UFPA diz que não há como afirmar que Belém está em curva de queda da covid-19

Nota técnica diz que isolamento é única opção agora. Estudo aponta que número de infectados pode ser 10 vezes maior

Dilson Pimentel
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A Universidade Federal do Pará (UFPA) afirmou esta segunda-feira (1), em nota técnica divulgada à noite, que estudos sobre monitoramento da pandemia do coronavírus no Estado apontam que o número de infectados em Belém pode ser até dez vezes maior que os registrados pelos dados oficiais e que, ao contrário do que afirmam autoridades de saúde do governo estadual e municipal, a curva da pandemia não entrou ainda em queda. Assim sendo, a única opção atual para se evitar de forma mais segura a propagação da covid-19 é a manutenção rígida das medidas de isolamento social no Pará. 

Segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde do Pará (Sespa), Belém soma hoje, oficialmente, um total de 12.228 casos e 1.343 mortes registradas desde o início da pandemia no Estado, em 18 de março. O índice de letalidade na capital é de 10.98% na capital.

“À luz do exposto, entende-se que, a partir dos dados oficiais, tomando-se como  referências os mais relevantes estudos realizados no Brasil e internacionalmente, não há como afirmar inequivocamente que o Pará ou a região metropolitana de Belém esteja  já na curva descente da pandemia. Assim, com base na prudência, em não havendo vacina ou medicamentos comprovadamente eficazes, a única estratégia para desacelerar  a pandemia continua sendo o isolamento social”, afirma a nota técnica da UFPA sobre o panorama epidemiológico da covid-19 no Estado, publicada ontem

"Não há como afirmar inequivocamente que o Pará ou a região metropolitana de Belém esteja já na curva descente da pandemia. Assim, com base na prudência, em não havendo vacina ou medicamentos comprovadamente eficazes, a única estratégia para desacelerar a pandemia continua sendo o isolamento social”, afirma a nota técnica da UFPA

UFPA se posiciona a pedido de ministérios públicos 


A nota foi elaborada para prestar informação científica à sociedade, em resposta da UFPA a solicitações dirigidas pelo Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) e pelo Ministério Público Federal (MPF). O texto, elaborado pelo Grupo de Trabalho (GT) da UFPA sobre o novo coronavírus, foi analisado e aprovado, por unanimidade, em reunião na tarde de segunda-feira (1).

A nota técnica foi apresentada pelo Laboratório de Tecnologias Sociais do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica da UFPA, em parceria com pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), que avalia o atual cenário da pandemia de covid-19 no Brasil. O texto dá destaque para o Estado do Pará.

Uma das conclusões da nota técnica é que, “diante dos atuais achados de pesquisas relevantes, notadamente a realizada pela  UFPel (Universidade Federal de Pelotas), que se baseia em amostragem e testagem, e que estimado com um importante grau de confiança estatística", é razoável supor-se que a população de infectados das cidades experimentadas, incluindo Belém, de fato se aproximem dos números estimados pela UFPel.

"Sendo assim, esse parâmetro, com uma probabilidade bastante razoável, [mostra que] estaria subestimado para a média brasileira em até 7 (sete) vezes e para Belém em até 10  (dez) vezes. Portanto, não é razoável admitir-se que as políticas públicas tomem como  base exclusivamente os dados oficiais (notoriamente subnotificados), sob pena de  planejar o sistema já em níveis de colapso”, reitera a UFPA.

A Secretaria de Saúde Pública do Estado do Pará (Sespa) confirmou, em boletim no início da tarde desta terça-feira (2), mais 22 novos casos e outros seis óbitos relacionados à covid-19 nas últimas horas. A Sespa incluiu ainda nesse novo boletim mais 1.118 casos e outras 64 mortes, registrados em dias anteriores - e, segundo diz a Sespa, de dados referentes ao esforço de inclusão de  subnotificação de casos junto às prefeituras em todo o Estado. Desse modo, são mais 1.140 e outras 70 mortes registradas no Pará apenas no primeiro boletim lançado nesta terça. Segundo a Sespa, agora são 42.347 casos e 3.110 óbitos no Pará. O detalhamento de casos e óbitos, com gênero, idade e cidade, está disponível no Portal Transparência Covid-19, mantido pelo governo do Estado.

 

 

"Sendo assim, estaria subestimada a média [de casos de covid-19] em até sete vezes [maior para o Brasil] e em até dez vezes [maior para Belém]. Portanto, não é razoável admitir-se que as políticas públicas tomem como base exclusivamente os dados oficiais subnotificados, sob pena de planejar o sistema já em níveis de colapso”

image Comércio esta terça: UFPA alerta para riscos da flexibilização (Igor Mota / O Liberal)

Casos nos próximos 40 dias serão referentes à data atual


Em outro trecho, a nota técnica publicada esta segunda-feira pela UFPA sobre o quadro epidemiológico da covid-19 no Pará afirma que “não é razoável, sob o ponto de vista estatístico, assumir eventuais decréscimos das curvas de infectados e de óbitos, tendo-se uma defasagem de ordem de dezenas de dias".

Segundo a UFPA, bastaria extrapolar essa tendência para o futuro. Assim, pode-se dizer que "é impossível estimar que não haverá casos, nos próximos 30 ou 40 dias, que sejam referentes à data atual". A nota técnica reitera: "significa afirmar que os valores aferidos hoje terão que ser  acrescidos de valores ocorridos no tempo futuro, numa espécie de estoque de casos de  infectados e óbitos, com um alto grau de aleatoriedade associado”.

A nota técnica da UFPA diz ainda que, eventualmente, as secretarias municipais poderiam abreviar esses tempos  envolvidos entre a notificação primária e a consolidação dos dados pela Sespa (Secretaria de Estado de Saúde) e pelo  Ministério da Saúde. “Há relatos de secretarias, como a de Belém, de que isso é possível.  Entretanto, mesmo sendo possível, não é o que é efetivado atualmente por nenhum dos municípios do Pará”, afirma.

Defasagem inclui testagem


Segundo diz a UFPA, entende-se então que, pela falta de testagem e pela dinâmica imposta pelos protocolos de mortes potencialmente associadas à covid-19, há pouquíssimo tempo  (questão de poucas horas) para realização de teste de confirmação, o que, em larga  escala se torna inviável, a menos que se tenha testado ainda em vida. "Como tal fato não é o padrão constatado, é muito provável que se conviverá com a subnotificação como uma realidade factual”, acrescenta o GT da UFPA.

Com relação aos parâmetros da própria doença, diz a UFPA, é ponto pacífico que se conhece muito pouco acerca da mesma. Sendo assim, aletra o GT, "assumir valores voláteis como definitivos é um raciocínio anticientífico, que pode condenar grande parte da população a contrair a  doença e em proporções indefiníveis".

Assim, lembra a UFPA, fatores como o número médio de contágios causados por cada pessoa infectada, sobre o ciclo da doença, sobre a imunidade, o período de incubação e o número de assintomáticos, não estão claramente definidos internacionalmente. Segundo a nota, isso leva à constatação de que "qualquer suposição  acerca do comportamento da doença tomado como uniforme seja mera especulação e não deva ser considerado, de maneira segura e responsável, por gestores públicos em  suas tomadas de decisão”.

image Movimento voltou a crescer na ruas de Belém (Igor Mota / O Liberal)

Resultados são para Região Metropolitana de Belém


A nota técnica afirma que, à luz do exposto, entende-se que, a partir dos dados oficiais, e tomando-se como  referências os mais relevantes estudos realizados no Brasil e internacionalmente, "não há como afirmar inequivocamente que o Pará ou a Região Metropolitana de Belém esteja já na curva descente da pandemia".

A nota lembra que os resultados apresentados foram obtidos para a Região Metropolitana de Belém, formada por sete municípios do Pará - Ananindeua, Belém,  Benevides, Castanhal, Marituba, Santa Bárbara do Pará e Santa Isabel do Pará. Juntos, reitera a nota técnica, eles reúnem uma população em torno de 2.459.321 habitantes, segundo dados do  IBGE de 2019. De acordo com o CNES/DATASUS atual (2020), a RMB conta com um  total de 4.383 leitos hospitalares, entre leitos clínicos, cirúrgicos e complementares  (incluindo UTIs). "Portanto, a RMB conta em média com 1,78 leitos para cada mil  habitantes, número abaixo da média nacional, que é de 1,95 leitos para mil habitantes,  segundo a Federação Brasileira de Hospitais (FBH) e Confederação Nacional de Saúde  (CNS)".

"É muito provável que se conviverá com a subnotificação como uma realidade factual. [...] É ponto pacífico que se conhece muito pouco acerca da covid-19. Assumir valores voláteis como definitivos é um raciocínio anticientífico, que pode condenar grande parte da população a contrair a doença e em proporções indefiníveis", diz o GT da UFPA

Os dados utilizados na pesquisa foram extraídos do Sistema de Informação de  Mortalidade (SIM) do DATASUS, que representa o sistemas para a obtenção  regular de dados sobre mortalidade no Brasil, para subsidiar as diversas esferas de  gestão na saúde pública.

O grupo lembra que foram extraídas informações dos anos de 2010 a 2018, de todos as capitais dos estados brasileiros. É importante registrar que os dados do SIM não são atualizados constantemente, de tal forma que o ano de 2019 ainda não está  disponibilizado.

Procurada pela redação integrada de O Liberal, a Secretaria de Estado de Saúde (Sespa) informou na manhã desta quarta (2) que "ainda analisa o estudo" que embasou as medidas de flexibilização no Pará. A Sespa diz também que as regiões que o governo flexibilizou tiveram sete casos confirmados de covid-19 e um óbito, nas últimas 24 horas. "O governo lamenta e se solidariza com familiares e amigos" disse a nota da Sespa. A secretaria voltou ainda a reafirmar que "todas as decisões e dados epidemiológicos estão baseados na análise realizada pela Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) com técnicos da Universidade Federal do Pará (Ufpa)".

 

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