LINOMAR BAHIA

LINOMAR BAHIA

Jornalista e radialista profissional. Exerceu as funções de repórter, redator e editor de jornais e revistas, locutor, apresentador e diretor de emissoras de rádio e televisão. Articulista dominical de O Liberal há mais de 10 anos e redator de memoriais, pronunciamentos e textos literários. | linomarbahiajor@gmail.com

Um novo grito de independência

Linomar Bahia

Insatisfações populares, que geram revoltas, revoluções e, até, guerras, figuram em todas as fases da história universal, em maiores ou menores dimensões, tanto nas causas, quanto na produção de vítimas e consequências, nem sempre as objetivadas. Agora mesmo, novas insurreições refletem a eterna turbulência no Oriente Médio, enquanto, em nossas vizinhanças, venezuelanos, chilenos e bolivianos se digladiam nas ruas e podem contaminar os arredores. Encarnam o traço comum dos protestos contra as onipresentes desigualdades econômicas e exclusões sociais, ao que se juntam os agitadores e oportunistas de sempre.

Entre tantas insurreições de variados calibres, a “Revolução Francesa”continua sendo a rainha de todas, com a queda da Bastilha, simbolizando o fim dos privilégios das elites, e nas profundas e continuadas mudanças modeladoras da civilização, sintetizadas no lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” a universalização dos direitos sociais e das liberdades individuais. Também sagraram a separação entre os poderes legislativo, executivo e judiciário e suas limitações recíprocas, projetadas por Aristóteles, em “A Política”, Locke, no “Segundo Tratado Sobre o Governo Civil”, e na teoria exposta no "Espírito das Leis" por Montesquieu.

Entre tantas revoltas, guerrilhas e movimentos de protesto no Brasil, como a “Balaiada” e a “Sabinada”, a história conferiu destaque particular à “Cabanagem”, nos anos 1835/1840, ao mesmo tempo em que no sul eclodia a “Guerra dos Farrapos”, também conhecida como “Revolução Farroupilha, pelo caráter estritamente regionalista, pleiteando a independência do império. Quase 200 anos depois, ainda parece latente o espírito daqueles revolucionários, quando novos revoltados constatam que, apesar do tempo, pouco ou nada melhorou, mantendo presente o passado de brasileiros de segunda classe.

Enquanto os sulistas lutavam pela emancipação da província de São Pedro do Rio Grande do Sul, a “Cabanagem” mobilizava índios e ribeirinhos pela autonomia política e administrativa do “Grão-Pará”, ocupante de dois terços do território brasileiro, hoje dividido entre os Estados do Pará, Amazonas, Amapá, Roraima e Rondônia. Insuflados pelos aproveitadores das manifestações para também reclamar participação nas ações político-administrativas, os pobres reclamavam da exclusão social e econômica, submetidos a sobreviverem em condições péssimas das cabanas ribeirinhas, por isso "cabanos" e a denominação do movimento.

Tantas razões, 180 anos depois continuam motivos de revoltas, ainda aumentando a exploração, em benefício de outras regiões, dos incontáveis recursos naturais do outrora “Grão Pará”. Fracassaram, ou foram malversados e corrompidos, programas e projetos teoricamente destinados ao desenvolvimento regional, a exemplo da transformação do Banco de Crédito da Borracha em Banco da Amazônia, para gerenciar os recursos provindos dos incentivos fiscais admitidos pela SPEVEA/SUDAM. Hidrelétricas e mineração têm sido geradores de miséria e violência, em lugar do progresso e riquezas que deveriam promover.

Nestes primeiros dias de 2020, começaram a ser desfraldadas novas bandeiras pela independência da região, sopradas pelos ventos do desmatamento e a persistente contradição entre um povo pobre numa região rica, sem que os recursos hídricos, minerais, vegetais e a biodiversidade resultem em progresso e desenvolvimento regional.. Recém fundada Associação está proclamando uma “República dos Povos da Amazônia”, espécie de "Cabanagem" de hoje, novo grito de independência, do descaso governamental e da inoperância da classe política, pretendendo  figurar entre as maiores economias mundiais. Será?

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