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Cantora italiana Mafalda Minnozzi faz homenagem ao Brasil em novo disco; ouça

O álbum 'Sensorial - Portraits in Bossa & Jazz' está disponível nas plataformas digitais

Ana Carolina Matos
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A cantora e compositora italiana Mafalda Minnozzi mostra sua essência de bossa nova e jazz no álbum "Sensorial - Portraits in Bossa & Jazz", disponível nas plataformas digitais. O trabalho tem a direção musical do guitarrista Paul Ricci e a participação de alguns músicos norte-americanos como o pianista Art Hirahara, os contrabaixistas Essiet Okon Essiet e Harvie S, além do baterista Victor Jones e os percussionistas Will Calhoun e Rogerio Boccato.

Ouça o disco 

Nascida na comuna italiana de Pavia, a artista viu sua trajetória musical migrar dos palcos de Roma para a capital carioca, o que lhe rendeu uma característica multicultural como cantora e compositora e uma solidez ao longo de 20 anos de carreira.

Em entrevista exclusiva a O LIBERAL, a cantora falou sobre o lançamento do novo trabalho, que traz músicas em português, italiano e inglês e é inspirado no esteticismo musical de Gil Evans, João Gilberto e Roberto Murolo. A obra também destaca alguns compositores brasileiros menos conhecidos no mundo do jazz e presta uma homenagem a Antônio Carlos Jobim.

Como foi o processo de construção desse álbum?

Foi uma evolução do estilo de interpretação de canções que criamos com meu parceiro musical, o guitarrista nova-iorquino Paul Ricci, para o projeto "eMPathia Jazz Duo", o projeto que antecedeu o atual. Com eMPathia descobrimos tantas cores e tanta aventura explorando as nuances desses grandes melodias e ritmos, tanto que a gente não conseguiu resistir à tentação de ver como essa linguagem podia ser orquestrada por um quinteto de jazz.

Trabalhaste nele por quanto tempo até o lançamento?

Foi um processo longo que vem de muitos anos de viagens e residências em Nova York. Há anos conheço alguns desses músicos que tocaram no CD e esse projeto foi imaginado desde então. Em particular, me refiro ao nosso pianista Art Hirahara que já foi uma extensão do duo eMPathia com Ricci e fez vários festivais de jazz na Itália conosco. A decisão de trazer esses músicos até o estúdio se revelou natural. Nós trouxemos os arranjos que estavam escritos para o duo e exploramos isso mais com a intervenção desses músicos além de criar outros arranjos originais somente para o quinteto.



Esse álbum é fruto de gravações em meio à pandemia ou foi gravado antes?

Foi gravado em Nova York, em um renomado estúdio em Brooklyn, pouco antes do começo da pandemia. Todas as sessões ficaram gravadas, inclusive em vídeo, graças à videomaker Sara Pettinella da Little Comb Production que elaborou um sistema de gravação muito íntimo, sendo que cada um de nós tinha seu próprio espaço.

A tua escolha por parceria com músicos norte-americanos foi reforçada pela tônica do jazz (estilo que surgiu em Nova Orleans, nos Estados Unidos) neste trabalho?

Não quis realizar essa minha homenagem a grandes autores da música brasileira sendo mais uma cantora estrangeira cercada por músicos brasileiros com a esperança de soar autêntica. Eu acho que se você realmente tem alguma coisa para falar, você deve fazer isso com sua própria voz para ser realmente autêntico. Eu bebi da fonte de quase 25 anos de vivência e de shows no Brasil, levando minha bagagem dos palcos italianos e embrulhando tudo com aquele amor e aquela aventura dos grandes intérpretes do jazz, com alguns dos quais eu convivi em Nova York. Para mim, eles realmente são uma coisa só, Elis Regina e Ella Fitzgerald, Caterina Valente e Annie Ross, Jobim e Cole Porter, João Donato e Bill Evans: todos eles expressam uma paixão para liberdade do individual versus os mecanismos da musica coletiva do século XX. Eu acho que Nova York foi a escolha natural porque todos esses elementos convivem um ao lado do outro, desde sempre.

Optaste por nomes menos conhecidos do grande público para integrar este trabalho. Como foi feita essa escolha? E a das canções?

Todos são veículos incríveis para improvisação. Cada música fornece possibilidades sem fim para para enfrentar aventuras harmônicas, melódicas e rítmicas. Jobim é uma figura paterna para todos os compositores interpretados em "Sensorial". Por isso, na minha opinião, o som coletivo do álbum é absolutamente orgânico. Além de Jobim, temos Toninho Horta, Filó Machado, Baden Powell, Toquinho, Chico Buarque. Destacando a linguagem de jazz na música brasileira, o arranjador até colocou uma intro de John Coltrane abrindo o arranjo de "E Preciso Perdoar" dos baianos Alcyvando Luz e Carlos Coqueijo. Não posso evitar de lembrar do efeito profundo que uma intérprete sente quando canta as letras de Vinícius de Moraes. Ele é presente em "Sensorial" nas obras de Jobim, Baden Powell e Toquinho e certamente ele influenciou e inspirou Chico Buarque também. Tem tantos compositores incríveis brasileiros que realizar um segundo CD pode até ser natural... Mas vou deixar eles decidirem isso.

Pretendes fazer algum tipo de live ou show de lançamento?

Se não tivesse a pandemia eu teria tocado em vários festivais de jazz italianos. O lançamento estava marcado com a banda do disco no lendário Birdland Jazz Club em Nova Iorque, no próximo dia 20 de setembro. Não preciso nem dizer que as restrições de viagem e o fechamento dos clubes deixou isso impossível de ser realizado. Nesse espírito decidimos realizar uma live nessa mesma data, uma festa inclusive para festejar e agradecer tantas resenhas, tantos abraços que chegaram do mundo todo.

Para essa festa foram escalados músicos brasileiros que têm uma linguagem de jazz: Tiago Costa (piano), Sidiel Vieira (contrabaixo acústico) e Ricardo Mosca (bateria). Cada desafio pode criar oportunidade criativas e estamos com a sorte de realizar esta fusão de jazz com músicos brasileiros tocando, falando, interpretando esses mesmos arranjos, mostrando o outro lado da moeda... Talvez tenha chegado mesmo a hora de me cercar de músicos brasileiros para achar o próximo passo na minha voz. 

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