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Cantoras paraenses escracham o machismo e entoam a libertação feminina

A música se transformou em arma e forma de libertação para muitas mulheres

Ana Carolina Matos
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A voz das mulheres, cada vez mais, tem entoado o canto da libertação de preconceitos e amarras impostas pela sociedade. Por meio da música, um círculo de autonomia toma forma a partir de mulheres que emponderam outras mulheres. Com melodias envolventes e letras fortes, cantoras paraenses têm dado o recado sem rodeios, em um tiro certeiro contra o machismo e misoginia. A regra é clara: o corpo da mulher pertence unicamente à ela mas o sol é para todos, mas aqui, são todas que ganham o mundo no embalo uma das outras.

E foi na música que Joelma Klaudia conseguiu ver uma maneira de mostrar para outras mulheres que há vida fora de um relacionamento abusivo. "Há muitas de nós sem fala e apanhando em silêncio. O ciúme machista tem matado mulheres diariamente e eu que já passei por uma relação abusiva me sinto no dever de ajudar a mudar a estatística. Mais de 500 mulheres apanham por hora e quase 200 são espancadas. É preciso falar sobre isso", analisa.

"Poder falar sobre o que vivi e o resultado da minha libertação é importante para contagiar outras mulheres à denúncia, inibir esse tipo de crime e sensibilizar as autoridades ao rigor das penas judiciais. Há três anos consegui me libertar, voltar a cantar e ser feliz. É difícil, mas a gente consegue e a vida volta a ter vida", acrescenta a cantora.

A artista relembra que quase morreu nas mãos do agressor, o que, além da dor física, lhe rendeu sequelas psicológicas como transtorno depressivo. "(...) a gente fica com a impressão que nos é imposta: mulher que se deve respeitar é  a recatada e do lar. Eu, por exemplo, quando fui recatada e do lar quase morri pelas mãos de um homem aparentemente gente fina, mas que me batia muito por ciúmes quando estávamos à sós. Ele quebrou meu ombro esquerdo no dia que comprei minha casa própria.  Era um peso que frequentava a minha vida pra roubar até a minha alma", conta.

Recentemente, a paraense se uniu a um coletivo de mulheres negras, integrado por Rafaela Cunha, DJ Ananindeusa e Thais Badu para a produção e composição da canção "Buceta sem Etiqueta", que de modo irreverente fala sobre autonomia das escolhas femininas e o poder de sem quem quiser, sem rótulos ou definições. "Não passar o pano, passar  o pente, se carregue de emoção, se liberte, se alimente. Meu corpo, minha regra, meu querer. Essa é a nossa meta, se cubra de poder", diz um trecho da canção, que teve o clipe lançado no dia 1º de março deste ano.

"Produzi e compus uma música com um coletivo de mulheres pretas - Rafaela Cunha, Ananindeusa e Thaís Badu - a fim de usar nossas artes como ferramenta de diálogo e transformação. Falamos do corpo da mulher, suas vontades e suas falas na tentativa de que outras mulheres encontrem seu poder de ser e existir", explica Joelma Klaudia.

Com o primeiro EP previsto para ser lançado ainda neste semestre, a cantora Thais Badu vem explorando a representatividade feminina e negra. A artista do cenário independente tem como característica a abordagem de temas como machismo, racismo e homofobia, além, claro, do emponderamento feminino.

"Todo dia alguém diz que vai me ajudar a alcançar meu sonho que é simples e cantar. Durante anos eu ouvi essa balela, mas o fato, no final, era mais simples, vou na vera. Só queriam me usar, só queriam abusar. Agora vem dizer que a preta não vai crescer. Já cresci na humilde resistência de simplesmente cantar pra resolver qualquer problema", ressalta a letra de "Sou Preta", música que dá nome ao novo trabalho da cantora.

Outra artista paraense que tem usado seu poder de alcance para se unir à luta contra o patriarcado é a cantora Aíla. Em novembro do ano passado, a cantora escrachou os abusos vividos por mulheres diariamente em coletivos públicos de todo o país com a música #NãoVouCalar. Na letra da canção, a paraense não silencia os corriqueiros assédios. ""Não vou calar, eu vou gritar. Se insistir, eu vou berrar mais alto. Esculachar tua cara, arrochar tua tara. Seu dissimulado!", avisa o refrão da canção.

O vídeo, que tem como cenário uma antiga fábrica localizada na zona oeste de São Paulo, que já foi palco de diversas greves da classe operária, traz uma solitária mas expressiva dança que retrata de forma verdadeira o grito, por vezes solitário, da realidade feminina. A produção integra uma série de cinco lançamentos da cantora, entre eles "Lesbigay", que foi indicado a Melhor Videoclipe do Ano no Women's Music Event Awards, o primeiro prêmio da música brasileira dedicado exclusivamente às mulheres.

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