LINOMAR BAHIA

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Jornalista e radialista profissional. Exerceu as funções de repórter, redator e editor de jornais e revistas, locutor, apresentador e diretor de emissoras de rádio e televisão. Articulista dominical de O Liberal há mais de 10 anos e redator de memoriais, pronunciamentos e textos literários. | linomarbahiajor@gmail.com

Ao vivo e a cores

Linomar Bahia

Os brasileiros voltaram a assistir, em transmissões ao vivo e a cores, mais alguns capítulos do triste espetáculo da vida pública nacional. Personagens de sempre, interpretando os próprios papéis ou encarnando seus ancestrais e patrocinadores, encenaram a persistente realidade brasileira, com o epílogo apresentando o ponto final na “lava-jato”. Ficaram para trás os avanços, que pareciam apontarem para novos tempos de moralidade e bons costumes, animados com as revelações e prisões iniciadas com os processos do “mensalão” e multiplicados nos bilhões do “petróleo”. Mas, pelo novamente acontecido, na última semana, só pareciam.

Há muito a que refletir sobre as origens, os acontecimentos e o destino a que o país parece condenado. Quantos viram cenas lacrimosas na mudança de presidência da Câmara dos Deputados, devem ter se perguntado quais, afinal, seriam as verdadeiras razões e autenticidade das lágrimas. Assim como já houve procurador geral da República, apelidado de “engavetador geral”, por tanto engavetar ações contrárias aos interesses que poderiam se condenados, a frustração das pretensões re-eleitorais e, na fragorosa derrota do candidato que apoiava, revelaram ter o país se livrado de alguém cognominado como o “engavetador parlamentar”.

Vem à lembrança o quanto as letras do Hino Nacional, escritas por Joaquim Osório Duque Estrada nos anos 1800, viriam a deixar de ser a bela obra poética, para se transformar numa triste previsão de um país fadado a estar “deitado eternamente em berço esplêndido”, permanecendo esse “gigante adormecido”. Já houve quem, em vez disso, o Brasil é um grande molusco, que se move lentamente, exibindo a transparência das entranhas recheadas de coisas abomináveis. A professora baiana Tania Maria Lopes Torres, mestrada em Estudos Latino-americanos pela Universidade do Texas em Austin, publicou trabalho que disseca essa configuração.

Segundo ela, o hino descreve o Brasil em um estado de  letargia  e  sonolência, um  gigante  adormecido  que,  quando desperta,  se move-se com  lentidão. O adjetivo “impávido”, “por força de seu prefixo negativo, soa mais como um reforço da própria inabilidade do tal gigante”. Destaca a análise, também, que os mecanismos ideológicos, refletidos nos hinos  cívicos  do  Brasil  poderiam estar sendo utilizados com  a  finalidade  precípua  de  induzir  o  cidadão brasileiro à   passividade  política, assim reforçando os   mitos   de   autoctonia, nacionalismo e  igualdade” e  promovendo  a  reprodução  de  uma  elite  social  e manutenção  do “status  quo”.

Nada mais parecido com o que pode ser interpretado como ilação do poema que costumamos cantar e ouvir, com justo amor cívico, mas, tanto quanto os autores do hino e quem os institucionalizou, nos anos 1890 e 1922, longe de se imaginar que suas estrofes poderiam esconder os lamentáveis fatos que estariam contidos em suas letras. Poetas e trovadores exprimem a beleza de suas criações, com as mais lindas palavras que possam, emprestando a elas as conotações e sentidos que traduzam estados de espírito e paixões enrustidas. Quaisquer semelhanças sempre serão meras coincidências com fatos e atos de qualquer natureza, como no caso.

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