LINOMAR BAHIA

LINOMAR BAHIA

Jornalista e radialista profissional. Exerceu as funções de repórter, redator e editor de jornais e revistas, locutor, apresentador e diretor de emissoras de rádio e televisão. Articulista dominical de O Liberal há mais de 10 anos e redator de memoriais, pronunciamentos e textos literários. | linomarbahiajor@gmail.com

Não ao trabalho infantil. E daí? ...

Linomar Bahia

Estamos em mais um momento de exaltar a necessidade de dispensar atenção especial para as duas extremidades mais delicadas da existência humana. Nascimento e velhice, passando pela infância e juventude, constituem os tempos mais vulneráveis da vida, crianças e jovens carecendo de formação e amadurecimento, enquanto os velhos necessitam das muletas sociais e afetivas pelo tempo que lhes restam. Todavia, não tem sido essa a preocupação das classes dominantes, insensíveis a percepções pessoais e econômicas como tem sido famosa multinacional, há décadas surfando, justamente, nas ondas das fraldas e fraldões que fabrica.

Crianças e idosos constituem uma categoria de ser humano com potencial para despertar e estimular diversas formas de atenção, como fontes e motivações específicas e exclusivas, envolvendo, entre outros, oportunidades de negócios, ações protetivas e políticas públicas adequadas. Nada, contudo, que se tenham conseguido solucionar, ao longo do tempo, os graves e reincidentes problemas que afligem essas duas extremidades do ciclo de vida, tornando iniciativas e procedimentos pontuais em eventos isolados e efêmeros, consequentemente sem resultados práticos duradouros e evolutivos nos respectivos universos.

Mais uma vez neste ano, e poderia ser até a intervalos mais curtos, entidades públicas, entes privados e segmentos da sociedade civil se empenham em várias formas de manifestação, em caminhadas pelas ruas e reuniões setorizadas, objetivando chamar a atenção para o que consideram importante no combate ao trabalho infantil. Mas, e daí?... Em países de pobreza gigantesca, como o Brasil, e nos rincões abaixo da linha da pobreza, ou pouco acima, como a Amazônia, milhares de crianças e adolescentes têm a própria sobrevivência e dos familiares inevitavelmente condicionada e dependente de algum trabalho desde a tenra idade.

Embora meritórias as campanhas e as elogiáveis motivações dos que as promovem e participam, ficam restritos ao terreno das boas intenções em um problema sem solução à vista. O realismo das dificuldades dos cerca de dois terços dos brasileiros pobres e miseráveis, sofre a indigência do básico para suprir o estômago. Pior, não há qualquer perspectiva de melhoria, pelo contrário, a despeito das “bolsas”, mais populistas e eleitoreiras do que redentora dos mais carentes, impondo que crianças e adolescentes, mesmo muitos idosos, vão à luta pela sobrevivência nas ruas, pedindo, vendendo, meninas o próprio corpo por migalhas.

Nem sempre, contudo, o trabalho na infância e na adolescência resultam em maus exemplos, anomalia que, vale destacar, tem se mostrado muito frequente em acometer bem-nascidos e afortunados, entre os quais notórios responsáveis pelo drama da fome e da miséria nacionais. Quem buscar as origens familiares e sociais de muitos ocupantes de altos cargos na vida pública e no setor privado, em todos os níveis profissionais no país e aqui mesmo, vai encontrar centenas de cidadãos vindos lá de baixo, calejando as mãos e arqueando a coluna para ganhar uns trocados, enquanto em casa dividia o pouco, na meia ou única refeição do dia.

Apesar de todos os pesares, são válidas todas as formas de dizer “não” ao trabalho infantil, embora falte à nobreza do ato o suficiente para proporcionar outra forma de sobrevivência, aos que têm como única saída, mobilizar todos quantos das famílias possam buscar o que comer. Enquanto alguns insistem em jogar bilhões de reais no saco sem fundo das vidas políticas de resultados, pai, mãe e filhos terão que continuar recorrendo, inclusive ao lixo, para saciar a fome. Quem sabe, em algum momento, crianças e adolescentes brasileiros poderão viver longe do trabalho precoce, não sendo mais necessárias campanhas como essa.

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