Oscar 2021: Prêmio de Melhor Filme pode consagrar diretora chinesa pela primeira vez

Na principal categoria da noite, novatos disputam com medalhões a preferência da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas

Lucas Costa
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A grande noite da sétima arte, que vai celebrar as produções sobreviventes ao ano em que as salas exibidoras do mundo passaram maior parte do tempo fechadas, ocorre neste domingo (24). Depois da edição de 2020, já marcada na história por ter consagrado um filme sul-coreano; em 2021 o Oscar parece seguir na tentativa de deixar para trás um passado marcado por machismo e quase nenhuma representatividade.

Em sua 93ª cerimônia, esta é a primeira vez que o Oscar tem duas diretoras mulheres concorrendo simultaneamente na categoria de Melhor Direção: Emerald Fennell, de “Bela Vingança”; e Chloé Zhao, de “Nomadland”. Os dois filmes também são indicados à principal categoria, de Melhor Filme; e a produção de Zhao já chega como grande favorita da noite, após ótimo desempenho na temporada de premiações deste ano.

“Nomadland” se passa após o colapso econômico de uma cidade na zona rural de Nevada, nos Estados Unidos. No filme, a vencedora do Oscar de Melhor Atriz, Frances McDormand, é uma mulher de 60 anos, que entra em sua van e parte para a estrada, vivendo uma vida fora da sociedade convencional como uma nômade moderna.

Para a roteirista e crítica de cinema Lorenna Montenegro, não há grandes dúvidas sobre a consagração de Chloé Zhao pelo Oscar. No filme, adaptado do livro homônimo de Jessica Bruder, Lorenna explica que Zhao traz de volta uma discussão proposta por Agnès Varda em “Os Renegados” (1985) - sobre os nômades modernos dos Estados Unidos.

“Ela [Zhao] traz para o contexto dessa america com especulação imobiliária explodindo, para a personagem da Frances ser esse guia, para a gente refletir um pouco sobre toda essa questão que envolve a conquista dos americanos, mas também essa possibilidade de viver sem suporte, sem aposentadoria, numa sociedade que precariza o trabalho”, avalia Lorenna.

Veja quais as apostas dos críticos paraenses para o Oscar 2021:

Vale lembrar que os premiados com a estatueta de Melhor Filme no Oscar são os produtores, e no caso de “Nomadland” vencer, a protagonista Frances McDormand também faz parte desse time. Lorenna acha fundamental o reconhecimento a Chloé Zhao pela premiação, já abraçada pela indústria hollywoodiana como uma das gigantes da atualidade, convidada para dirigir “Os Eternos”, próximo blockbuster da Marvel.

“Acho que vai ser a celebração dessa mulher, não só dela, mas da capacidade das mulheres na indústria, que é sempre muito rechaçada e posta em dúvida”, destaca Lorenna.

De filmes históricos à jornadas de vingança

Mesmo com um favorito bastante definido este ano, a categoria de Melhor Filme do Oscar tem indicados que, de acordo com críticos paraenses, fazem jus às suas posições. Ao lado de “Nomadland”, de Chloé Zhao; completam a lista: “Meu Pai”, de Florian Zeller; “Judas e o Messias Negro”, de Shaka King; “Mank”, de David Fincher; “Minari”, de Lee Isaac Chung; “Bela Vingança”, de Emerald Fennell; “O Som do Silêncio”, de  Darius Marder; e “Os 7 de Chicago”, de Aaron Sorkin.

O crítico do perfil Outros Mundos, Laércio Barbosa, avalia que na corrida pelo principal prêmio da noite, “Os 7 de Chicago” é quem vem atrás de “Nomadland”. Da Netflix, o filme histórico acompanha a manifestação contra a guerra do Vietnã que interrompeu o congresso do partido Democrata, em 1968.

“É uma história muito interessante sobre um protesto que teve em Chicago. Tem ótimas atuações, ótima direção, e logo de cara se tornou um dos meus favoritos de 2020”, avalia Laércio.

Lorenna concorda com o reconhecimento a Sorkin. “É um filme que não inventa nada, é um mais do mesmo, mas é aquele arroz com feijão bem feito. Drama de tribunal, filme de época, histórico, falando sobre confrontos entre o governo norte americano e movimentos estudantis”, diz.

Outro que reconstrói acontecimentos históricos da lista é “Judas e o Messias Negro”. O filme de Shaka King apresenta a ascenção e queda de Fred Hampton, ativista dos direitos dos negros e revolucionário líder do partido dos Panteras Negras.

Lorenna destaca o trabalho de caracterização de época do filme de Shaka King, destacando ainda a relevância de ter a história da população negra contada a partir de perspectivas de criadores não brancos.

“É um filme barroso, não é assim de tão fácil fruição, mas ao mesmo tempo tem um impacto muito importante por realocar mais uma história que vinha sendo contada sob viés desse olhar branco, com ruídos”, explica a crítica.

“Judas e o Messias Negro” é o favorito de Laércio entre os indicados. “Eu não sabia da história real que ele trata, sobre a liderança dos Panteras Negras em Illinois, o líder desse partido e como foi a ascensão e a queda dele, por conta de uma pessoa que estava infiltrada no grupo. É uma história bem impactante sobre racismo, sobre traição também, liderança, movimento social e sobre revolução. É um filme que conversa muito com o que a gente vive hoje em dia, e também sobre o estado dos Estados Unidos hoje em dia, em relação a violência policial e racismo. É bem atual e bem pertinente”, avalia.

A história de uma mulher com muitos traumas do passado, que frequenta bares todas as noites e finge estar bêbada até conseguir presas para sua vingança, também chamou a atenção do Oscar. “Bela Vingança”, de Emerald Fennell, brilha na lista abordando um trauma feminino construído a partir da perspectiva de uma cineasta mulher.

Emerald Fennell marca história ao lado de Chloé Zhao nas indicações de Direção e Melhor Filme. Ela também é um nome conhecido na indústria, seja como showrunner da premiada série “Killing Eve”, ou pela atuação em uma das temporadas de “The Crown”. Em “Bela Vingança”, Fennell constrói uma jornada cheia de reviravoltas, o que Lorenna vê também como uma espécie de sátira.

“Esse filme é como uma sátira aos filmes que trazem personagens femininas de forma muito estereotipada, e é meio que um ‘rape revenge movie’. Essa personagem que se vinga dos homens, mas vai além disso. É uma elaboração sobre esse simulacro, sobre como se pensa a construção de personagens femininos, desde que o cinema começou e foi estabelecido como indústria, e as mulheres sempre como acessórios, e ela vai ressignificar isso em ‘Bela Vingança’”, explica Lorenna.

Em Melhor Filme, concorre ainda “O Som do Silêncio”, que pode ser chamado de mais inovador da lista. O filme acompanha um jovem baterista, que teme por seu futuro quando percebe que está gradualmente ficando surdo. A mudança drástica acarreta em muita tensão e angústia na vida do baterista, atormentado lentamente pelo silêncio.

Longe do favoritismo, o que chama a atenção no longa são os mecanismos usados para inserir o telespectador no contexto de uma pessoa surda, com um desenho de som que quebra as barreiras do convencional. “Ele te insere realmente nesse contexto de uma pessoa que tem o problema auditivo, e faz isso muito bem, de uma forma muito real”, avalia Laércio.

Outro que pode ser considerado um estranho no ninho é “Minari”, que representa também o momento de abertura do Oscar para produções menos conservadoras. O longa tem a imigração como tema central, e se passa nos anos 80. Um menino coreano-americano de sete anos de idade se depara com um novo ambiente e um modo de vida diferente, quando seu pai, Jacob, muda sua família da costa oeste para a zona rural do Arkansas. Jacob, decidido a criar uma fazenda em solo inexplorado, arrisca suas finanças, seu casamento e a estabilidade da família.

“É como se fosse um pequeno ponto de uma rotina normal de uma família, só que pela perspectiva de imigrantes. É uma história bem simples, assim como no ‘Nomadland’ é um pouco parado, e procura desenvolver os pequenos atos do dia a dia, e é um filme que tem uma atuação muito boa do elenco em geral. É muito bom, mas pessoalmente achei tranquilo demais, mas é muito importante para a representatividade oruiental em Hollywood”, diz Laércio.

O encontro de dois gigantes da atuação também é celebrado na categoria. Anthony Hopkins e Olivia Colman estão em “Meu Pai”, filme carregado pela emoção. Na trama, Hopkins é um homem idoso que recusa toda a ajuda de sua filha à medida que envelhece. Ela está se mudando para Paris e precisa garantir os cuidados dele enquanto estiver fora. Na tentativa de entender suas mudanças, ele começa a duvidar de seus entes queridos, de sua própria mente e até mesmo da estrutura da realidade.

“É um filme com F maiúsculo”, defne Lorenna. “Eonsegue trazer para a cena toda essa lógica de uma mente que está realmente num estado de deterioração, de uma pessoa que sofre com alzheimer. Estamos ali meio que flutuando com ele, tentando entender o que é verdade, o que é alucinação”.

A categoria de Melhor filme é completa por um clássico de Oscar, um filme que fala da história do cinema: “Mank”. O roteiro escrito originalmente pelo pai de David Fincher, segue a história tumultuosa do roteirista Herman J. Mankiewicz, da obra-prima icônica de Orson Welles, “Cidadão Kane” (1941) e sua luta com o autor Orson Welles pelo crédito do script do grandioso longa celebrado até hoje.

“É um filme muito bom, mas ao mesmo tempo vai confundir a pessoa que assiste, porque ele não explica muito bem a sua trama. É um filme muito rápido, com diálogos muito rápidos, e quem assiste e não sabe do que se trata, vai ficar perdido. Apesar de tecnicamente ser muito bom, acho que deu uma enrolada ali no roteiro, no sentido de deixar as ideias claras para o telespectador, mas tecnicamente é um dos melhores”, explica Laércio.

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