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LINOMAR BAHIA

LINOMAR BAHIA

Jornalista e radialista profissional. Exerceu as funções de repórter, redator e editor de jornais e revistas, locutor, apresentador e diretor de emissoras de rádio e televisão. Articulista dominical de O Liberal há mais de 10 anos e redator de memoriais, pronunciamentos e textos literários. | linomarbahiajor@gmail.com

Novos sinais dos tempos

Linomar Bahia

Sempre que surgem crises de qualquer natureza, principalmente quando produzem consideráveis danos pessoais e econômicos, como agora, nesta pandemia, também surgem opiniões dos que se apresentam como especialistas e palpites de meros oportunistas. Enquanto pesquisadores das origens da vida e estudiosos dos sucessivos problemas que se têm abatido sobre o universo, tateiam em busca de soluções para as questões em torno de causas e efeitos, perscrutadores dos mistérios da mente e da alma humanos são desafiados a buscarem explicações para as deformações sociais e suas influências no comportamento humano e seus reflexos em cada situação.

Nesta crise epidêmica, em que pontificam as cenas chocantes de criaturas, mendigando socorro médico, e as exibições macabras de mortos e sepultamentos, merece reflexão a importância da civilidade, por vezes comprometida, a pretexto ou justificada por uma tal "modernidade", ao longo deste século. Provocou um complemento danoso, na falência moral e na consequente decadência da credibilidade nas representações políticas e sociais, evidenciada na rejeição a detentores de mandatos eletivos. Resultado flagrante é retratado na desobediência a decisões das autoridades, também contrariadas pelas carências dos trabalhadores informais.

As evidências dos desvios de conduta pessoal e nas formas de relações humanas são tão gritantes, que sua abordagem não precisaria recorrer aos conhecimentos acadêmicos ou aos registros antropológicos, nem incursionar pelos fundamentos em que se baseiam as ciências sociológicas e psicológicas. Estão frequentemente presentes, nas agressões físicas e verbais que desarticulam famílias, desfazem lares e perturbam nas ruas, chegando às páginas policiais e aos obituários. Textos bíblicos dissecaram distorções do comportamento humano e definiram compensações aos virtuosos, punições aos desviados e a todo o contexto de pecaminosos em redor. 

O risco de pagarem os justos pelos pecadores, inspiraram pensadores e cientistas sociais, chegando mesmo à obras literárias. Em “O Primo Basílio”, por exemplo, Eça de Queiroz incumbe o conselheiro Acácio de infernizar um tal George Carlin, enquanto o psicólogo Pierre Weill e o professor Roland Tompakow enquadraram o comportamento à linguagem em “O Corpo Fala”. Conflitos familiares e desvios institucionais agridem normas e pervertem costumes, revelando quanto o ser humano é capaz de práticas e de posturas, ao sabor das conveniências oportunistas, refletindo, principalmente, a capacidade de renunciar a princípios e a reverter conceitos.

Há perguntas cujas respostas pontuam as deformações culturais e comportamentais dos últimos tempos. Quantas vezes filhos pedem a bênção dos pais? Quem já assistiu jovens cederem lugares aos mais velhos em locais públicos? Alguém, por acaso, já viu qualquer pessoa ceder a preferência a quem mais necessita? Quantos assistem, frequentemente, caixas e vagas preferenciais ocupadas por quem não faz jus, etária ou legalmente, a esses espaços? E as agressões vocais e físicas de alunos a professores, aos quais devem respeito paternal? Responder a questões assim e a menção de outros tantos exemplos, já espelham fielmente uma das razões das desobediências civis.

Tantos novos sinais dos tempos estão na raiz da evolução da pandemia do conovid-19, contrariando a controvertida necessidade do chamado "distanciamento social". Apesar da relevância, pouca ou nenhuma atenção tem sido dada a esse comportamento desrespeitoso à lei e às ordens determinadas pelas autoridades. Uns, porque simplesmente não respeitam a nada, nem a ninguém, tamanha a falta de credibilidade e representatividade popular. Outros, porque sofrem a dúvida "shakespeariana", ao preferirem ir à rua em busca do que comer, ou morrer de fome. Como, segundo Kant, o "o ser humano é o único animal que precisa de um líder para viver", eis a questão.

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