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Amores Improváveis de Edney Silvestre ganha formato de audiobook

Jornalista narra obra que retrata romance interracial no final do século XIX

Alexandra Cavalcanti - Especial para O Liberal
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O relacionamento de uma jovem descendente de italianos e um negro no final do século 19 no Brasil é a história central do livro Amores Improváveis, do jornalista e escritor Edney Silvestre e publicado pela editora Globo. A obra lançada no ano passado no formato tradicional agora está disponível em audiobook e está disponível na área premium do aplicativo Skeelo Audiobooks www.skeeloaudiobooks.com.br, que pode ser baixado no sistema IOS e Android.

O ponto de partida do livro são os amores vividos por quatro irmãs, mas com foco na história da adolescente Emiliana Vivacqua, filha de imigrantes italianos, que se envolve com o lavrador Felício Theodoro, descendente de africanos, casado e pai de três filhos. O romance ocorre em meio a um Brasil que começa a substituir a mão-de-obra escrava pela de imigrantes, passando também pela Proclamação da República em 1889, ascensão de São Paulo como metrópole, além da construção de importantes estradas como a Madeira-Mamoré.

O escritor Edney Silvestre que tem a imagem e a voz bastante conhecidass do público, por conta de seus trabalhos como jornalista de TV, conta porque decidiu narrar a história escrita por ele mesmo. “Tenho a experiência de alguns audiolivros narrados por outras pessoas. Bons locutores, bons atores. Mas, com exceção da leitura que Antonio Fagundes fez de ‘Se eu fechar os olhos agora', todas as outras foram frustrantes. Cada autor tem uma ‘respiração’ ao escrever, que é como lhe vem à cabeça. A minha respiração é demasiada particular. Tenho um estilo que é só meu. E o resultado dessas leituras de minhas obras era, para dizer o mínimo, insatisfatório. Daí concluí: fora o Fagundes, quem é mais adequado para narrar esse romance do que eu? O resultado foi muito melhor do que eu acreditava que seria. Isto é: foi mais adequado. Ao meu texto, minha construção de frases, minha ‘respiração'”, justifica.

Ele ressalta que a experiência de narrar é única e envolve também a interpretação do texto. “Minha narração não foi fria, nem distante. Foi, sem dúvida, uma interpretação. A trama das quatro irmãs que ousam desafiar as regras de preconceitos da sociedade de seu tempo, me comove desde que comecei a escrever ‘Amores improváveis’. Em alguns momentos tive de parar, porque fui tomado por profunda emoção. Como na carta da filha caçula, que foge com o noivo da irmã e mergulha em um trágico destino, na Amazônia. Creio que é perceptível essa emoção para quem ouve”, diz.

Como o sucesso do livro impresso, o autor conta que agora nesse formato, pretende que a obra possa ser conhecida por outros públicos. “Quem gostaria de ouvir ‘Amores improváveis’ na voz do próprio autor, quem tem dificuldade para ler, aqueles que estão a descobrir essa nova mídia para a divulgação de literatura brasileira. No Instagram, Twitter e Facebook eu vinha recebendo muitos pedidos para fazer a versão áudio. Quando o Mauro Palermo, da Editora Globo (Globo Livros) também se mostrou entusiasmado, decidi ousar. E lá fui eu”, lembra.

O ponto de partida para contar a história das quatro irmãs, segundo o escritor, veio de sua avó Maria, uma lavradora que saiu da roça, arrumou emprego como tecelã, casou e enviuvou em menos de 5 anos, criou e educou sozinha os filhos lavando roupa para fora. “A personagem principal é profundamente baseada nela”, revela.

A expectativa do escritor é que o audiobook possa alcançar o mesmo sucesso do livro tradicional. “Desde ‘Se eu fechar os olhos agora’ nunca mais tinha me acontecido tanta acolhida, tanta mensagem de afeição pelos personagens, tantos clubes de leitura se interessando e discutindo a trama, a época, o proto-feminismo das irmãs Vivacqua, até mesmo a História do Brasil que emoldura o romance. Isso em plena pandemia. É preciso sublinhar que as redes sociais, que a internet, vem sendo grandes aliados dos escritores nacionais, antes mesmo do isolamento social”, avalia.

Para ele, esse feito é importante em meio a um mercado literário que ainda precisa ser mais abrangente. “As feiras (literárias) minguaram e sumiram com o agravamento da crise econômica pós-Lula, seguida da política anti-cultural do atual governo, e os efeitos terríveis da pandemia. Algumas festas literárias, ao tomarem para si um caráter ativista étnico restringidor, deram visibilidade a autores negros e indígenas que, de outra forma, ficavam em segundo plano, ou até mesmo nenhum plano. Ao mesmo tempo, as festas literárias precisam ser ainda mais abrangentes e inclusivas. O sucesso da Bienal do Rio - sucesso de público, prestígio e financeiro - mostrou que o público leitor quer mais. Independentemente do gênero, etnia, estilo ou origem dos autores”, opina.

Edney avalia ainda que a experiência como jornalista tem uma contribuição importante para seu trabalho como escritor, iniciado em 2009 com a publicação de seu romance ‘Se eu fechar os olhos agora” (Ed. Record), que ganhou o Prêmio Jabuti de 2010 de Melhor Romance e o Prêmio São Paulo de Literatura 2010, na categoria estreante.

“Conheço profundamente o meu país e sua gente, de Norte a Sul, da Amazônia às plantações de soja do Mato Grosso do Sul e a porosa área de contrabando e crime na fronteira com o Paraguai. Conheço bem as diferentes culturas afro-indígenas de Pernambuco, Estado do Rio e Minas Gerais, a vida nas favelas, nos ambientes de luxo de São Paulo e Rio, a atmosfera rarefeita de Brasília, graças às inúmeras e constantes reportagens que venho fazendo há duas décadas, desde que voltei dos Estados Unidos. Igualmente a minha experiência internacional em Cuba, Iraque, Suíça, Jordânia, nos atentados de 11 de setembro em Nova Iorque, Washington, Hollywood, Florida, por todos os Estados Unidos, de uma maneira ou de outra ajuda a dar consistência ao humano de minha obra literária. O escritor que sou não existiria, sem minha vivência como repórter. Talvez o romance que melhor reflita isso é o recém-lançado ‘Vidas provisórias’”, acredita.

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