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Maria é modelo de empoderamento para mulheres

Características como bondade, humildade e resiliência chamam a atenção de quem defende a causa social das mulheres

Tainá Cavalcante

"Maria é um arquétipo, um modelo ideal de feminino, de mulher e mãe. Dentro da interpretação prioritária da Igreja, Maria é exemplo a ser seguido. Características como a bondade, a humildade, a resiliência em aceitar ser a escolhida, não questionar as decisões divinas, ser também uma esposa exemplar e uma mãe que cumpriu seu dever por mais difícil que tenha sido reforça certa definição de papel social da mulher, em que ela é submissa e seu papel de mãe é naturalizado como algo inato, instintivo. No entanto, Maria também é reconhecida pela força, e por ter agência sobre suas escolhas, por ter rompido com regras de sua época". Isso é o que aponta a antropóloga Mariana Ximenes, que tem como tema de sua tese a religiosidade paraense através do Círio de Nazaré.

De acordo com ela, é essa segunda visão de Maria, como a figura que rompe as regras de sua época, que vem sendo ressaltada em leituras nas quais a Virgem é colocada como protagonista. "A Igreja Católica procura controlar o alcance de Maria para que não se torne 'maior' que o de Jesus, sendo ela uma mediadora apenas, mas a interpretação que os devotos fazem de Nossa Senhora, e isso é intensificado quando se trata da religiosidade paraense em relação a Nossa Senhora de Nazaré, é que ela é, em alguma medida, a divindade mais importante (ainda que haja a compreensão de que Deus está acima), e que ela 'resolve', 'cuida', ao mesmo tempo em que é humana, parceira, amiga, próxima", comenta.

Para Ximenes, essa associação ocorre pelos papéis de mulher e mãe que Maria ocupa, de quem teve a coragem de aceitar conceber o filho de Deus e do sofrimento de ver o filho morrer. Isso faz, para a pesquisadora, que Maria tenha características humanas, o que explicaria a intimidade projetada por outras mulheres em sua figura, ao mesmo tempo em que a enxergam como poderosa.

Jornalista e devota de Nossa Senhora de Nazaré, Brenda Taketa diz que enxerga a Virgem como "uma figura muito forte, que democratiza a fé". "Ela é forte como as mães solteiras, as que sofrem dores inomináveis da perda dos filhos, as mulheres, que ainda que sob todas as condições de opressão, mantêm a fé, a capacidade de serem solidárias, de ajudar umas às outras", opina Brenda, destacando que, em virtude disso, mesmo sendo uma forte representação da igreja, Maria também representa o "poder e potência que há nas mulheres e nas relações entre elas".

"Tem um trecho em Belém do Grão-Pará, romance de Dalcídio Jurandir em que a Mãe Ciana, uma personagem negra, trabalhadora, erveira e capaz de fazer uma revolução, de tão forte, tem visões dos ancestrais indígenas e negros durante o Círio enquanto a Santa chega na Sé. Acho que isso conta muito do quanto as mulheres têm uma relação muito particular com a santa: porque ela também é mãe (e foi mãe solteira), pobre, cuja família foi constituída por laços além da consanguinidade e que perdeu um filho de forma brutal (como tantas mães perdem os seus em chacinas, por exemplo)", analisa Brenda, que ainda situa que, na Amazônia, Maria assume feições particulares de tanta mulheres "que encontramos nas periferias, no interior, ainda que as que são parte das classes médias também as cultuem".

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Círio
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