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Manutenção da saúde mental é desafio do trabalho remoto

Em pesquisa, 26% dos entrevistados consideram que a sensação de equilíbrio entre qualidade de vida e trabalho piorou

Elisa Vaz

Os desafios do trabalho remoto - resultado da pandemia da covid-19 e do consequente isolamento social - tiveram diversos impactos na saúde mental dos trabalhadores, com redução de descanso e aumento de estresse. De acordo com o 15º Índice de Confiança da Robert Half, 26% dos entrevistados consideram que a sensação de equilíbrio entre qualidade de vida e trabalho piorou, enquanto 26% acham que se manteve igual desde o início da pandemia. Somando os dois grupos, os principais motivos apontados pelos 52% dos entrevistados são: piora da saúde mental (32%); falta de contato próximo com a equipe e gestores (16%); e espaço físico inadequado para o trabalho (10%). Segundo a pesquisa da consultoria de recrutamento especializado, para 28% dos recrutadores, a saúde mental é a maior preocupação de 2021.

De acordo com o psicólogo Alex Miranda, mestre em psicologia e coordenador do curso de psicologia da Faculdade Uninassau, a pandemia criou uma mudança abrupta nas relações de trabalho, passando de forma muito rápida para a modalidade do home office. Isso, diz ele, quebrou a barreira do que era laboral e do que era a vida privada de muitas pessoas, e fez com que houvesse uma grande mistura entre atividades laborais e familiares, por exemplo, havendo a perda dessas delimitações.

"Os horários de trabalho, muitas vezes, foram prolongados para que se pudesse dar conta dessa nova forma de trabalho, para fazer caber as atividades executadas no modelo usual de trabalho que eram realizadas no ambiente externo da casa, agora dentro desse novo modelo. No home office, é preciso, muitas vezes, operar ferramentas que, para muitos, são novidade, no teletrabalho e nas redes sociais, entre outras", comenta.

O psicólogo afirma que o cérebro se acostuma com a rotina, e o que seria feito em um espaço definido de oito horas diárias, no trabalho, agora precisa de mais tempo, porque o trabalhador precisa aprender a operar as novas formas de fazer as atividades laborais. "No geral, quando nos expomos a uma mudança de rotina, acontece de forma gradativa e por iniciativa própria. Na pandemia isso foi abrupto, sem que quiséssemos e dominássemos os meios de trabalho à distância e digital. Isso requer uma grande concentração de energia psíquica em torno desse trabalho, pois, além da expectativa que tínhamos antes, quando operávamos da forma que aprendemos ao longo da vida, agora há a dúvida se vai dar tudo certo, se vai funcionar, se não haverá outros fatores para atrapalhar o desenvolvimento das atividades, como ações da vizinhança".

De acordo com o especialista, isso pode afetar a saúde mental do trabalhador, que precisará despender uma quantidade de energia psíquica bem maior para lidar com uma possível ansiedade que uma expectativa pode gerar. Junte-se a isso o fato de que as pessoas estão se encontrando menos no trabalho. Como seres sociais, Alex afirma que os humanos precisam desse contato pessoa a pessoa no mundo real, e a falta disso pode se configurar como fator estressante para muitas pessoas.

Síndrome de Burnout 

Em uma sondagem realizada pelo perfil oficial da Robert Half no Linkedin, que contou com a participação de mais de 1.100 respondentes, 40% afirmam que se sentem cansados e estressados depois de mais de 12 meses de trabalho remoto. De acordo com a consultoria, por um lado, a continuidade da pandemia por si só já afeta a saúde mental dos profissionais, que são impactados diariamente pelo medo, ansiedade e insegurança. Por outro, à medida que a atividade econômica se recupera, as empresas aceleram suas atividades, o que cria cargas de trabalho cada vez maiores para muitos profissionais.

Trabalhar incansavelmente, no entanto, não é saudável e nem sustentável, além de poder resultar na chamada "Síndrome de Burnout", que é o esgotamento psicológico provocado por estresse e cansaço, a partir de rotinas intensas de trabalho. A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que jornadas de trabalho excessivas estão matando milhares de pessoas por ano. O primeiro estudo global do tipo revela que 745 mil pessoas morreram em 2016 de derrame e doenças cardíacas relacionadas a longas horas de trabalho.

O Brasil está na faixa de países que têm até 4% da população exposta a longas jornadas de trabalho - 55 horas ou mais por semana. No entanto, nos países onde o problema é mais grave, esse percentual chega a atingir mais de 33% da população. A pesquisa descobriu que trabalhar 55 horas ou mais por semana está associado a um risco 35% maior de Acidente Vascular Cerebral (AVC) e 17% maior de morrer de doença cardíaca, em comparação com uma semana de 35 a 40 horas de trabalho.

O primeiro passo para cuidar da saúde mental diante da modalidade de home office, segundo o psicólogo Alex Miranda, é criar uma rotina em que se possa separar o que são as atividades laborais e o que são atividades da vida privada. "A pessoa pode delimitar qual o tempo do seu trabalho dentro do dia, fazer um quadro de horas dentro do dia, cumprir dois turnos de três ou quatro horas, por exemplo. Pode vivenciar o tempo de trabalho como se estivesse em seu local de trabalho fora de casa, ajuda muito se a pessoa se recolher a um espaço da casa que possa fazer isso. Após encerrar o expediente, essa pessoa parte para suas atividades privadas, familiares, de lazer, de esporte, algo que possa lhe dar prazer", orienta o profissional.

Além disso, Alex também indica que o trabalhador converse bastante com a família, explicando o que está acontecendo. Ele diz que é muito importante para quem está nesta situação ser acolhido pelas pessoas com quem convive diariamente. Outro ponto é reorganizar sua dinâmica diária de vida, retornando a horários que antes eram bem definidos, delimitando tempo de trabalho, realizando, mesmo no isolamento, atividades que lhe proporcionem alguma satisfação pessoal, como assistir televisão, brincar com filhos, dormir, fazer leitura, ouvir música e outras.

Caso o trabalhador sinta que precisa de ajuda, é preciso procure um psicólogo ou psiquiatra, profissionais que poderão avaliar aquela pessoa e fazer as devidas verificações da necessidade de afastamento do trabalho, ou mesmo de possibilidade de mudanças nas configurações do trabalho, como mudança de funções laborais dentro da empresa, se for possível.

Confira as dicas da consultoria para as empresas, quanto à qualidade de vida no trabalho:

1. Atenção ao volume de horas trabalhadas: para ajudar profissionais a conciliar atividades pessoais e profissionais, ofereça esquemas alternativos de trabalho, como jornadas flexíveis, e se atente ao volume de horas trabalhadas.

2. Administração do tempo: se os profissionais virem que os gestores levam a sério o compromisso com o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, administrando seu próprio tempo de maneira eficaz, estarão mais propensos a fazer o mesmo. Evitar trabalhar até tarde, tirar férias anuais e não enviar e-mails tarde da noite ou no fim de semana são práticas que podem ajudar a dar o exemplo certo.

3. Definição de prioridades: ajude a equipe a se concentrar em tarefas críticas do negócio, considerando a possibilidade de contratar profissionais por projetos para apoiar quando necessário.

4. Comunicação transparente e incentivo ao bem estar: promova uma comunicação assertiva e segura, incentive ofertas de bem-estar na empresa e incentive a participação dos colaboradores em aulas e programas gratuitos que apoiam estilos de vida mais saudáveis.

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