Polêmica sobre cena de estupro em "O último tango em Paris" manchou carreira

Nos anos finais de vida o cineasta Bernardo Bertolucci, 77 anos, falecido nesta segunda-feira na Itália, conviveu com a acusação de estupro em uma cena do filme “O último tango em Paris” considerado uma de suas principais obras. A cena em questão foi realizada por Marlon Brando e a atriz Maria Schneider, com 19 anos na época.

Nela Brando simula uma cena de sexo de estupro com a atriz e na falta de lubrificante utiliza um tablete de manteiga. Somente Brando e Bertolucci sabiam que a cena seria gravada. O diretor não avisou a atriz afirmando que queria registrar os sentimentos reais de raiva e humilhação. “Eu não queria que ela interpretasse a raiva, eu queria que ela sentisse raiva e humilhação”, disse o cineasta em um vídeo de 2013. A cena polêmica causou muita repulsa na época e voltou a sofrer fortes críticas na indústria cinematográfica após o movimento ‘Me Too’ em Hollywood, que denunciou vários casos de abuso sexual.

Maria Schneider, que morreu em 2011, falou que a cena ficou marcada para sempre de maneira traumática. “Senti-me humilhada e, para ser honesta, um pouco violentada por Marlon e Bertolucci. No fim da cena, Marlon não veio me consolar, ou se desculpar. Felizmente, uma tomada foi suficiente”, detalhou em uma entrevista para o livro biográfico “Tu t’appelais Maria Schneider”.

O crítico Augusto Pacheco lembra que o filme sobre as relações humanas causou muito escândalo na época também. “Tiveram muitas polêmicas, o Bertolucci chegou a ser indiciado pela polícia italiana, mas o filme fez muito sucesso e colocou o Marlon Brando, Bertolucci e a Maria Schneider favorecidos pelo sucesso de “O Último tango em Paris””, explica. Mesmo com a polêmica, que voltou nos últimos anos, Pacheco enfatiza que “o filme é uma obra-prima, tem que se dizer isso. É um tratado sobre relações humanas”.