MENU

BUSCA

Bole Bole leva Mãe Josina para a avenida e transforma o Guamá em solo sagrado no Carnaval 2026

Com o enredo, a agremiação prestará uma homenagem inédita à fundadora do Terreiro de Mina Dois Irmãos, o mais antigo em funcionamento de Belém

Fernando Assunção (Especial para O Liberal)

O Carnaval 2026 da Associação Carnavalesca Bole Bole vai prestar uma homenagem inédita à fundadora do Terreiro de Mina Dois Irmãos, Mãe Josina, no bairro do Guamá, em Belém. Com o enredo “Mãe Josina do Guamá, solo sagrado da cultura popular”, a escola levará para a avenida a história da mulher maranhense que, há 136 anos, firmou raízes do tambor de mina na capital paraense.

A proposta do enredo vai além da homenagem. É um gesto de reconhecimento a uma trajetória que transformou dor em fé, sofrimento em cultura e exclusão em pertencimento. Para os integrantes do terreiro e da escola, trata-se da afirmação de um território espiritual que pulsa na alma do carnaval paraense.

Legado espiritual e cultural em destaque

Atual dirigente do terreiro e quarta geração da liderança espiritual da casa, Mãe Eloísa de Badé celebrou a escolha do enredo com emoção e reverência. “Em 135 anos da nossa casa, no ano de completar 136, Mãe Josina vai ser homenageada. É mais do que merecido”, afirmou.

Mãe Eloísa relembrou que foi criada no terreiro, entre rezas, folhas e toques. “Foi Mãe Josina quem trouxe a mina pro Guamá, quem fincou o axé naquele chão da Pedreirinha. Aquele solo é sagrado. É ali que tudo começou.”

VEJA MAIS

Carnaval de Belém 2025: Pelo segundo ano consecutivo escolas de samba dividem primeiro lugar
Decisão consagrou agremiações que se destacaram entre os quesitos julgados.

A disputa foi acirrada! Descubra os números que decidiram o Carnaval de Belém 2025
Bole-Bole e Quem São Eles foram consagradas campeãs no domingo (16/03), durante apuração na Aldeia Cabana

Inspiração vinda da fé e da história

Segundo o diretor de carnaval da Bole Bole, Herivelto Silva, o Vetinho, a ideia do enredo surgiu após a participação da escola na seletiva da Grande Rio, em 2025, quando a agremiação carioca apresentou o enredo “Pororocas Parawaras” com participação do mesmo terreiro.

Mãe Eloísa chegou a desfilar na Marquês de Sapucaí e viu o enredo afroamazônico conquistar o vice-campeonato. De volta a Belém, Vetinho passou a aprofundar pesquisas e se aproximou da comunidade religiosa no Guamá.

“Descobrimos que, ali na rua Pedreirinha, havia uma história mais antiga que imaginávamos. Foi Mãe Josina quem iniciou tudo, logo após a abolição, em 1890”, disse.

Construção do enredo com apoio da comunidade

A equipe da escola contou com apoio direto da comunidade do terreiro, que cedeu registros históricos, como um manuscrito de seu Edilson, marido de Mãe Lulu. O material permitiu reconstituir a saga da fundadora, respeitando a hierarquia dos encantados e os detalhes da tradição.

“Esse enredo é espiritual, é emocional, é a alma do Guamá”, resume Vetinho.

‘A ancestralidade está em festa’

Para Mãe Eloísa, o momento representa um chamado espiritual. “É tudo energia, meu filho. Vem dos nossos mais velhos, dos encantados. Nossa ancestralidade está em festa com essa homenagem.”

Ela afirma que a história da homenageada carrega um poder de transformação. “Mãe Josina tirou o peso da dor que o Guamá carregava e fez dali um espaço de fé, cultura e espiritualidade.”

Evento de lançamento e expectativas para o desfile

O enredo foi lançado em 11 de julho no próprio Terreiro Dois Irmãos, com cortejo saindo da sede do Bole Bole. O lançamento do samba-enredo está previsto para 6 de setembro. Para Vetinho, esse será o terceiro passo de um processo guiado pela espiritualidade.

“Se o samba pegar, se o povo cantar, temos tudo para fazer um grande desfile. Estamos em busca do tetracampeonato, mas com respeito à nossa ancestralidade.

Ficha técnica

  • Enredo: “Mãe Josina do Guamá, solo sagrado da cultura popular”
  • Diretor de Carnaval: Herivelto Silva (Vetinho)
  • Comissão de Carnaval:
    • Danilo Silva
    • Felipe Moura Palha
    • Kléber Oliveira
    • Margarida Gordo
    • Romário Vinagre
    • Wellington Oliveira
  • Logo: Theo Neves, com colaboração de Gabriel Haddad e Leonardo Bora