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LINOMAR BAHIA

LINOMAR BAHIA

Jornalista e radialista profissional. Exerceu as funções de repórter, redator e editor de jornais e revistas, locutor, apresentador e diretor de emissoras de rádio e televisão. Articulista dominical de O Liberal há mais de 10 anos e redator de memoriais, pronunciamentos e textos literários. | linomarbahiajor@gmail.com

Há outros vírus, ainda piores

Linomar Bahia

Pode ser chamado hipocrisia, oportunismo, exibicionismo, ambição ou outro adjetivo capaz de designar as pobrezas e baixezas humanas, em procurar tirar proveito de qualquer situação, como nestes tempos. O tempo passa e essa saga brasileira continua justificando frases e charges que retratam a exacerbação de egos e expectativas de poder. Custaram a Carlos Lacerda o apelido de "corvo", pelas apologias ao pior; a corrupção inspirou Stanislaw Ponte Preta a clamar "restaure-se a moralidade, ou locupletemo-nos todos!”; e justificou Oscar Niemeyer a marcar o último ato da vida, declarando que, soubesse no que Brasília seria transformada, projetaria a capital em forma de "rabecão", em vez de "avião".

Embora louváveis as intenções e ações para evitar o contágio e a morte de milhares, o oportunismo político e as vaidades pessoais em alta criaram figuras nacional e regionalmente caricatas em autopromoções, fingindo proteger enquanto aterrorizam os 26 estados e o Distrito Federal. Simulando fazer o que não fazem no dia-a-dia, estão incorporadas por personagens travestidos de mestre de cerimônia de entrevistas, chefe parlamentar em coletivas diárias, como intérprete de todas as necessidades populares, que ficam em segundo plano nas decisões congressuais, e ministro se dizendo preocupado com a saúde dos brasileiros, embora nunca lhe tendo dedicado tanto tempo, nem tamanha loquacidade.

Chega a parecer um certo sadismo, pela divulgação de contaminados e mortos, sem que, ao mesmo tempo, registrem outros milhares recuperados, estimulando especular comportamento hipócrita, ao omitir essa contraposição positiva e, assim, assombrar a Nação por uma sutil desesperança de condenados irreversivelmente à morte. Ao mesmo tempo, em que expõem números aterradores de doentes e falecimentos, milhares de pessoas continuam adoecendo e morrendo pelas causas de sempre, inclusive vítimas de moléstias rotineiras, que governantes e ministros não têm evitado, além dos 90 mil vítimas de homicídios, mais do que guerras recentes, e 40 mil vítimas do trânsito assassino das metrópoles.

Hipocrisias, oportunismos, exibicionismos e ambições, são responsáveis pela politização do coronavírus, e constituem as tristes atrações da pandemia em cartaz. Dividem o palco, onde também se exibem notórios pretendentes a presidentes, governadores ou outros objetivos, beneficiados pela exposição nas repetitivas e sonolentas entrevistas, e pelo acolhimento de setores incensadores dessas aspirações, corporificadas na ideologia revolucionária do lema "se há governo, sou contra". O vulto que assumiram os palanques eleitorais, nas disputas pelo protagonismo nos eventos da crise epidêmica, promovem deplorável competição entre o vírus epidêmico e outros vírus, ainda piores, das mazelas humanas. 

Resta esperar, principalmente os humildes, que os mais eloquentes prossigam com o mesmo desembaraço, em entrevistas e críticas aos alvos disponíveis, desempenhando o papel de paladinos das defesas dos pobres e desvalidos. Os graves problemas do país continuam à espera de soluções, sempre postergadas, como estão sendo postergadas mudanças e reformas necessárias à melhoria das condições de trabalho e da vida dos brasileiros. Enquanto isso, o Brasil continuará mais autêntico nas frases e charges, que melhor retratam as más práticas e costumes de sempre, sintetizadas na ironia francesa, proclamando, em meio à "guerra da lagosta", que não houve, que o Brasil não é um país sério. Pelos vistos, nem nas epidemias.

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