Uepa deve perder 67 bolsas de mestrado após anúncio de congelamento

O corte não teve critérios por área ou qualidade do curso

João Thiago Dias

Com o anúncio do congelamento de 5.613 bolsas de pós-graduação stricto sensu no país a partir deste mês, pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, vinculada ao Ministério da Educação (MEC), um total de 67 bolsas de mestrado da Universidade do Estado do Pará (Uepa) devem ser cortadas a médio prazo.

A perda deve ser de 100% na medida em que os pesquisadores forem se formando. A lista inclui os cursos de Biologia Parasitária (18 bolsas), Ciências Ambientais (20), Ciências da Religião (11), Educação (10), Enfermagem (7) e Geografia (1).

Elas seriam ofertadas após a conclusão da formação dos atuais estudantes que as recebem. Conforme o protocolo normal, elas voltariam para o sistema para serem repassadas a novos alunos. Mas, com o corte, deixarão de ser reativadas. O corte não teve critérios por área ou qualidade do curso.

De acordo com o pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da Uepa, professor Renato Teixeira, já existe um grande temor de que muitos estudantes desistam da formação.

"Alunos de pós-graduação para desenvolverem sua pesquisa, necessitam tempo integral, com isso não podem trabalhar. A bolsa representa, então, o salário do aluno. Muitos não tem ajuda dos pais ou outra pessoa e necessitam desse dinheiro para sobreviver e usar na pesquisa. Sem bolsa tememos que alguns alunos tenham que largar a pós".

Ele também explica que essas desistências devem impactar negativamente na avaliação de cada curso. "Com isso, o programa é penalizado, pois isso impacta na nota do curso perante a Capes, uma vez que um dos critérios na avaliação é a regularidade dos alunos e o não abandono".

No anúncio oficial, a Capes afirmou que, a partir da ação de congelamento, a parcela principal dos benefícios foi preservada, assegurando-se o pagamento de todas as bolsas ativas. Ainda segundo o anúncio, a medida representa uma economia de R$ 37,8 milhões em 2019, podendo chegar a R$ 544 milhões nos próximos quatro anos. 

"Da forma como está colocado no ofício da Capes, entende-se que, no momento em que um aluno for defendendo sua tese, não será possível substituir o aluno que recebe a bolsa por outro. Então, impactará em todas as bolsas e médio prazo, a não ser que a situação se resolva", detalhou o professor.

"Ao passarem na seleção, todos tem a expectativa de que, em algum momento, iriam receber a bolsa, aguardando a defesa para haver a substituição. Alguns programas tem um calendário de defesa, então, naquele mês é feito a substituição. Em outros, o cronograma de defesa é variável e as substituições são feitas mês a mês", pontuou o professor Renato Teixeira.

Mestrandas de enfermagem estão desmotivadas 

O sonho de se formar pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, no mestrado associado da Uepa e Universidade Federal do Amazonas, se tornou um desafio quase impossível para a ribeirinha Ana Paula Rezendes, de 36 anos. Ela se formou em enfermagem no fim do ano passado e já contava com a bolsa no valor de R$ 1.500 que começaria a receber a partir deste mês.    

image Ribeirinha Ana Paula Rezendes conta que está desmotivada com o risco de não poder bancar seu mestrado de enfermagem sem bolsa (Fábio Costa / O LIBERAL)

"É fundamental a bolsa para a pesquisa ser realizada, pois financiá-la é muito caro. Exemplo são os gastos de viagens para apresentar trabalho em congresso, que são exigidos para a formação. Sou de baixa renda, consegui isenção para me inscrever para concorrer à vaga do mestrado. Foi muito esforço para passar. As aulas começaram em setembro. Teria a possibilidade de conseguir a bolsa, mas corro o risco de ficar sem durante dois anos de curso. É quase impossível. Fiquei um pouco desmotivada porque estou sem emprego. Situações como essas levam muita gente a desistir", lamentou. 

Ana Paula cogita vender brigadeiro para se manter na pós-graduação. "Sou filha de pais falecidos. Fui criada por um tio desde os dez anos de idade. Mesmo com todas as dificuldades impostas na vida conseguir chegar a universidade e entrar no mestrado. Sou ribeirinha com orgulho! Sou da zona rural do município de Irituia e comecei enfermagem em Conceição do Araguaia. Terminei em Belém. O jeito vai ser vender brigadeiro e contar com ajuda da família. Porque estou morando de aluguel na cidade. Isso dificulta tudo".

Ao todo, o mestrado em enfermagem conta com sete bolsas entre 09/2019 a 08/2020. A enfermeira Dayara Carvalho, de 35 anos, também ingressou na turma deste ano com medo dos desafios que devem surgir sem a bolsa. "Moro de aluguel com minha mãe em Marituba. Eu que sustento a casa. Vira a mexe aparece a ideia de desistir do mestrado, por mais que eu seja apaixonada pela área", disse. 

"É difícil continuar no programa de mestrado, porque largamos tudo para ter dedicação exclusiva às aulas. E eu teria direito à bolsa. Mas vai ser o jeito eu procurar dar aulas em curso técnico à noite para tentar me manter. E empresa nenhuma vai contratar para meio período. Isso mexe até com o psicológico da gente. Todo o nosso planejamento se torna quase inviável", finalizou Dayara

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