Governador do AM descarta lockdown e diz ser difícil conter variante do vírus

Uma das razões cogitadas para explicar a alta nos casos é a nova variante do vírus

Eduardo Kattah e Felipe Resk - AE

Mesmo diante de uma crise que culminou com desabastecimento de oxigênio em hospitais de Manaus, o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), disse em entrevista que não há possibilidade de decretar um lockdown no Estado. "Não tem isso vislumbrado no nosso horizonte. Não há condições de fazer um fechamento total", afirmou.

O Estado segue tentando se recuperar plenamente do desabastecimento de oxigênio, situação que surpreendeu o governo, segundo Lima. "A gente acabou sendo surpreendido porque há uma dificuldade de trazer oxigênio para o Amazonas", explicou, pontuando que os casos de covid-19 subiram vertiginosamente no início de janeiro.

Uma das razões cogitadas para explicar a alta nos casos é a nova variante do vírus, que foi detectada em pacientes do Estado. Com a decisão de transferir pessoas para receber tratamentos em outras partes do País, criou-se o receio de que a nova variante também chegue a essas localidades. Sobre isso, o governador disse que não há muito a ser feito. "Evitar que a cepa saia daqui é muito difícil, muito complicado. Só se a gente fechasse tudo e impedisse que as pessoas entrassem ou saíssem do Estado."

Confira a seguir a entrevista completa com o governador Wilson Lima.

Hoje, a nossa situação é bem delicada. Os números aumentaram significativamente e já são muito superiores aos do mês de maio. Nós fizemos um plano de contingência levando em consideração o que havia acontecido nesse período. Hoje há o dobro de internações em unidades hospitalares e a gente tem esse problema do abastecimento do oxigênio. A elevação da curva de forma vertical acabou superlotando a nossa rede hospitalar.

No mês de maio nós tínhamos um consumo de 15 mil m³ de oxigênio e, em 30 dias, dobrou para 30 mil, mas nós conseguimos suportar o abastecimento.Desta vez, em menos de 15 dias saiu de 15 mil m³ para 75 mil m³, foi um aumento exponencial. A informação que a gente tem é de uma nova cepa, uma nova variante do vírus que está em circulação no Estado, que tem um poder de infecção muito maior, muito superior àquele primeiro vírus que foi identificado aqui.

Todas as medidas que nós tomamos foram baseadas em avaliações técnicas, levando em consideração a dinâmica social. No ano passado, quando houve medidas mais restritivas, o nosso objetivo era evitar aglomerações. E isso teve um efeito contrário, porque as pessoas foram às ruas: comerciantes, trabalhadores, todo mundo ali defendendo seu emprego, sua atividade econômica, e com razão.

A gente teve de entrar em um consenso para tirar o máximo possível as pessoas das ruas. Então, o efeito era mais danoso naquele momento porque as aglomerações estavam se formando. E, aí, a gente reviu a decisão para encontrar um equilíbrio entre a proteção da vida e também o mínimo de atividade econômica em funcionamento.

Há um mês, pelo menos, temos uma equipe do Ministério da Saúde aqui, juntamente com a Opas, além de técnicos do Sírio-Libanês. E nos ajudou com o envio de equipamentos, como monitores, respiradores, bombas de infusão, nos emprestando aqui experiências, nos ajudando a montar protocolos, práticas médicas, o manejo com o paciente. O governo federal tem sido decisivo, neste momento agora, para conseguir oxigênio com os transportes que têm sido feitos pelos aviões da Força Aérea Brasileira e também com a aquisição de mini usinas (para a produção de oxigênio) que devem ser instaladas em unidades hospitalares para ajudar a diminuir a pressão sobre a rede.

Em nenhum momento, o Estado do Amazonas cogitou a possibilidade de fazer lockdown. Não tem isso vislumbrado no nosso horizonte. Não há condições de fazer um fechamento total, principalmente por conta da nossa dinâmica social. Seria ineficiente. Também pela limitação que nós temos das nossas forças armadas de fazer toda a fiscalização e todo o acompanhamento do fechamento. Essa possibilidade não passa pela nossa cabeça.

Evitar que a cepa saia daqui é muito difícil, muito complicado. Só se a gente fechasse tudo e impedisse que as pessoas entrassem ou saíssem do Estado. E muito provavelmente esta cepa já deve estar circulando em todo o País. A gente não tem informações se ela surgiu aqui ou se foi trazida de algum lugar, se veio da África, da China ou dos Estados Unidos. Com relação à transferência dos pacientes, está seguindo todos os critérios de isolamento e protocolos médicos para que não haja contaminação. Estamos tendo todo o cuidado, juntamente com o Ministério da Saúde, para que efetivamente essas viagens e internações sejam seguras.

No primeiro momento, estávamos transferindo pacientes moderados, que estavam conscientes. Agora, estamos trabalhando a possibilidade de transferência de recém-nascidos para que eles não corram o risco de, em algum momento, ficar sem oxigênio. Essas são tratativas já feitas com o Ministério da Saúde, que inclusive já garantiu leitos para esses recém-nascidos.

Em relação à questão do tratamento precoce e medicação que será administrada no paciente nos primeiros dias de sintomas, isso depende da avaliação do médico. Ele que vai decidir como fazer esse tratamento precoce, levando em consideração o quadro clínico do paciente e em que dia ele está da doença. O paciente também decide se vai tomar aquela medicação ou não. Eu, enquanto governador, tenho que garantir que esses medicamentos estejam à disposição. Se é medicamento A, B ou C, ainda há muitas divergências. O que a gente tem que fazer é ter esses medicamentos à disposição para que o médico decida, juntamente com o paciente.

Há uma orientação do Ministério da Saúde neste sentido, nós vamos seguir a orientação do Ministério da Saúde, mas essa decisão de administrar essa medicação é do médico, do profissional que avalia o paciente. E eu tenho aqui hoje à disposição esses medicamentos. Hoje a nossa central está abastecida de todos aqueles outros insumos que são necessários para o tratamento da covid-19.

Esses estudos, naturalmente em sua maioria, são feitos pela Fiocruz. A gente tem se preocupado muito mais na questão da assistência, que é o que temos nos focado. E na prática médica de manejo do paciente para o atendimento inicial e na evolução dele quando está internado.

Nós tivemos a informação que teríamos problemas com o abastecimento de oxigênio na última quinta-feira, 7, quando começamos a nos mobilizar para que balsas e carretas viessem para o Amazonas trazendo esse quantitativo para que pudesse complementar a produção que é feita aqui no Estado.

Esse pico agora, essa onda que estamos enfrentando, é muito superior àquela que enfrentamos em maio. O que acontece: a usina que funciona aqui produz e entrega o oxigênio, ela não tem esse oxigênio armazenado. Ela não produz uma quantidade significativa porque há uma perda de oxigênio. Quanto mais tempo o oxigênio fica armazenado, mais perda tem, então acaba sendo um prejuízo para a empresa.

Eu imagino que a empresa não produz em grandes quantidades porque não havia consumo e não havia essa demanda. Inclusive, a empresa em algum momento chegou a cogitar a desativação de algumas estruturas porque não tinha demanda para isso. E, de repente, essa demanda subiu significativamente. Aí, a gente acabou sendo surpreendido porque há uma dificuldade de trazer oxigênio para o Amazonas. A maneira mais rápida de chegar aqui é através de grandes aeronaves e aeronaves despressurizadas. Há todo um procedimento para que efetivamente isso aconteça. Um avião Hércules, da FAB, traz algo em torno de 5,2 mil m³, o que é muito pouco diante da necessidade. Para se ter uma ideia da dificuldade, para se trazer de balsa, uma quantidade maior, 30 mil litros por exemplo, são cinco ou seis dias. Então, a partir de amanhã, começam a chegar as balsas que partiram de lugares onde tinham uma quantidade maior de oxigênio.

Essas questões mais técnicas sobre aditivos, contratos e licitação, são questões que eu não trato. É pela nossa secretaria e eu os coloco, os técnicos da área da saúde, para lhe passarem mais informações sobre essas questões contratuais.

Eu já conversei hoje com pelo menos 15 governadores e todos eles muito solidários, oferecendo inclusive leitos clínicos, leitos de UTI, além da disponibilização de oxigênio. Há a mobilização de artistas, personalidades públicas, influenciadores digitais. Amanhã a gente recebe uma carga maior de oxigênio e a gente já começa a fazer essa normalidade de abastecimento.

Já foram transferidos 40 pacientes (nesta sexta-feira, 15), 20 pela manhã e outros 20 pela tarde, para Teresina e São Luís. A gente tem uma oferta de até 750 leitos disponíveis para fazer essas transferências e vamos fazê-las à medida em que a gente sentir a necessidade.

Eu queria agradecer ao apoio da imprensa que é sempre importante neste momento. Nós estamos em uma guerra e só venceremos se houver a união de todos. Estamos diante de uma crise sanitária sem precedentes na história. De ontem para hoje nós vivemos os dias mais tristes do Amazonas. Nunca imaginei que fosse viver um momento como esse, ainda mais na condição de governador. É um momento bem difícil, bem complicado para o Estado do Amazonas. Nossas equipes estão muito exaustas, os profissionais da saúde estão exaustos, trabalhando muito para que a gente possa superar esse momento e estamos trabalhando praticamente 24 horas para que o mais rápido possível nós tenhamos de volta a nossa normalidade.

 

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