo. Além disso, este comportamento tem a ver com a formação dessas mulheres, o investimento em capital social, a qualificação profissional e a mudança de postura na sociedade. "Elas estão avançando na hierarquia. Na política, as mulheres estão cada vez mais presentes, em espaços que antes eram masculinos, isso dá representatividade".

Ainda na comparação por cargos, o de operador foi o que gerou o maior volume de emprego para pessoas negras (48,79%) e LGBTQIA + (38,42%). Entre as pessoas negras contratadas, 3,19% das vagas eram para cargos de liderança comparando com o total dos demais cargos (operação, auxiliar, analista, especialista e outros) para o mesmo grupo. Foi a porcentagem mais baixa entre os grupos pesquisados. Entre a população LGBTQIA+, o percentual foi de 3,87%. A socióloga Rachel Abreu afirma que esta é uma contradição, porque essss grupos são mais contratados, só que em cargos mais baixos, e que isso é um retrato de discriminação dentro do mercado, seja racial, de gênero, identidade ou de classe.

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