Círios antigos alimentam a esperança

HISTÓRIAS – Devotos de muitos anos relembram fatos que ligam a fé em Nossa Senhora de Nazaré à superação das dificuldades da vida

VALÉRIA BARROS
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Memória e felicidade resgatam Círios passados, lembranças afetivas de um tempo diferente, onde estão guardados para sempre os abraços da confraternização em dias mais felizes, refúgios seguros contra a Covid-19.

Eunice de Jesus Rodrigues da Costa, 91 anos, lembra que seus pais e o marido, Luís Eugênio, eram portugueses. Ela se casou aos 19 anos e se mudou para a Casa Combate, na Rui Barbosa, esquina com a av. São Jerônimo, hoje Governador José Malcher.

“A Santa passava lá no trajeto do Círio, daquela época. Falo de 1955, ano em que minha terceira filha nasceu, bem na hora em que a Santa passava. Quando o médico disse que tinha nascido e era menina, eu ouvia pela janela a reza da procissão que vinha de fora. Dei o nome de Maria de Nazaré, e eu pedi logo à Virgem que cuidasse dela e de toda a família”, relembra, emocionada.

Com a terceira filha recém-nascida, ela se mudou para cuidar da Casa do Minho, um comércio na época.

“Foram tempos difíceis de adaptação.  A casa era bem pequena e simples, mas ainda assim eu sempre participava da peregrinação. Recebia e seguia com a imagem nas casas vizinhas durante as novenas. Com todas as dificuldades na época, sempre disse sim para Nossa Senhora, e Ela para mim”, garante a devota.

KIT

O Círio este ano vai ser diferente, mas a maniçoba e o pato de Eunice Costa estão garantidos. “Eu enfeito minha casa toda, bordo guardanapos, faço trabalho artesanal nos cartazes. É mais quem quer”, conta, sorrindo.

image Dona Eunice Costa (Akira Onuma / O Liberal)

“Como não poderemos reunir todos, farei um kit de comidas e brindes pra cada um dos meus filhos e netos. Eles têm se revezado pra me ver, nos finais de semana, durante as visitas em casa. E assim viveremos mais um Círio de amor, adaptado a essa difícil realidade pela qual estamos passando. Dessa forma, ninguém fica longe de mim e a gente evita a aglomeração”.

Pro Círio que vem, Eunice se diz esperançosa. “Eu acredito e peço a Nossa Senhora e ao menino Jesus um tempo de mais amor, onde a humanidade reze mais, sem se esquecer, também, de fazer a caridade. Tenho muita esperança em dias melhores”, conclui.

“AMIGO DA CORDA

Servidor público estadual, José Brito Gomes de Souza Júnior, 58 anos, acompanha a procissão desde criança. Os pais sempre foram muito devotos de Nossa Senhora de Nazaré e uma das lembranças felizes dessa época, viveu muito jovem.

“Minha primeira promessa foi para passar no vestibular. Eu tinha 17 anos e lembro que nessa época eu e mais umas sete pessoas criamos o primeiro grupo “Amigos da Corda”. Depois, outros com o mesmo nome surgiram, mas nós fomos os pioneiros. Acompanhamos juntos por 20 anos a procissão”, relembra, com alegria.

Ele mora em frente ao colégio Gentil Bitencourt e acompanha a saída da Santa na trasladação. "Este ano, o almoço em casa não terá convidados, só família, mas as celebrações não têm como passar em branco. Sempre vamos agradecer, pois a devoção é de coração”, garante Brito.

NOVENAS

A dona de casa Maria de Belém Monteiro, 69 anos, diz que receber a imagem em sua casa durante as novenas é o momento mais feliz do ano.

“Nossa Senhora é o mais importante de tudo. Todos os anos a gente enfeita a casa com flores, faz brindes, tudo com muito amor e alegria. E eu mais duas amigas fazemos a peregrinação de casa em casa, realizando as novenas. Só tenho lembranças boas de Círios passados”.

O marido, judeu, no início, não se envolvia com o Círio. “Mas Nossa Senhora é contagiante”, diz Belém.

“Hoje ele participa e comanda todos os jantares das peregrinações. Faz tudo com muita dedicação e me deixa sempre feliz! É uma verdadeira congregação. Tudo o que quero, entrego nas mãos de Maria de Nazaré, pois acredito que Ela é o caminho mais bonito para se chegar a Deus”.

Este ano, embora triste pelo Círio, sem as principais peregrinações, diz ter esperança que ano que vem tudo seja diferente.

“Foi um ano difícil, mas ainda assim temos a agradecer por nossa saúde. Só de não termos pego essa doença, já é muito merecimento. Minha esperança é que as pessoas saiam um pouco mais transformadas depois de tudo que sofreram. Esse mundo está muito perdido e as pessoas precisam urgente de mais amor, gratidão e sabedoria”, avalia Belém.

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