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Sob coordenação do Departamento de Marketing do Grupo Liberal, aborda os temas relacionados à economia, negócios, tecnologia, comportamento e áreas afins. Publicação aos domingos, terças e quintas. A coluna recebe sugestões pelo e-mail maisliberal@oliberal.com.br.

Monja Coen e o Zazen, importância da imprensa em tempos de coronavírus e rede de solidariedade

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Papo Liberal

image Monja Coen (Arquivo pessoal)

A Mais Liberal conversou com a Monja Coen, primaz fundadora da Comunidade Zen Budista do Brasil e missionária oficial da Tradição Soto Shu do Zen Budismo Japonês. Ela conta um pouco da sua trajetória, fala do atual cenário no País com o isolamento social e deixa uma mensagem de otimismo sobre a pandemia coronavírus. Confira! 

Como você se descreve antes da vida monástica?

Antes de me tornar monja - o que aconteceu aos 36 anos de idade – fui jornalista profissional da empresa O Estado de S.Paulo S.A., como repórter geral do Jornal da Tarde. Essa experiência profissional foi uma abertura de consciência e de percepção da realidade como algo muito maior do que os valores e conceitos da minha família, do meu bairro, da realidade que até então experimentara. Dúvidas e questionamentos, que desde os 11 anos de idade me seguiam, se tornaram mais intensa.

Casei cedo e aos 17 anos de idade me tornei mãe. Ainda amamentava minha filhinha quando foi feito o nosso desquite - não havia divórcio naquela época.

Sete anos mais tarde, meu ex-marido Antonio Carlos Scavone morreu em um acidente de avião, indo a Orly, na França, quando trabalhava para a TV Globo. Ele iria narrar a corrida de Formula 1 de Monza, Itália.

Depois do Jornal da Tarde, morei uma época na Europa e voltei ao Brasil saudosa de minha filha. Dei aulas de Inglês, juntei-me como fã seguidora de meus primos Sérgio e Arnaldo, que na época formavam o grupo Mutantes com Rita Lee.

Houve a separação do casal Rita e Arnaldo e o grupo se desfez, no mesmo momento em que eu fui morar nos Estados Unidos e me casei com um empresário do ramo de Rock'n roll. Ele tinha uma empresa de iluminação de grandes shows no estádio de Tampa, Florida. Durante meses ajudei no palco, enrolando cabos longos e pesados. Depois voltamos ao Brasil, onde dávamos aulas de inglês e ele também treinava cães.

Acabamos nos separando, depois de termos ido morar na Califórnia. Em Los Angeles, trabalhei na agência local do Banco do Brasil e iniciei minhas práticas Zen. Em pouco tempo pedi para me ordenar monja. Separei-me do marido, das roupas, dos cabelos, das aulas de balé clássico e dos meus 47 quilos.

Fui morar no Zen Center of Los Angeles. Três anos e meio depois estava no Japão, no Mosteiro Feminino de Nagoya. E assim continuo monja desde os 36 anos de idade. Este ano completo 73 - logo, mais da metade de minha vida é monástica e muito do que aconteceu no passado se torna uma nuvem distante, uma vaga memória.

O que fez você largar tudo e se dedicar exclusivamente ao Budismo?

O Zazen - sentar-se em Zen, foi o que me levou a fazer o compromisso da vida monástica. Olhar em profundidade para si. Sentar-se em silêncio nos grandes retiros de sete dias e sete noites. Ser acompanhada por grandes monges e monjas da linhagem. Descobrir o meu eu verdadeiro, não os personagens que criava, mas o que está por trás dos personagens. Quem sou eu? O que é vida? O que é morte? Perguntas que não se calavam de repente foram se aquietando e descobri o sagrado em cada partícula e no todo.

Cada ser é o todo manifesto e só existimos em inter-relação a todas as formas de vida. Por isso cuidamos. Um cuidar que vem do mais íntimo, pois vem da experiência vívida de não ser uma individualidade separada.

Pedi para ir ao Japão treinar num mosteiro feminino. Fui. Fiquei oito anos no mosteiro e doze no Japão, trabalhando em templos e atendendo à comunidade local dos templos em que pratiquei. Foi difícil, diferenças culturais, não falava japonês. Desenvolvi resiliência e a capacidade de ler as pessoas, mesmo sem entender suas palavras. Foi intenso, gratificante.

Meditar, orar, fazer faxina, ouvir aulas, comer em silêncio, usar apenas os hábitos monásticos, dividir aposentos com outras monjas e ter mestras e mestres de grande capacidade iluminada, que me auxiliaram a esclarecer minhas dúvidas e fortificar minha decisão de oferecer minha vida ao Darma de Buda (ensinamentos da iluminação suprema).

Sou atualmente Missionária Oficial da Tradição Soto Shu, com sede no Japão.

Fui formada professora de monges e monjas, leigos e leigas pela ordem Soto Shu. Fiquei durante seis anos servindo no templo Busshinji, no bairro da Liberdade, em São Paulo. Depois formei uma nova comunidade, na qual permaneço.
 
Como você enxerga sua missão religiosa?

Minha missão é difundir os ensinamentos de Xaquiamuni Buda, por meio dos ensinamentos de Mestre Eihei Dogen e Mestre Keizan Jokin (séculos XIII e XIV), fundadores da ordem no Japão. Ou seja, que todos possam despertar, que todos os seres possam viver em harmonia e respeito não só dentro da própria espécie humana, mas em relação à toda vida da Terra. Nossos preceitos de ouro são: não fazer o mal, fazer o bem e fazer o bem a todos os seres. Minha missão principal é facilitar para que as pessoas despertem e vivam em harmonia e respeito com tudo que existe.

Ensino meditação, princípios éticos, vida plena. Dou aulas, faço palestras, participo de eventos e encontros religiosos, escrevo livros e artigos para jornais, revistas e livros inter-religiosos. Atendo meus discípulos. Ordenei trinta monásticos e dez se tornaram professores da nossa tradição. Oficio casamentos, bênçãos para crianças, ensino zazen - meditação sentada, e também ensino meditação caminhando, meditação em atividade - para todas as pessoas, desde crianças a idosos.

Atualmente criamos EAD - Curso a distância sobre Introdução ao Zen, e oferecemos práticas de Zazen e aconselhamento on-line. Procurem no Canal Mova e se inscrevam. 

Qual é a sua visão em relação ao mundo tão conturbado? O que falta para que as pessoas possam ser mais humanas umas com as outras?

Estamos agora na Pandemia do Corona. Um carma coletivo. Causas e condições que todos nós deixamos desenvolver. O que fazer num momento como este em que devemos ficar recolhidos em nossas casas? Podemos fazer neste isolamento social uma oportunidade de filosofar, de orar, de meditar, de conhecer em profundidade a própria mente e rever tudo o que vínhamos fazendo e como estávamos vivendo. Os primeiros dias são confusos e difíceis.

Algumas pessoas acabam saindo para atividades físicas, praias, conversas, bares. O governo endurece e ficamos em casa.

Um voto, como de um bodisatva - ser iluminado: fazer o bem a todos os seres, pensar no bem-estar de todos antes do seu próprio bem-estar. Ficar em casa facilitará para o serviço de saúde poder atender o maior número de casos. Já não é para proteger os idosos e vulneráveis. É para proteger todos os seres humanos. Então mudamos nossas rotinas e, quem sabe, poderemos mudar para sempre nosso olhar para a realidade.

O que é mais importante? Lucro? PIB? Emprego? Bolsa de Valores? Ou será que a saúde, a vida, valem mais do que dinheiro, carros, moradias, roupas, viagens, títulos e personagens, fama e medalhas? Vamos chegar à essência do ser?

Acredito que o coronavírus veio coroado para nos tornar reis e rainhas de nossa própria vida de nossa própria história. Deixar de lado manipulações de poder e vantagens pessoais. Ou vencemos todos juntos ou todos perecemos. Leonardo Boff vem profetizando isso há anos. Chegou o momento de despertarmos.

O mais importante é a saúde física, mental e social. Não adianta ter muitas posses materiais - o vírus não reconhece ricos e/ou pobres, altos ou baixos, gordos ou magros. Não faz distinção entre homens, mulheres, homo ou hetero, trans, travestis ou bissexuais - somos todos humanos.  Seres humanos. E todos podem ser contaminados da mesma maneira.

Os mais pobres, por viverem mais aglomerados e com menos saneamento básico, talvez sejam os mais contaminados e entre eles haja o maior número de mortes. Mas há ricos, famosos, também morrendo. O vírus não seleciona e escolhe...

Quem sabe esta experiência de ficar em casa, de ler mais, refletir mais, estudar, fazer escolhas adequadas, ser capaz de se autoconhecer e redescobrir o encontro, o canto, a alegria de viver, o compartilhar, o cuidar amoroso e sábio possam nos tornar uma espécie menos destrutiva, arisca e briguenta?

Quem sabe o ar possa ficar menos poluído para sempre, quem sabe possamos continuar desenvolvendo a solidariedade e o afeto? Quem sabe possamos apreciar cada instante de vida, sem pressa de chegar, de ir e vir, mas capazes de desenvolver a presença pura. Estarmos inteiros e inteiras em cada momento, fazendo nosso melhor, conhecendo com intimidade o nosso eu?

Em um tempo de incertezas, qual mensagem você deixa para nossos leitores?

O que dizer a todos? É cuidando que somos cuidadas. Aprecie cada instante de sua existência. Temos medo sim. Medo de sermos contaminados, de sofrer, de perder, de ter fome, sede, sentir dor, medo de morrer. Todos sentem da mesma forma. Por isso nos reconhecemos uns nos outros e nos retiramos para nosso interior, para dentro de nossas casas, de nós mesmos. E percebemos que nunca estamos sós. Estamos todos nas mãos do sagrado. E, como dizia um antigo mestre Zen japonês: sejam as mãos sagradas no mundo. Cuidem com sabedoria e compaixão e as portas do tesouro se abrirão e você poderá se servir a contento. Nada falta. Nada excede. Tudo é, assim como é. E tudo é movimento e transformação. Podemos transformar esta pandemia, na pandemia do amor, da sabedoria, do cuidado e todos se libertarão das falsidades, das malícias, das milícias. E todos poderão compartilhar com alegria a vida.  

Credibilidade

Um levantamento da Edelman revela: 64% da população de dez países, incluindo o Brasil, enxerga o trabalho da imprensa como a fonte mais confiável no contexto de pandemia da Covid-19. Ainda segundo o estudo, 85% dos brasileiros entrevistados estão apreensivos com os conteúdos falsos sobre a doença que se espalha pelo planeta.

Ceofood

É o nome do novo app de marketplace, já disponível na capital paraense. Além de restaurantes, traz, entre os parceiros, lojas de conveniência, farmácias, petshops e outros serviços delivery. O novo app já está disponível em 18 estados brasileiros. No Pará, funciona em Belém e, nos próximos seis meses, atenderá outros dez municípios do estado.

Guia Financeiro

Que tal aproveitar o tempo em casa para colocar a vida financeira em ordem? Alguns apps podem auxiliar no controle da receita, transações e gastos. Um deles é o Guia Bolso, que permite a sincronização com a conta bancária. Dessa forma, não é preciso ficar anotando tudo. O aplicativo é gratuito, seguro, e pode ser acessado em guiabolso.com.br.

Pílulas Digitais

Francy Rodrigues fala sobre a rede de solidariedade para enfrentar a pandemia de coronavírus e tornar o período de isolamento social mais positivo, criativo e saudável. E o melhor, sem gastar nada

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