'Continuamos de portas abertas', garante o responsável pelo Cine Ópera

Local abriga histórias que envolvem fetiches sexuais, brigas e até uma morte

Ana Carolina Matos/Redação Integrada
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"Estamos em atividade", garante o responsável pelo Cine Ópera, Luiz Alberto Hage. Em meados de abril deste ano, a informação de que o cinema estava na iminência de fechar as portas, supostamente após ser vendido para uma igreja, afetou diretamente a frequência do já escasso público do "Bonzão Bonitão", conhecido pela exibição dos filmes pornográficos. Em atividade desde 1961, o prédio abriga diversas histórias de fetiches sexuais, brigas e até a morte de um homem, de causas naturais, dentro da sala de exibição.

"Estamos em atividade", garante o responsável pelo Cine Ópera, Luiz Alberto Hage, responsável pelo cinema. 

Há pelo menos dez anos os herdeiros tentam vender a edificação, tanto por conta da queda de público como pelas dificuldades de fazer a manutenção do prédio. Atualmente, toda a renda arrecada é revertida para pagamento de funcionários e conservação do espaço. "O cinema está à venda mas está funcionando. Esse mês a gente sentiu uma diminuição enorme. Caiu uns 30% pelo menos", lamenta. 

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Neste meio tempo, algumas propostas vieram mas nenhum dos interessados fechou o contrato efetivamente. "O público foi caindo com o tempo, com disputa de canal adulto, com internet... Tudo isso foi tirando o público do cinema", avalia. "Fiquei responsável porque trabalhava com o vovô desde a época de universitário, com 18 anos. Hoje tenho 50. Meu avô já morreu. Dois dos três filhos também. A gente mantém ele aberto, até que seja dado um destino pro cinema, que a gente não sabe qual vai ser, se vai ser venda ou outra coisa", conta Luiz Alberto.

Mesmo com algumas dificuldades, as atividades no cinema seguem normalmente, todos os dias das 13h às 20h, destaca Luiz Alberto, neto de um dos fundadores libaneses, João Jorge Hage, que ao lado do irmão, Elias Hage, trouxe à vida o grande sonho. O local deu início às atividades com a exibição do longa alemão “Noites do Papagaio Verde” (1957), do diretor Georg Jacob, na década de 60.

Ser o atual responsável por um dos cinemas mais antigos da capital paraense, conhecido pelo conteúdo de filmes adultos, rendeu histórias curiosas a Luiz Alberto. "Tem tanta história que daria um livro", conta. 

"Já teve caso de uma mulher encontrar o marido no cinema e sair de lá batendo nele", lembra Hage.

Entre as curisidades, fetiches sexuais que envolvem exibicionismo e voyerismo (práticas sexuais na frente de outras pessoas e o prazer em ver os outros praticando sexo, respectivamente). "Já tentamos barrar algumas coisas, mas percebemos que era como nadar contra a maré. Nós deixamos o pessoal livre lá dentro pra fazer o que quiserem. Na verdade é uma área livre de diversão entre adultos", define.

Especializado em filmes pornô, o cinema só passou a veicular filmes mais "pesados" em 1985, com uma crise da década de 80 que afetou cinemas de todo o país. Por conta disso, vários locais de exibição de filmes passaram a adotar a exibição dos filmes pornográficos como alternativa para que não fechassem as portas, explica a historiadora Raíssa Barbosa, que desde 2014 faz uma pesquisa sobre o Cine Ópera. 

"Essa mudança ocorreu durante a década de 80, em que ele se especializa em pornô hardcore, de sexo explícito mesmo, diferente do que havia nas pornochanchadas. Antes disso, ele exibia filmes de todos os gêneros", comenta. A mudança, entretanto, teve início de forma gradual e intercalada. A audiência desproporcional dos filmes adultos fez com que João Hage optasse pela mudança. "Na verdade foi um nicho de mercado em meio a uma crise. Ele não queria fechar a sala, como muitos outros fecharam. Então conseguiu sobreviver por causa do pornô", comenta Raíssa.

"Se os setores culturais tivessem a vontade de transformar em espaço cultural, seria maravilhoso", ressalta a pesquisadora Raíssa Barbosa.

Mesmo com a facilidade com que o conteúdo pornográfico pode ser acessado atualmente, a pesquisadora acredita que o ambiente ainda sobrevive, apesar das dificuldades, pelo ambiente que proporciona. "É um local que pode proporcionar um encontro de pessoas. Embora muitos achem que deixou de ser um cinema, por causa disso, eu discordo. As pessoas reagem do jeito delas ao filme, assim como os outros reagem rindo à uma comédia, ou chorando por conta de um filme de drama", defende.

Para ela, o local, que conta parte da história do mercado do cinema paraense, pode servir de espaço cultural de resistência. "Se os setores culturais tivessem a vontade de transformar em espaço cultural, seria maravilhoso. Lá eles guardam máquinas de projeção, cadeiras do Cine Iracema da época, é como um pequeno museu", explica.

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