Passageiros reclamam da demora dos ônibus na Grande Belém

Carregando a filha de sete meses no colo, e sob o sol forte de 9h30, Débora Ferreira caminhou um quilômetro até chegar à parada de ônibus no bairro da Brasília, em Outeiro. Depois, ainda guardou por um bom tempo pelo coletivo que a levou até o centro de Belém. Pescadora de 23 anos, ela foi fazer compras na avenida Presidente Vargas. "Vou chegar quase uma hora da tarde lá. É que, no caminho, vai parando muito", detalha. "A dificuldade é a demora, que é longa. Muita das vezes, você consegue pegar o ônibus, mas não chega no local no horário certo. Quando chega na barreira [da Polícia Militar e que há em Icoaraci], eles 'pifam'. É um verdadeiro sofrimento. Aqui é um caos", lamenta.

Débora mora no "finalzinho" da avenida BL 10, em Brasília. "Às vezes, a gente passa meia hora na parada esperando. Às vezes, a gente chega e tá saindo. Tem que preparar o espírito para esperar o ônibus", contou. Sobre o horário que retornaria para a sua residência no dia em que nossa reportagem a encontrou, ela estimou com desânimo: "Acho que só a tardinha que vou chegar em casa pra descansar com a minha filha. Pra voltar, é o mesmo sacrifício. Muitas das vezes, a gente tem que pegar uma outra condução pra descer em Icoaraci, pra, então, pegar uma van pra poder chegar aqui".

"A dificuldade é a demora, que é longa. Muita das vezes, você consegue pegar o ônibus, mas não chega no local no horário certo. Eles 'pifam'. É um verdadeiro sofrimento. Um caos", lamenta a pescadora Débora Ferreira, de Outeiro

Débora Ferreira e sua filha: "é preciso novas linhas" (Igor Mota)

Para melhorar a vida dos usuários que moram em Outeiro, a saída apontada por Débora e por outros usuários é "entrar novas linhas de ônibus". Hoje, esse transporte é feito por apenas uma empresa, a Belém-Rio, que é alvo de constantes reclamações dos passageiros. A empresa, aliás, nunca se manifesta sobre as reclamações dos passageiros.

Três horas de antecedência para ir ao trabalho

Na avenida BL 10, os usuários dizem que o problema maior é o ônibus que segue até a avenida Presidente Vargas. Segundo eles, a demora à espera desse veículo leva até uma hora. Outros passageiros disseram que, quando saem de Outeiro, o ônibus, agora, para no Terminal de Integração Maracacuera, que acabou de entrar em operação. Essa parada, dizem, atrasa ainda mais a viagem. Quem mora no residencial Quinta dos Paricás, na estrada do Maracacuera, em Icoaraci, também se queixa da precariedade do transporte público. O ponto de ônibus que há no conjunto está, aliás, cercado de mato.

Para que possar chegar a tempo em seu trabalho e em outros compromissos pessoais, os passageiros chegam bem mais cedo na parada de ônibus. O operador de caixa Rodrigo Silva, 24 anos, que mora naquele residencial, foi para a parada de ônibus pouco depois das 8h. Detalhe: ele entra no trabalho, na avenida Visconde de Souza Franco, no centro da cidade, às 11h. Tamanha antecedência é exatamente para não chegar atrasado no emprego.

"A dificuldade é a demora dos ônibus. Agora, só estamos com dois ônibus", afirmou. "Tem que acordar cedo. Eu pego 11h, mas estou aqui desde as 8h. E, nos finais de semana, e feriados, que não tem fiscal aqui, aí mesmo é que não aparecem os ônibus". Silva diz que desce na avenida Almirante Barroso, onde apanha outro ônibus. Geralmente, chega ao local de trabalho por volta das 10h30. E sua jornada termina às 23h. "Aí, pra voltar, não tem como mais. Tem que pegar mototáxi. Isso todo santo dia", afirmou ele, destacando que esse é um gasto a mais no já apertado orçamento. "É R$ 5 [o mototáxi]. Mas, à noite, às vezes cobram mais. R$ 7 pra voltar".

De ônibus em ônibus para chegar ao destino

Também morando no "Quinta dos Paricás", Luana Nascimento, 29 anos, disse que, quando precisa levar o filho ao médico, no centro da cidade, chega bem mais cedo à parada de ônibus, pois o tempo de espera é de quase uma hora. "Aí, tenho que pegar dois ou três ônibus", afirmou ela, que atualmente está desempregada.

"A gente precisa do Ver-o-Peso, Presidente Vargas, Pedro Miranda. A gente não precisa só de São Brás e, sim, de vários tipos de ônibus", afirmou, informando que os ônibus só vão até São Brás. "Isso quando não dão prego no meio da rua. Aí, lascou-se, pois a gente tem que descer e esperar outro", lamenta. "Tinha que ter mais ônibus".

Para o coordenador da Associação dos Usuários do Trânsito e Transportes no Município de Belem (Autrabel), Leandro Borges, "o serviço do transporte público tem que melhorar e muito. Não só em nossa cidade, mas na região metropolitana. Precisa melhorar de qualidade e na locomoção de seus usuários". E acrescentou: "Na hora do pico, as paradas estão todas cheias. O transporte que vem de Icoaraci demora uma hora pra chegar no Entroncamento. Depois, mais uma hora até São Brás. Isso é vergonhoso. E, no corredor da Pedro Álvares Cabral, é a mesma coisa. Não temos condições hoje de manter esse fluxo de carros nas vias de Belém. O trânsito tá uma vergonha. Isso demonstra a dificuldade dos usuários de se locomoverem para os seus locais de trabalho. Tem usuário que tem que sair de casa às 5h da manhã para pegar no trabalho às 7h. Tem gente perdendo emprego por causa desse trânsito", denuncia.

O operador de caixa Rodrigo Silva precisa sair muito cedo para o trabalho. "Pego [no emprego] às 11h, mas estou aqui [na parada em Outeiro] desde as 8h. Nos finais de semana e feriados, aí mesmo é que não aparecem os ônibus"

Moradores de áreas mais afastadas sofrem com lacunas no transporte (Igor Mota)

Prefeitura aponta melhorias no transporte

Apesar disso, a Prefeitura de Belém diz que os usuários estão levando menos tempo para se deslocar de sua residência até seus compromissos no centro de Belém. E que isso está sendo possível, há mais de duas semanas, quando passou a funcionar o Terminal de Integração Maracacuera, situado na confluência da avenida Augusto Montenegro com a estrada da Maracacuera,e m Outeiro.

Essas vantagens são possíveis, diz o poder público municipal, porque a Prefeitura de Belém está ampliando a oferta de coletivos que realizam integração ao Sistema BRT a partir do Terminal Maracacuera. No início do mês de novembro, o terminal passou a não só funcionar como ponto de partida dos ônibus articulados em direção ao terminal São Brás, mas também para a linha troncal Maracacuera – Presidente Vargas, que, como o nome sugere, sai do Terminal Maracacuera e segue até São Brás pela canaleta do BRT. De lá, segue itinerário até a avenida Presidente Vargas pela pista comum.

Outra linha troncal, Tapanã -Ver-o-Peso, segue uma programação parecida. Tendo como origem o bairro do Tapanã, o veículo entra na canaleta do BRT a partir do Terminal Tapanã, segue até São Brás para em seguida passar para a pista comum e fazer itinerário até o Ver-o-Peso.

Além disso, as linhas de ônibus que atendem a ilha de Outeiro foram transformadas em linhas alimentadoras, levando os moradores do distrito até o Terminal Maracacuera e retornando aos pontos de origem, não mais realizando itinerários até o bairro de São Brás ou ao centro de Belém. A primeira linha a operar dessa forma foi a Paricás/Águas Negras - São Brás, seguida pelas linhas Outeiro/Itaiteua - São Brás e Fama/Fidélis - São Brás.

Linhas troncais reforçam atendimento a Outeiro

Na segunda-feira (18), foi a vez da linha Outeiro/Brasília - São Brás integrar o Sistema BRT Belém, o que também possibilitou a ampliação do horário de funcionamento dos terminais e estações: a partir das 5h até as 23h30, de segunda-feira a sábado, para atender as linhas troncais.

Já os ônibus articulados do BRT continuam operando de 6h até 20h. Outra novidade é que todas as 18 estações e os quatro terminais de integração situados ao longo das avenidas Augusto Montenegro e Almirante Barroso estão em pleno funcionamento, possibilitando aos usuários mais opções de embarque e desembarque.

Todas essas novidades, ainda segundo a prefeitura, são mais uma etapa no caminho de uma mudança estrutural no sistema de transporte público de Belém, que avança para uma licitação com abertura prevista para janeiro de 2020.

"É importante ressaltar que a Prefeitura de Belém continua caminhando para a realização da licitação, inclusive estivemos com consulta pública aberta por 30 dias para receber contribuições da sociedade, após a realização de uma audiência pública no dia 30 de setembro, que contou com ampla participação popular. Ao finalizar o período de contribuições, estamos seguindo os trâmites legais para a realização da licitação", disse o diretor superintendente da Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana (SeMOB), Gilberto Barbosa.

"Nesse momento os moradores de Icoaraci e Outeiro podem ter uma experiência mais clara sobre como funcionam as linhas alimentadoras e linhas troncais padron e BRT, mas em breve essa experiência será ampliada para os moradores dos outros bairros de Belém", afirma Barbosa.